«Ich bin ein Bochumer»


Vivo num bairro calmo, que tem o seu turco, sim senhores, e o seu árabe, pois então, e até um café cheio de livros onde passo algumas horas livres.


BOCHUM – Instalei-me. Gosto de Bochum. Não podia ter ficado num lugar melhor. Parece uma cidadezinha embora não tão pequena quanto isso, tem mais de 350 mil habitantes, um parque frondoso, ruas arborizadas, prédios baixos de traça antiga, e é mais uma das cidades-pegadas-umas-às-outras do Vale do Rurh, 45 minutos até ao estádio de Gelsenkirchen no Tram 302, 15 minutos até ao centro de Dortmund nos comboios da Deutshe Bahn. Vivo num bairro anexo à estação principal, tornei-me cliente do Café Ferdinand, na Ferdinandstrasse, sento-me a ler nos seus bancos altos  numa saleta com uma prateleira carregada de livros à espera de quem os folheie. Bochum tem o seu turco, claro, e bem mais do que um. E o seu árabe, pois então, o que me agrada porque adoro viajar pelos países árabes, conheço pelo menos 15 dos 22 da lista da ONU, da Arábia mesmo, ao Iraque à Síria, do Líbano ao Omã. Também tem o seu indiano, mr. Ramesh, vindo lá da Bombaim para onde caminho todos os anos fascinado pela sua enormidade diversa e complexa, com um supermercado que dá um jeitão para comprar desde pasta dos dentes a fruta fresca com dois dedos de conversa sobre a Índia, meu pai, minha mãe, minha primeira grande verdade, como escreveu um dia Salman Rushdie. Ah! Já me ia esquecendo da loja do Freitas – «Specialitaten von dem Zud América und Afrika». Os dias passam devagar em Bochum. Aliás os dias todos passam devagar, os anos é que passam a correr. Agora que parou de chover, posso aventurar-me por outros bairros enquanto caminho a matutar na vida e a pensar no mês de Agosto quando vou para a Praia da Barra falar com Deus, se ele tivesse a decência de responder. Se no dia 26 de Junho de 1963, o presidente dos Estados Unidos concluiu um discurso na Rudolph Wilde Platz de Berlim com uma frase que ficou para a história – «Ich bin ein Berliner» -, também me sinto no direito de, no dia 22 de Junho de 2024, terminar esta crónica dizendo: «Ich bin ein Bochumer».

«Ich bin ein Bochumer»


Vivo num bairro calmo, que tem o seu turco, sim senhores, e o seu árabe, pois então, e até um café cheio de livros onde passo algumas horas livres.


BOCHUM – Instalei-me. Gosto de Bochum. Não podia ter ficado num lugar melhor. Parece uma cidadezinha embora não tão pequena quanto isso, tem mais de 350 mil habitantes, um parque frondoso, ruas arborizadas, prédios baixos de traça antiga, e é mais uma das cidades-pegadas-umas-às-outras do Vale do Rurh, 45 minutos até ao estádio de Gelsenkirchen no Tram 302, 15 minutos até ao centro de Dortmund nos comboios da Deutshe Bahn. Vivo num bairro anexo à estação principal, tornei-me cliente do Café Ferdinand, na Ferdinandstrasse, sento-me a ler nos seus bancos altos  numa saleta com uma prateleira carregada de livros à espera de quem os folheie. Bochum tem o seu turco, claro, e bem mais do que um. E o seu árabe, pois então, o que me agrada porque adoro viajar pelos países árabes, conheço pelo menos 15 dos 22 da lista da ONU, da Arábia mesmo, ao Iraque à Síria, do Líbano ao Omã. Também tem o seu indiano, mr. Ramesh, vindo lá da Bombaim para onde caminho todos os anos fascinado pela sua enormidade diversa e complexa, com um supermercado que dá um jeitão para comprar desde pasta dos dentes a fruta fresca com dois dedos de conversa sobre a Índia, meu pai, minha mãe, minha primeira grande verdade, como escreveu um dia Salman Rushdie. Ah! Já me ia esquecendo da loja do Freitas – «Specialitaten von dem Zud América und Afrika». Os dias passam devagar em Bochum. Aliás os dias todos passam devagar, os anos é que passam a correr. Agora que parou de chover, posso aventurar-me por outros bairros enquanto caminho a matutar na vida e a pensar no mês de Agosto quando vou para a Praia da Barra falar com Deus, se ele tivesse a decência de responder. Se no dia 26 de Junho de 1963, o presidente dos Estados Unidos concluiu um discurso na Rudolph Wilde Platz de Berlim com uma frase que ficou para a história – «Ich bin ein Berliner» -, também me sinto no direito de, no dia 22 de Junho de 2024, terminar esta crónica dizendo: «Ich bin ein Bochumer».