A suficiente vitória do muito menos que poucochinho chega para quê?


50 anos depois de Abril podemos ser infantis em muitos aspetos, mas temos de trabalhar para nos posicionar como adultos maduros, no imediato ou no horizonte.


A circunstância tudo muda. Pode a realidade dos factos revelar uma vitória por muito menos do que a que foi rotulada de “poucochinho”, que o filtro da avaliação da realidade agora é outra, com diferentes motivações e interesses. O PS ganhou as eleições para o Parlamento Europeu em 2024 por 0,97%, que lhe conferem menos um deputado do que tinha e mais um deputado do que a AD. Em 2014, o PS tinha ganho as mesmas eleições com mais 3,75% e conquistado mais um deputado, num tempo quem que se esgrimiam acervos da governação, constrangimentos da Troika e ambições individuais desenfreadas que alimentavam um sustentado desgaste de quem exercitava o democrático desafio da oposição. À luz deste quadro, os resultados de 2024 são muito menos que poucochinhos, mas suficientes para a miríade de ambições políticas em presença.

São a primeira vitória de Pedro Nuno Santos, que estava no limiar de se barricar no castelo do exercício do poder interno independentemente das realidades envolventes e do perfil de posicionamento que impõe ao Partido Socialista.

São uma derrota para a AD no exercício do poder executivo, tão focada no país que não hesita em manifestar apoio à candidatura de António Costa a cargos europeus para prosseguir a tradicional expurga dos exercícios de funções públicas por nomeação de alheios.

São um redobrado ânimo para quem condicionou toda a governação anterior a um calendário de convergência com Bruxelas e a um exercício político de aperto inicial do cinto e de deslaço da fivela do dito na parte final, quando houve descontinuidade da estratégia. Tal como há 10 anos, António Costa sai destas eleições europeias, uma vez mais, com todas as aspirações de ambição pessoal reforçadas.

São um evidente descalabro dos garimpeiros do voto do protesto à esquerda e à direita, mesmo quando exercitam o tradicional alheamento entre a realidade e a narrativa política como acontece com o PCP, que perde um deputado, mas mantém um solitário eleito nas instituições europeias que abominam.

O grande resultado da Iniciativa Liberal, catalisado por um ex-líder que teria sido um caso ainda mais sério se tivesse estado em funções nas últimas legislativas, a resiliência mínima de Bloco e de PCP e a erradicação parlamentar de um PAN, travestido de muitas coisas até regressar ao core do radicalismo animal e da imposição da cultura proibicionista do gosto pessoal com a proposta do referendo nacional às touradas. O povo falou e varreu o PAN para a reserva natural e nacional do radicalismo proibicionista.

O retrocesso eleitoral do populismo desenfreado do Chega, alimentado pela degradação do compromisso social e a ausência de respostas para as pessoas e os territórios, têm de ser muito mais do que a circunstância de André Ventura ter cometido o seu primeiro erro político com a escolha do cabeça de lista ao Parlamento Europeu. O retrocesso eleitoral, em contraciclo com a generalidade da realidade europeia, a que se agarraram como manutenção de ânimo político, tem de ser prosseguido pela erradicação dos fatores de gangrena democrática, com o equilíbrio que a existência de mais de 60% de votantes moderados impõe. Não será fácil encontrar nos 27 estado da União uma tamanha expressão eleitoral de convergência com o projeto europeu que tem de ser muito mais do que tem sido para responder às pessoas em tempo útil e posicionar a Europa como espaço de paz, de desenvolvimento, de sustentabilidade e de competitividade face aos desafios nacionais, comunitários e globais.

O quadro político está pulverizado, com a esquerda a valer nestas eleições 44,21% e a direita 49,98 %, o que significa que sem crescimento de capacidade de agregação de eleitorado além do existente, a direita pelo exercício do poder pode ambicionar mais e a esquerda só o poderá fazer pela conquista de abstencionistas ou de desiludidos com a direita no poder. Qualquer exercício de deriva à esquerda servirá apenas para canibalizar eleitoralmente os restantes partidos à esquerda, numa espécie de luta entre o original e a cópia, sendo insuficiente para gerar uma maioria de governo, com mínimos de sustentabilidade. O país precisa de respostas estruturais e de circunstância para todos, que só poderão ser sustentáveis com compromissos que as salvaguardem no tempo e no modo das mudanças de governo. O Estado tem de fazer bem o que são as suas funções essenciais antes de ambicionar assumir mais ou de deixar ao mercado a configuração de respostas que terão de ter uma visão integrada da sociedade portuguesa. É pelo compromisso que lá vamos, com sustentação e sentido de futuro.

