As cicatrizes e Berlim


Pedaços do muro mantêm-se em pé a favor da memória e do sofrimento.


BERLIM – Na hora do adeus escrevo com música. “Like a ship in the night/You passed along the highways of my life/And now my mind you’re always in/And the ten-thirty flight will soon be headed my way/As she sails across the skyway of Berlin”. Em 1980 calcula-se que o concerto dos Barclay James Harvest tenha atraído cerca de 500 mil pessoas, embora a contabilidade oficial fosse de 175 mil para a polícia berlinense. Concert for the People, depois transformado em álbum com foto de capa de uma multidão frente ao Reichtag, foi um concerto contra e de encontro ao muro. Não se sabe quantos foram os que ouviram tocar Berlin do lado Leste, a canção vinda pelo céu sobre essa longa cicatriz que dividia a cidade. Ainda há cicatrizes em Berlim. Pedaços do muro mantêm-se em pé a favor da memória e do sofrimento. Um dia, com o meu querido amigo Francisco Assunção, que aqui vive há tantos anos, percorremos de carro esses pedaços de passado. E outra música soou-me aos ouvidos. A de Roberto Carlos que tanta gente cantou: “Eu sei que flores existiram/Mas que não resistiram/A vendavais constantes/Eu sei, as cicatrizes falam/Mas as palavras calam/O que eu não me esqueci”. Gosto de escrever com música. Gosto que ninguém se esqueça daquilo que as cicatrizes querem dizer, eu que tenho tantas na minha vida e me acordam durante a noite com gritos de aflição. Berlim sob um céu que chora. Gotas na vidraça da janela que dá para a estação dos comboios na qual desembarquei há três dias para o jogo final deste Europeu meio bisonho jogado num Verão feito Inverno maçador e triste. Não sei se daqui a dois anos estarei na América do Norte para mais um de tantos Mundiais ou se, daqui a quatro anos, estarei em Inglaterra para o meu nono Europeu. Sobra um adeus, agora dos Camel, com saudades de ti que magoam: “Long good-byes make me so sad/Forgive my leaving now/You know I’ll miss you so/And days we spent together…”

As cicatrizes e Berlim


Pedaços do muro mantêm-se em pé a favor da memória e do sofrimento.


BERLIM – Na hora do adeus escrevo com música. “Like a ship in the night/You passed along the highways of my life/And now my mind you’re always in/And the ten-thirty flight will soon be headed my way/As she sails across the skyway of Berlin”. Em 1980 calcula-se que o concerto dos Barclay James Harvest tenha atraído cerca de 500 mil pessoas, embora a contabilidade oficial fosse de 175 mil para a polícia berlinense. Concert for the People, depois transformado em álbum com foto de capa de uma multidão frente ao Reichtag, foi um concerto contra e de encontro ao muro. Não se sabe quantos foram os que ouviram tocar Berlin do lado Leste, a canção vinda pelo céu sobre essa longa cicatriz que dividia a cidade. Ainda há cicatrizes em Berlim. Pedaços do muro mantêm-se em pé a favor da memória e do sofrimento. Um dia, com o meu querido amigo Francisco Assunção, que aqui vive há tantos anos, percorremos de carro esses pedaços de passado. E outra música soou-me aos ouvidos. A de Roberto Carlos que tanta gente cantou: “Eu sei que flores existiram/Mas que não resistiram/A vendavais constantes/Eu sei, as cicatrizes falam/Mas as palavras calam/O que eu não me esqueci”. Gosto de escrever com música. Gosto que ninguém se esqueça daquilo que as cicatrizes querem dizer, eu que tenho tantas na minha vida e me acordam durante a noite com gritos de aflição. Berlim sob um céu que chora. Gotas na vidraça da janela que dá para a estação dos comboios na qual desembarquei há três dias para o jogo final deste Europeu meio bisonho jogado num Verão feito Inverno maçador e triste. Não sei se daqui a dois anos estarei na América do Norte para mais um de tantos Mundiais ou se, daqui a quatro anos, estarei em Inglaterra para o meu nono Europeu. Sobra um adeus, agora dos Camel, com saudades de ti que magoam: “Long good-byes make me so sad/Forgive my leaving now/You know I’ll miss you so/And days we spent together…”