Mulheres que mudaram a história

Mulheres que mudaram a história


No coração de Londres existe um dos mais antigos e exclusivos clubes do mundo, o Garrick Club. Ao fim de 193 anos permitiu a presença de mulheres entre os seus ilustres membros. Uma decisão histórica… mas normal.


O imponente palácio onde “mora” o Garrick Club foi durante quase dois séculos um símbolo da supremacia masculina e um importante centro de influência que silenciosamente governava o país. A exemplo de outros prestigiados clubes em todo o mundo, o Garrick seguia uma regra antiga e arcaica de “men only”, que proibia a entrada a mulheres. Durante todo esse tempo esteve reservado a uma elite masculina composta por deputados, juízes, atores, músicos, jornalistas e até o Rei Carlos III tem assento num espaço que também foi frequentado pelo escritor Charles Dickens. Tem 1300 membros, a maioria entre os 50 e 70 anos, que pagam uma quota anual de 1.600 libras (1.900 euros) para se socializarem num ambiente de requinte e luxo. O reputado clube londrino não admitia mulheres entre os seus membros, mas permitia a sua presença desde que fossem convidadas de algum membro, mesmo assim com normas apertadas – «as mulheres nem podiam subir as escadas da frente ou jantar no salão principal», reza o retrógrado regulamento do clube. Esta regra foi contestada ao longo dos anos e a pressão da opinião pública e as acusações de misoginia forçaram a mudança. «O mais incrível é que são os políticos, juízes e membros do establishment que permitem a existência de clubes que excluem as mulheres», disse a empreendedora Emily Bendell, que levou o Garrick Club a tribunal por violar a Lei da Igualdade aprovada em 2010.

Em maio deste ano, a assembleia geral do clube aprovou a admissão de mulheres com 60% de votos, foi uma mini-revolução no universo fechado dos “old boys club”. Pela primeira vez desde 1831, duas mulheres de eleição, com trabalho relevante na Sétima Arte, foram aceites como membros do Carrick Club. As veteranas atrizes Judi Dench e Siân Phillips foram as primeiras mulheres a ingressar no clube que recebeu o nome do grande ator e dramaturgo do século XVIII David Garrick. Judi Dench, de 89 anos, é uma das atrizes inglesas mais premiadas, com um Óscar e sete nomeações, além de dois Globos de Ouro. Alcançou fama mundial pela participação em filmes da saga James Bond. Siân Phillips, de 91 anos, é uma atriz galesa bastante conhecida no teatro. No cinema contracenou diversas vezes com o seu marido Peter O’Toole e participou em filmes do realizador David Lynch. Segundo a imprensa inglesa, outras mulheres deverão ingressar no clube, caso da ex-ministra do Interior Amber Rudd e da jornalista Cathy Newman.

Na véspera da votação que aprovou o ingresso de mulheres, músicos, produtores e atores de teatro assinaram uma carta avisando que deixariam o clube caso não fosse aprovada a admissão de mulheres. Entre os signatários, estavam os músicos Sting e Mark Knopfler, o ator Stephen Fry, o produtor de teatro do West End e da Broadway Karl Sydow, e Matthew Byam Shaw, produtor da série televisiva “The Crown”.

Ilustres membros

O Garrick Club foi fundado em 1831 por um grupo de cavalheiros literários e tornou-se um local onde «atores e homens de refinamento e educação se poderiam encontrar em igualdade de condições». Além disso, «os patronos do teatro e seus professores deveriam reunir e ser promovidas relações fáceis entre artistas e mecenas». Os primeiros membros do Garrick era um grupo sofisticado e cosmopolita que incluía 24 homens da nobreza, bem como escritores, atores, músicos e editores. O clube possui uma importante biblioteca teatral que inclui muitos manuscritos e documentos, uma valiosa coleção de textos teatrais e dezenas de milhares de cartazes e programas teatrais. O maior tesouro do Garrick Club é a coleção de mais de 400 pinturas e desenhos teatrais, a maior e mais completa que existe. O clube oferece uma deslumbrante uma sala de refeições, um majestoso hall, bares, alojamento e salas de jogos.