Houve mais participação, também com a ajuda de São Pedro, que não propiciou um tempo favorável de praia, mas é fundamental sublinhar o voto em mobilidade. É possível melhorar o sistema eleitoral, naturalmente tendo em conta as vicissitudes de cada eleição, mas com novos pontos de equilíbrio que não tomem os eleitores como burros incapazes de se protegerem perante excessos de campanha do governo, dos partidos e dos media, sedentos de um inconsequente dia de reflexão e de outras realidades anacrónicas estruturais e de circunstância.

50 anos depois de Abril podemos ser infantis em muitos aspetos, mas temos de trabalhar para nos posicionar como adultos maduros, no imediato ou no horizonte.

NOTAS FINAIS

NÃO, NÃO É NORMAL. Uma vez mais, depois de meses, por vezes anos, de investigações judiciais, buscas em plena campanha eleitoral. Não sei se é alguma prova de sobrevivência na vertigem de mudanças onde elas podem acontecer por impulso de quem governa ou é só um exercício inconsequente de egos judiciais que minam a confiança nas instituições, mas é tempo de dizer basta a tanto deslaço. Ninguém está acima da lei e da salvaguarda do exercício democrático.

ALGUÉM ACREDITA. As gémeas são a expressão de uma realidade, quase normalizada. Alguém acredita que o Presidente da República, pelo seu perfil de personalidade, de sempre, e pela doutrina Hugo Mendes, “não podemos mesmo perder o apoio político do Presidente da República. (…) Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior pesadelo.”, não tem nada a ver com o caso das gémeas e não se desmultiplicou, direta ou indiretamente, em situações similares?

A suficiente vitória do muito menos que poucochinho chega para quê?


50 anos depois de Abril podemos ser infantis em muitos aspetos, mas temos de trabalhar para nos posicionar como adultos maduros, no imediato ou no horizonte.


A circunstância tudo muda. Pode a realidade dos factos revelar uma vitória por muito menos do que a que foi rotulada de “poucochinho”, que o filtro da avaliação da realidade agora é outra, com diferentes motivações e interesses. O PS ganhou as eleições para o Parlamento Europeu em 2024 por 0,97%, que lhe conferem menos um deputado do que tinha e mais um deputado do que a AD. Em 2014, o PS tinha ganho as mesmas eleições com mais 3,75% e conquistado mais um deputado, num tempo quem que se esgrimiam acervos da governação, constrangimentos da Troika e ambições individuais desenfreadas que alimentavam um sustentado desgaste de quem exercitava o democrático desafio da oposição. À luz deste quadro, os resultados de 2024 são muito menos que poucochinhos, mas suficientes para a miríade de ambições políticas em presença.

São a primeira vitória de Pedro Nuno Santos, que estava no limiar de se barricar no castelo do exercício do poder interno independentemente das realidades envolventes e do perfil de posicionamento que impõe ao Partido Socialista.

São uma derrota para a AD no exercício do poder executivo, tão focada no país que não hesita em manifestar apoio à candidatura de António Costa a cargos europeus para prosseguir a tradicional expurga dos exercícios de funções públicas por nomeação de alheios.

São um redobrado ânimo para quem condicionou toda a governação anterior a um calendário de convergência com Bruxelas e a um exercício político de aperto inicial do cinto e de deslaço da fivela do dito na parte final, quando houve descontinuidade da estratégia. Tal como há 10 anos, António Costa sai destas eleições europeias, uma vez mais, com todas as aspirações de ambição pessoal reforçadas.

São um evidente descalabro dos garimpeiros do voto do protesto à esquerda e à direita, mesmo quando exercitam o tradicional alheamento entre a realidade e a narrativa política como acontece com o PCP, que perde um deputado, mas mantém um solitário eleito nas instituições europeias que abominam.

