Dizia que se acostumava cada vez mais com a ideia da morte, mas que adorava viver. Morreu na quinta-feira (20 de junho), em Miami, vítima de doença prolongada.
Dizia que falava demais em entrevistas e que contava muitas piadas, apesar de muita gente o considerar reservado e solitário. Tinha os olhos azuis cristalinos, o cabelo da cor do algodão, feições carregadas e um grande amor pela sua profissão. Provavelmente muita gente conhecê-lo apenas como o assustador ditador Snow de barba branca da saga de quatro filmes, The Hunguer Games. No entanto, ao longo da sua carreira de seis décadas, participou em 150 filmes deixando a sua marca bem vincada em Hollywood. Nunca se importou se fazia pequenos ou grandes papéis – nunca foi nomeado para os Óscares, mas recebeu um Óscar Honorário em 2017. Queria trabalhar e conseguiu fazê-lo quase até aos fim dos dias. Afinal, é isso que acontece com maior parte dos atores. Quando, em 2019, numa homenagem no Festival de San Sebastian, no País Basco, lhe perguntaram o motivo de continuar a trabalhar respondeu com humor: «Tenho muitas bocas para alimentar». Depois, explicou as verdadeiras razões para esse esforço: «A minha vida é trabalhar. O trabalho de um ator é trabalhar e esperar pelo papel seguinte». Recorde-se que na última década, o artista continuou ativo no cinema e na TV, participando em 15 produções, a última: Miranda’s victim, no ano passado, disponível na Netflix.
Numa outra entrevista à GQ em 2014 revelou que a palavra «morte» o perturbava, mas que ia ficando cada vez mais acostumado à ideia. «Tenho a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e a minha irmã em caixas aqui em casa (…) Gosto de tê-los aqui, mas a minha esposa gostaria que estivessem num lugar adequado», admitiu. «Mas não quero desistir de viver, porque gosto muito da vida e adoro trabalhar – não espero parar», acrescentou.
Passaram-se 10 anos e, agora, foi a sua vez de partir. «É com um coração pesado que vos digo que o meu pai, Donald Sutherland, morreu. Pessoalmente, acho que foi um dos mais importantes atores da história do cinema. Nunca assustado por um papel, bom, mau, ou feio. Ele amava o que fazia e fazia o que amava, e não dá para pedir mais do que isso. Uma vida bem vivida», anunciou o ator Kiefer Sutherland na quinta-feira, através das redes sociais. O seu pai tinha 88 anos e faleceu vítima de doença prolongada, em Miami. Ao longo da carreira, Sutherland deixou uma marca inconfundível tanto no cinema quanto na televisão, com performances que elevaram a imaginação do público em todos os cantos do mundo, em dramas, filmes de guerra, thrillers, terror e ficção científica.
Donald Sutherland nasceu no dia 17 de julho de 1935 em Saint John, no Canadá, filho de Dorothy Isobel e Frederick McLea Sutherland. Estudou na Universidade de Toronto e formou-se com uma graduação dupla em engenharia e artes dramáticas. Em 1957, deixou o Canadá e partiu para a Inglaterra, para estudar na Academia de Londres de Música e Arte Dramática. A partir do início dos anos 60, ganhou destaque em pequenos papéis em filmes e programas de televisão no Reino Unido. Mas foi em 67, no filme The Dirty Dozen, que o mundo se apaixonou por ele.