Mortinhos por uma frente de esquerda


Aquela que foi a safa de António Costa depois da derrota eleitoral de 2015 e sempre foi a praia da atual liderança do PS apresenta, nas atuais circunstâncias, mais riscos do que oportunidades.


“Livre pede reuniões aos partidos de esquerda”.
“Mariana Mortágua abre a porta a coligação à esquerda em Lisboa”.

Depois de desnatada eleitoralmente por António Costa, a Esquerda à Esquerda do Partido Socialista desespera por uma bóia de salvação que lhe permita reverter a espiral de perda e a consequente insuficiência para se constituir em alternativa de poder ao bloco da direita, embora, para o cidadão comum, a relevância da dicotomia seja, cada vez mais, entre quem responde, quem resolver e quem proclama soluções insustentáveis ou inviáveis. O foco ideológico é cada vez menos relevante para os cidadãos ávidos de soluções, equilibradas, sustentáveis e com sentido. O PS, que teve o poder para fazer, para responder de forma sustentada aos problemas estruturais e aos desafios de circunstância, está na encruzilhada da escolha do registo de ação política e das opções sobre a construção da alternativa ao exercício governativo da direita. O drama é que sem avaliar o quadro que conduziu ao desperdício de uma maioria absoluta e à perda autárquica de municípios como o de Lisboa, a probabilidade de reincidir nos mesmos erros, com o mesmo pessoal político e similar sentido da ação política é enorme. É saber se prevalece a circunstância ou se se vai além desta, para lá do exercício de turno, com respostas para o que é estrutural e o que é circunstancial, seja do passado recente ou das novas dinâmicas da sociedade. Saber conjugar os valores, eventualmente ajustando-os, não em função dos egos ou das particulares sobrevivências políticas, mas das novas realidades e necessidades. Compreender, por exemplo, que, sem perder uma noção integrada e solidária de combater as desigualdades, as injustiças e as exclusões, é preciso que o Estado cumpra de forma imaculada as suas funções essenciais, antes de querer alargar o leque de responsabilidades ou acolher nichos residuais de preocupações. O comando ideológico, por alguns considerado como a mãe de todas as soluções, já não é suficiente para sustentar a construção de uma alternativa política, sobretudo quando o pragmatismo do exercício do poder se sobrepõe a tudo o resto, inscrevendo-se de forma incontornável no registo histórico dos protagonistas, no poder ou na oposição.

É neste quadro de deslaço social e de pulverização do espectro político que se regista o desespero de concretização de um governo que sem maioria parlamentar para governar procura consolidar a tal ideia de fazedor-mor da República, em especial, através de anúncios carentes de suporte popular e de aprovação na Assembleia da República, onde vigoram maiorias de circunstância.

Nesta insuficiência da Esquerda para fazer frente ao governo e ao populismo gerado pelos exercícios político passados e pela persistência de problemas por revolver, que sinalizavam revolta popular, surgem os apelos à convergência de Esquerda. Aquela que foi a safa de António Costa, depois da derrota eleitoral de 2015, e sempre foi a praia da atual liderança do PS apresenta, nas atuais circunstâncias, mais riscos que oportunidades, dada a incapacidade para gerar compromisso e capacidade de atração de novos eleitores. Embarcar no canto da Esquerda à Esquerda, desesperada pela reversão da perda e da insuficiência, pode significar a perda do eleitorado de Centro, ainda desconfiado com a governação, mas disposto a dar uma oportunidade à narrativa política vigente que, nas palavras e nos anúncios, vai além da indigência, da reconfiguração por baixo e da resignação face às realidades.