O grande resultado da Iniciativa Liberal, catalisado por um ex-líder que teria sido um caso ainda mais sério se tivesse estado em funções nas últimas legislativas, a resiliência mínima de Bloco e de PCP e a erradicação parlamentar de um PAN, travestido de muitas coisas até regressar ao core do radicalismo animal e da imposição da cultura proibicionista do gosto pessoal com a proposta do referendo nacional às touradas. O povo falou e varreu o PAN para a reserva natural e nacional do radicalismo proibicionista.

O retrocesso eleitoral do populismo desenfreado do Chega, alimentado pela degradação do compromisso social e a ausência de respostas para as pessoas e os territórios, têm de ser muito mais do que a circunstância de André Ventura ter cometido o seu primeiro erro político com a escolha do cabeça de lista ao Parlamento Europeu. O retrocesso eleitoral, em contraciclo com a generalidade da realidade europeia, a que se agarraram como manutenção de ânimo político, tem de ser prosseguido pela erradicação dos fatores de gangrena democrática, com o equilíbrio que a existência de mais de 60% de votantes moderados impõe. Não será fácil encontrar nos 27 estado da União uma tamanha expressão eleitoral de convergência com o projeto europeu que tem de ser muito mais do que tem sido para responder às pessoas em tempo útil e posicionar a Europa como espaço de paz, de desenvolvimento, de sustentabilidade e de competitividade face aos desafios nacionais, comunitários e globais.

O quadro político está pulverizado, com a esquerda a valer nestas eleições 44,21% e a direita 49,98 %, o que significa que sem crescimento de capacidade de agregação de eleitorado além do existente, a direita pelo exercício do poder pode ambicionar mais e a esquerda só o poderá fazer pela conquista de abstencionistas ou de desiludidos com a direita no poder. Qualquer exercício de deriva à esquerda servirá apenas para canibalizar eleitoralmente os restantes partidos à esquerda, numa espécie de luta entre o original e a cópia, sendo insuficiente para gerar uma maioria de governo, com mínimos de sustentabilidade. O país precisa de respostas estruturais e de circunstância para todos, que só poderão ser sustentáveis com compromissos que as salvaguardem no tempo e no modo das mudanças de governo. O Estado tem de fazer bem o que são as suas funções essenciais antes de ambicionar assumir mais ou de deixar ao mercado a configuração de respostas que terão de ter uma visão integrada da sociedade portuguesa. É pelo compromisso que lá vamos, com sustentação e sentido de futuro.

Houve mais participação, também com a ajuda de São Pedro, que não propiciou um tempo favorável de praia, mas é fundamental sublinhar o voto em mobilidade. É possível melhorar o sistema eleitoral, naturalmente tendo em conta as vicissitudes de cada eleição, mas com novos pontos de equilíbrio que não tomem os eleitores como burros incapazes de se protegerem perante excessos de campanha do governo, dos partidos e dos media, sedentos de um inconsequente dia de reflexão e de outras realidades anacrónicas estruturais e de circunstância.

50 anos depois de Abril podemos ser infantis em muitos aspetos, mas temos de trabalhar para nos posicionar como adultos maduros, no imediato ou no horizonte.

NOTAS FINAIS

NÃO, NÃO É NORMAL. Uma vez mais, depois de meses, por vezes anos, de investigações judiciais, buscas em plena campanha eleitoral. Não sei se é alguma prova de sobrevivência na vertigem de mudanças onde elas podem acontecer por impulso de quem governa ou é só um exercício inconsequente de egos judiciais que minam a confiança nas instituições, mas é tempo de dizer basta a tanto deslaço. Ninguém está acima da lei e da salvaguarda do exercício democrático.

ALGUÉM ACREDITA. As gémeas são a expressão de uma realidade, quase normalizada. Alguém acredita que o Presidente da República, pelo seu perfil de personalidade, de sempre, e pela doutrina Hugo Mendes, “não podemos mesmo perder o apoio político do Presidente da República. (…) Ele é o nosso principal aliado político, mas pode transformar-se no nosso pior pesadelo.”, não tem nada a ver com o caso das gémeas e não se desmultiplicou, direta ou indiretamente, em situações similares?