BOCHUM – Que procura o homem de máscara que chafurda num caixote do lixo? Algum hambúrguer meio comido? Em que pensa do desdentado de cabelo pintado que se balança ora numa ora noutra perna? Um ritmo? Que discutem os rapazes e raparigas de calças rasgadas que se sentam no chão em círculo como se estivesse à volta de uma fogueira? O futuro da guerra na Ucrânia? Com que sonha o maltrapilho que arranjou uma esquina para dormir? Que fantasmas povoam o seu sono quando, de repente, estremece como se varado por um choque elétrico? Que língua fala a garota de olhos assustados que estica a mão a quem ainda passa na rua a esta hora? Turco? Quantos anos tem o velho de barba hirsuta com um barrete que lhe tapa as orelhas? É um velho mais velho do que eu? Na minha volta noturna dos tristes, de quarteirão em quarteirão, passo pela estação de comboios e encontro a mesma fauna que se encontra nas fronteiras de todas as estações. Um universo decadente, um preservativo usado atirado para um canteiro, garrafas e latas enfeitando um arbusto seco, uma seringa à porta de um prédio maltratado. Tanta gente a viver do lado errado da noite, como canta o Jorge Palma. Por que escolhem eles ficar junto das estações de comboio? É uma espera infrutífera por viagens que nunca farão? Só tenho perguntas; não tenho respostas. O Verão tomou, finalmente, conta da Alemanha. As noites são mornas. Mas tenho a sensação de que isso não lhes serve de nada.
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