Como em tantos aspetos do país, são precisos ajustamentos, com sentido de equilíbrio, compromisso para que sejam sustentados e respostas para os desafios da generalidade dos indivíduos, das comunidades e de Portugal. Acantonar o PS à Esquerda, numa espécie de mistura entre originais e cópias, entre soluções políticas incompatíveis na substância de pressupostos como a construção europeia e a participação na NATO, não gera nenhum tipo de capacidade de atração além da soma da representação eleitoral que, podendo ser bom para as lideranças de turno, são manifestamente insuficientes para a geração de alternativa política e para a obtenção de vitórias que permitam o acesso ao poder. Não se vislumbra nenhum valor acrescentado a uma Frente de Esquerda, qual albergue espanhol de convergência de circunstâncias, num tempo em que o exercício político não é de mera reposição de direitos e rendimentos como aconteceu em 2014. O país precisa de algumas decisões difíceis, com compromisso, para que não mudem em cada novo governo ou ciclo político, sob pena de persistimos no registo de ioiô, ora temos, ora não temos. A soma de predisposições ideológicas e políticas há muito que deixaram de ser suficientes para configurar alternativas e soluções, o que funda as dificuldades nacionais, europeias e globais da Esquerda. O Mundo mudou mesmo, é preciso ajuste, novas visões e renovadas respostas.

NOTAS FINAIS

A CASTA JUDICIAL. Depois da justiça a marcar o tempo político, no perfil das investigações, no arbítrio em relação aos investigados, havendo outros em similares situações, e na violação do segredo de justiça, agora tivemos a dita ao serviço do posicionamento dos media em dia de novo canal na TV. A casta deste pernicioso conluio entre a justiça e os media julga-se acima de tudo e está, mas a democracia é incompatível com reiteradas e reconhecidas mãos invisíveis.

FARRAPO PRESIDENCIAL. O caso das gémeas é a mácula fatal do exercício presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Além das omissões da investigação e da tolerância com as circunstâncias, ninguém acredita que não exista compromisso com esta e com certamente dezenas de outras situações em vários ministérios, autarquias e instituições. Não é defeito, é feitio.

CLAQUE MACACA. Com o passo trocado em relação à realidade e à convergência gerada no apoio à seleção nacional de futebol no Europeu da Alemanha, a Federação Portuguesa de Futebol parece ter mantido a matriz do apoio numa claque que tem o seu ex-líder preso, presente em cânticos e cartazes sem sentido. A falta de senso tanto está presente em contratos à margem da lei como neste tipo de opções. Força Portugal!

Mortinhos por uma frente de esquerda


Aquela que foi a safa de António Costa depois da derrota eleitoral de 2015 e sempre foi a praia da atual liderança do PS apresenta, nas atuais circunstâncias, mais riscos do que oportunidades.


“Livre pede reuniões aos partidos de esquerda”.
“Mariana Mortágua abre a porta a coligação à esquerda em Lisboa”.

Depois de desnatada eleitoralmente por António Costa, a Esquerda à Esquerda do Partido Socialista desespera por uma bóia de salvação que lhe permita reverter a espiral de perda e a consequente insuficiência para se constituir em alternativa de poder ao bloco da direita, embora, para o cidadão comum, a relevância da dicotomia seja, cada vez mais, entre quem responde, quem resolver e quem proclama soluções insustentáveis ou inviáveis. O foco ideológico é cada vez menos relevante para os cidadãos ávidos de soluções, equilibradas, sustentáveis e com sentido. O PS, que teve o poder para fazer, para responder de forma sustentada aos problemas estruturais e aos desafios de circunstância, está na encruzilhada da escolha do registo de ação política e das opções sobre a construção da alternativa ao exercício governativo da direita. O drama é que sem avaliar o quadro que conduziu ao desperdício de uma maioria absoluta e à perda autárquica de municípios como o de Lisboa, a probabilidade de reincidir nos mesmos erros, com o mesmo pessoal político e similar sentido da ação política é enorme. É saber se prevalece a circunstância ou se se vai além desta, para lá do exercício de turno, com respostas para o que é estrutural e o que é circunstancial, seja do passado recente ou das novas dinâmicas da sociedade. Saber conjugar os valores, eventualmente ajustando-os, não em função dos egos ou das particulares sobrevivências políticas, mas das novas realidades e necessidades. Compreender, por exemplo, que, sem perder uma noção integrada e solidária de combater as desigualdades, as injustiças e as exclusões, é preciso que o Estado cumpra de forma imaculada as suas funções essenciais, antes de querer alargar o leque de responsabilidades ou acolher nichos residuais de preocupações. O comando ideológico, por alguns considerado como a mãe de todas as soluções, já não é suficiente para sustentar a construção de uma alternativa política, sobretudo quando o pragmatismo do exercício do poder se sobrepõe a tudo o resto, inscrevendo-se de forma incontornável no registo histórico dos protagonistas, no poder ou na oposição.

