Os comerciantes e moradores da Via do Oriente, no Parque das Nações, viram a circulação automóvel cortada naquela rua nos dias de concertos no Rock in Rio que este ano se realiza pela primeira vez no Parque Tejo.
A medida não foi pacífica, uma vez que não permite que os comerciantes façam as vendas habituais e também causa constrangimentos aos moradores.
Ao Nascer do SOL, Rui Matos, dono do grupo Superfood – que conta com quatro estabelecimentos abertos nesta rua –, lamenta a situação. «Temos quatro estabelecimentos de restauração aqui na zona e ficámos basicamente sem clientes», diz ao nosso jornal, garantindo que todos os clientes desmarcaram as reservas que tinham nos espaços porque foram impedidos de aceder de carro aos estabelecimentos, podendo apenas fazê-lo a pé. «Estamos a falar de mais de um quilómetro ao sol. Obviamente que as pessoas não vêm. Ficámos reféns da situação», acusa ainda o responsável, que atira: «O Rock in Rio é um evento privado que tomou conta da via pública». Rui Matos conta que foram tentadas várias diligências junto da Junta de Freguesia, da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e até do Instagram do presidente da autarquia, Carlos Moedas. Até agora, não tiveram qualquer resposta à exceção da «resposta institucional».
«Não tenho nada com o Rock in Rio, que tenham muito sucesso e que giram o negócio deles. Agora não podem impedir os outros de trabalhar e de ter os seus próprios negócios, que foi o que aconteceu. A via foi encerrada para única e exclusivamente fazer acesso dos shuttles privados, os VIP, tuk tuk», acusa Rui Matos que arrisca-se a dizer: «Acho que nem na covid-19 estivemos tão mal». É que, garante, jantares têm feito.
E, se o primeiro fim de semana de Rock in Rio já foi mau, o próximo avizinha-se igual. «Temos as piores perspetivas», lamenta o responsável, acrescentando que durante toda a semana tentaram falar com várias entidades, mas «ficámos a falar sozinhos, não conseguimos nada ainda». E por isso não têm muitas esperanças de melhoras.
Até aos estafetas da Uber Eats foi barrada a entrada, pelo que nem essas vendas os espaços daquela rua podem fazer. «Estamos completamente reféns. É um enorme prejuízo. Temos cerca de 50 colaboradores, um volume de negócios cada vez mais significativo ao fim de semana porque as pessoas, infelizmente, têm menor poder de compra e são mais sensíveis a gastar o seu dinheiro e, em refeições, fazem-no com a família ao fim de semana, vêm menos vezes durante a semana. E ficámos completamente reféns do Rock in Rio», lamenta.
Rui Matos deixa algumas questões no ar, como: «Quem é que nos vai ressarcir deste prejuízo? Se é o Rock in Rio, se é a Câmara, se é a Junta ou se não é ninguém, que é o mais provável».
E lembra que naquela rua existem outros estabelecimentos que também são afetados e que o seu caso «não é um ato isolado», pelo que considera a situação «triste», defendendo que estes eventos são importantes para a cidade mas «tem que haver planeamento e coordenação».
Confrontada com esta situação, a Câmara Municipal de Lisboa tem outra opinião e diz ao Nascer do SOL que «o impacto de um evento desta dimensão obriga a um planeamento rigoroso e, naturalmente, a vários constrangimentos obrigatórios». A autarquia liderada por Carlos Moedas adianta também que «a prioridade é que munícipes e comerciantes possam usufruir destes momentos mantendo a maior normalidade possível. Foi isso que a CML solicitou à organização para que procurasse privilegiar ao máximo a possível normalidade para quem ali mora, trabalha ou se desloca. Uma prioridade que foi sempre tida em conta», garante.
A autarquia acrescenta que não pode deixar de notar que «foram milhares de pessoas que durante o fim de semana circularam naquela área e que revela o sucesso desta edição», mas promete não deixar de estar atenta «a algumas situações que possam ter corrido menos bem e procurar, juntamente com a organização do R&R, que as mesmas possam ser sempre melhoradas e corrigidas num local que está a ser utilizado pela primeira vez».
Outras polémicas
Além desta polémica, o Rock in Rio deste ano fica ainda marcado pelo episódio da expulsão d a vocalista dos The Gift, Sónia Tavares, e da apresentadora Bárbara Guimarães, por terem… comido na zona VIP. Sónia Tavares expôs a situação da forma cómica que lhe é conhecida e a organização do festival já veio pedir desculpa pelo sucedido, que a cantora aceitou.
Além disso, segundo o Portal da Queixa, o número de queixas este ano ultrapassou em 97% as queixas geradas na edição de 2022. Problemas com bilhetes, falta de organização, má qualidade do som e falta de resposta na alimentação foram das principais queixas. Nesse sentido, a organização do festival anunciou mudanças para este fim de semana.
«No próximo fim de semana, voltamos a aumentar as equipas de apoio para fazer fluir a circulação dentro das casas de banho. Os operadores de comida estão a reforçar as suas operações e a Polícia vai trabalhar para o trânsito fluir de forma mais forte», disse Roberta Medina à RR.