A temperatura aumenta e as praias portuguesas ficam repletas de banhistas, muitos dos quais acabam por ser picados por peixes-aranha, pequenos peixes acastanhados com espinhos venenosos no dorso e nos opérculos branquiais. Estes peixes escondem-se na areia, esperando pelas suas presas, e são frequentemente pisados inadvertidamente pelos banhistas, resultando em dor intensa, inchaço e hemorragia. Mas… O que devemos fazer se tal acontecer?
“Em primeiro lugar, devemos manter a calma e, se possível, pedir ajuda a um nadador-salvador. Se conseguirmos identificar os espinhos cravados na pele, devemos retirá-los o mais rapidamente possível. Em caso de hemorragia, devemos usar luvas e comprimir a área para extrair o máximo de veneno possível”, começa por explicar João Alves Mendes, cirurgião cardiotorácico que tem um consultório em Paço de Arcos (vila do concelho de Oeiras).
“Depois, temos de optar por uma das vias. A primeira pode ser mergulhar o pé em água quente (acima de 40°C), pelo menos, 30 minutos. O calor ajuda a decompor o veneno. Temos é de ter cuidado para não nos queimarmos”, continua o profissional de saúde. “Também podemos aproximar a ponta de um cigarro ou isqueiro a 2 ou 3 centímetros da área afetada para aliviar a dor e reduzir as toxinas. Andar na parte mais quente da areia, longe da água, pode ser positivo. Embora seja menos confortável, o calor da areia também pode ajudar a decompor as toxinas”, frisa, abordando também aquilo que devemos evitar. “Analgésicos em spray, como o cloreto de etilo, muitas vezes oferecidos por nadadores-salvadores, aliviam a dor inicialmente, mas não impedem que o veneno circule pelo corpo. Assim que o efeito passa, a dor e o mal-estar voltam”, aponta o médico, lembrando que “urinar sobre a picada é um mito, pois a temperatura da urina não é alta ao ponto de decompor o veneno”.
Além destes cuidados, às vezes é necessário procurar ajuda médica porque algumas pessoas podem desenvolver hipersensibilidade ao veneno, apresentando dores intensas, hemorragias e edema. “Os sintomas que se deve ter em atenção são as náuseas e tonturas, a dor intensa e persistente, mesmo após tratamento com calor, a febre persistente, os vómitos, as dores de cabeça, o suor excessivo (hipersudorese), a contratura muscular na área da picada e o espinho visível na pele”, adianta, explicitando que “quando as pessoas apresentam sintomas como falta de ar, perda de consciência, convulsões, manchas vermelhas na pele, inchaço com alteração da voz e dor no peito” devem procurar o serviço de urgência.
Cuidados com peixe-aranha e caravela-portuguesa são semelhantes, mas… E as orcas e os tubarões?
As caravelas-portuguesas, também conhecidas como Physalia physalis, são organismos marinhos pertencentes ao grupo das hidromedusas. Apesar de se parecerem com uma única criatura, na verdade são colónias de organismos especializados que funcionam de forma integrada. No fim de maio, o IPMA divulgou um comunicado a informar que o avistamento das mesmas tinha vindo a aumentar, junto à costa do continente, especificamente entre Espinho e Sines. “As caravelas-portuguesas possuem tentáculos longos e finos que podem atingir vários metros de comprimento. Cada tentáculo é repleto de células urticantes chamadas nematocistos, que contêm veneno. Quando um tentáculo entra em contacto com a pele humana, os nematocistos são ativados e injetam veneno, o que causa dor intensa e reações locais adversas”, adverte João Alves Mendes, declarando que a picada de uma caravela-portuguesa geralmente resulta em “dor imediata, que pode ser descrita como queimação ou ferroada”. A área afetada pode inchar, ficar vermelha e apresentar uma erupção cutânea.
Algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas graves às picadas de caravela-portuguesa. Tal pode incluir sintomas como dificuldade para respirar, náuseas, vómitos, erupções cutâneas generalizadas e até choque anafilático, uma reação alérgica grave que pode ser fatal se não for tratada rapidamente. “Em casos extremos, a picada de uma caravela-portuguesa pode levar a complicações sistémicas, como problemas respiratórios devido à inflamação das vias aéreas, alterações na pressão sanguínea e até insuficiência renal”, alerta o médico.
Quanto ao tratamento das picadas, é crucial remover os tentáculos da caravela-portuguesa sem usar as mãos (para evitar mais picadas) e de preferência com luvas ou uma pinça. Não devemos esfregar ou coçar a área afetada, pois isso pode ativar mais nematocistos. Lavar a área afetada com água salgada (do mar) pode ajudar a remover os nematocistos restantes e reduzir a dor. Aplicar vinagre na área afetada pode ajudar a neutralizar o veneno restante. “À semelhança daquilo que acontece com o peixe-aranha, se os sintomas forem graves, como dificuldade para respirar, dor intensa persistente, reações alérgicas graves ou sinais de choque, é essencial procurar atendimento médico imediato”, garante o médico, indicando que “podem ser administrados tratamentos como analgésicos, anti-histamínicos e, em casos mais graves, epinefrina para reações alérgicas severas”.
Naquilo que concerne as orcas e os tubarões, muitas são as notícias que circulam sobre os mesmos a cada verão. Por exemplo, em agosto do ano passado, era noticiado que dois veleiros haviam ficado sem leme após ataques de orcas em Sesimbra e Sines. Soube-se que ambas as embarcações tiveram de ser rebocadas pelo Instituto de Socorro a Náufragos, mas os tripulantes não tiveram necessidade de assistência hospitalar. As orcas são mamíferos marinhos extremamente poderosos e grandes, podendo pesar até várias toneladas e medir até 9 metros de comprimento. Um golpe ou contacto físico com uma orca pode ser devastador para um ser humano. Embora ataques de orcas a humanos sejam raros, existem registos de incidentes.
Já os tubarões são predadores naturais e podem atacar seres humanos se os confundirem com presas naturais, como focas, tartarugas ou peixes grandes. “Temos de prestar atenção às áreas onde orcas ou tubarões são conhecidos por habitar ou passar. Devemos ler os avisos locais e as condições do mar antes de entrar na água. Ao nadar, mergulhar ou praticar desportos aquáticos, devemos evitar agir como presas potenciais, digamos assim. Evitar usar joias brilhantes ou roupas coloridas que possam ser confundidas com a presa natural dos animais marinhos”, alerta João Alves Mendes.
“Também devemos evitar estar na água sozinhos. Estar em grupo pode aumentar a segurança, pois há menos probabilidades de sermos alvo de um ataque”, afirma, lembrando igualmente que “devemos manter uma distância segura em relação aos animais selvagens”. Por exemplo, não tentando alimentar ou provocar orcas, tubarões ou outros animais marinhos.
Se estas medidas não forem suficientes e se, efetivamente, o desfecho for negativo, devemos estar preparados para agir rapidamente em caso de emergência. “Conhecer técnicas de primeiros socorros, especialmente para ferimentos causados por mordidas ou lacerações, pode ser crucial”, conclui o profissional de saúde.