É neste quadro de deslaço social e de pulverização do espectro político que se regista o desespero de concretização de um governo que sem maioria parlamentar para governar procura consolidar a tal ideia de fazedor-mor da República, em especial, através de anúncios carentes de suporte popular e de aprovação na Assembleia da República, onde vigoram maiorias de circunstância.

Nesta insuficiência da Esquerda para fazer frente ao governo e ao populismo gerado pelos exercícios político passados e pela persistência de problemas por revolver, que sinalizavam revolta popular, surgem os apelos à convergência de Esquerda. Aquela que foi a safa de António Costa, depois da derrota eleitoral de 2015, e sempre foi a praia da atual liderança do PS apresenta, nas atuais circunstâncias, mais riscos que oportunidades, dada a incapacidade para gerar compromisso e capacidade de atração de novos eleitores. Embarcar no canto da Esquerda à Esquerda, desesperada pela reversão da perda e da insuficiência, pode significar a perda do eleitorado de Centro, ainda desconfiado com a governação, mas disposto a dar uma oportunidade à narrativa política vigente que, nas palavras e nos anúncios, vai além da indigência, da reconfiguração por baixo e da resignação face às realidades.

Como em tantos aspetos do país, são precisos ajustamentos, com sentido de equilíbrio, compromisso para que sejam sustentados e respostas para os desafios da generalidade dos indivíduos, das comunidades e de Portugal. Acantonar o PS à Esquerda, numa espécie de mistura entre originais e cópias, entre soluções políticas incompatíveis na substância de pressupostos como a construção europeia e a participação na NATO, não gera nenhum tipo de capacidade de atração além da soma da representação eleitoral que, podendo ser bom para as lideranças de turno, são manifestamente insuficientes para a geração de alternativa política e para a obtenção de vitórias que permitam o acesso ao poder. Não se vislumbra nenhum valor acrescentado a uma Frente de Esquerda, qual albergue espanhol de convergência de circunstâncias, num tempo em que o exercício político não é de mera reposição de direitos e rendimentos como aconteceu em 2014. O país precisa de algumas decisões difíceis, com compromisso, para que não mudem em cada novo governo ou ciclo político, sob pena de persistimos no registo de ioiô, ora temos, ora não temos. A soma de predisposições ideológicas e políticas há muito que deixaram de ser suficientes para configurar alternativas e soluções, o que funda as dificuldades nacionais, europeias e globais da Esquerda. O Mundo mudou mesmo, é preciso ajuste, novas visões e renovadas respostas.

NOTAS FINAIS

A CASTA JUDICIAL. Depois da justiça a marcar o tempo político, no perfil das investigações, no arbítrio em relação aos investigados, havendo outros em similares situações, e na violação do segredo de justiça, agora tivemos a dita ao serviço do posicionamento dos media em dia de novo canal na TV. A casta deste pernicioso conluio entre a justiça e os media julga-se acima de tudo e está, mas a democracia é incompatível com reiteradas e reconhecidas mãos invisíveis.

FARRAPO PRESIDENCIAL. O caso das gémeas é a mácula fatal do exercício presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Além das omissões da investigação e da tolerância com as circunstâncias, ninguém acredita que não exista compromisso com esta e com certamente dezenas de outras situações em vários ministérios, autarquias e instituições. Não é defeito, é feitio.

CLAQUE MACACA. Com o passo trocado em relação à realidade e à convergência gerada no apoio à seleção nacional de futebol no Europeu da Alemanha, a Federação Portuguesa de Futebol parece ter mantido a matriz do apoio numa claque que tem o seu ex-líder preso, presente em cânticos e cartazes sem sentido. A falta de senso tanto está presente em contratos à margem da lei como neste tipo de opções. Força Portugal!