«Latrinenparole»


Desde que aterrei em Munique, no primeiro dia deste Euro, que passei a desfrutar de um vocabulário germânico que pensava tão morto como o latim.


BOCHUM – O pouco que aprendi de alemão, por insistência do meu pai que era de opinião que todos os juízes deviam saber muito de Direito Alemão, serve-me para meia-dúzia de coisas relativamente úteis. Não fui para juiz e dediquei-me ao russo. «Ich will Schweinemedaillons mit Kartoffeln abbe ohne Sauerkraut, bitte» dá mais trabalho à língua e às papilas gustativas do que o prato em si. Mas, enfim, a cozinha germânica também não é propriamente famosa pela sua variedade. Já a bebida pode dar mais que falar, acrescentando-se ao pedido inicial: «Noch zwei khüle Biere». Sim, porque se é para beber cerveja que se bebam logo duas que mais tarde virão outras duas. «Serh kalt, hörts du?», teimarei convicto. Geladinhas, está a ouvir? De Direito empinei uns princípios básicos em noitadas movidas a captagons, que na altura estavam na moda, a meias com o meu querido irmão José Manuel Mesquita (doutor e por extenso). Não me dão jeito para nada, ainda por cima de Direitos Reais, a grande especialidade dos alemães, e o que sou capaz de vomitar de cor – «Nemo plus júris transferre potest quam ipse habet» (ninguém pode transferir para a esfera jurídica de outrem aquilo que não lhe pertence, algo tão óbvio que ainda andamos por aí a matutar por que tanta gente ainda não percebeu) – é em latim e não é por acaso que o latim é uma língua morta. O meu cérebro faz-me o grande favor de manter guardado em gavetas ou em armários, ou lá como ele se arruma, tudo o que não preciso de imediato. Quando volta a fazer-me falta, devolve-me generosamente e em quantidades consideráveis. Desde que aterrei em Munique, no primeiro dia deste Euro, que passei a desfrutar de um vocabulário germânico que pensava tão morto como o latim. Ou seja, sinto-me em casa e contente da vida a distribuir por toda a Alemanha aquilo que chamamos popularmente por conversa de merda. Ah! Os alemães têm um termo muito melhor para isso: «Latrinparolen». Nem precisa de tradução.


«Latrinenparole»


Desde que aterrei em Munique, no primeiro dia deste Euro, que passei a desfrutar de um vocabulário germânico que pensava tão morto como o latim.


BOCHUM – O pouco que aprendi de alemão, por insistência do meu pai que era de opinião que todos os juízes deviam saber muito de Direito Alemão, serve-me para meia-dúzia de coisas relativamente úteis. Não fui para juiz e dediquei-me ao russo. «Ich will Schweinemedaillons mit Kartoffeln abbe ohne Sauerkraut, bitte» dá mais trabalho à língua e às papilas gustativas do que o prato em si. Mas, enfim, a cozinha germânica também não é propriamente famosa pela sua variedade. Já a bebida pode dar mais que falar, acrescentando-se ao pedido inicial: «Noch zwei khüle Biere». Sim, porque se é para beber cerveja que se bebam logo duas que mais tarde virão outras duas. «Serh kalt, hörts du?», teimarei convicto. Geladinhas, está a ouvir? De Direito empinei uns princípios básicos em noitadas movidas a captagons, que na altura estavam na moda, a meias com o meu querido irmão José Manuel Mesquita (doutor e por extenso). Não me dão jeito para nada, ainda por cima de Direitos Reais, a grande especialidade dos alemães, e o que sou capaz de vomitar de cor – «Nemo plus júris transferre potest quam ipse habet» (ninguém pode transferir para a esfera jurídica de outrem aquilo que não lhe pertence, algo tão óbvio que ainda andamos por aí a matutar por que tanta gente ainda não percebeu) – é em latim e não é por acaso que o latim é uma língua morta. O meu cérebro faz-me o grande favor de manter guardado em gavetas ou em armários, ou lá como ele se arruma, tudo o que não preciso de imediato. Quando volta a fazer-me falta, devolve-me generosamente e em quantidades consideráveis. Desde que aterrei em Munique, no primeiro dia deste Euro, que passei a desfrutar de um vocabulário germânico que pensava tão morto como o latim. Ou seja, sinto-me em casa e contente da vida a distribuir por toda a Alemanha aquilo que chamamos popularmente por conversa de merda. Ah! Os alemães têm um termo muito melhor para isso: «Latrinparolen». Nem precisa de tradução.