Donald Trump. O primeiro condenado

Donald Trump. O primeiro condenado


O caso ‘dinheiro obscuro’ é o centro das trinta e quatro acusações que condenaram Trump, que terá pago a Stormy Daniels, atriz pornográfica, 130 mil dólares para que mantivesse o silêncio quanto a um alegado caso que ambos tiveram em 2006.O procurador Alvin Bragg garante que foram seguidos‘os factos e a lei’.


Numa altura em que as eleições se aproximam a passos largos, o candidato republicano Donald Trump tornou-se o primeiro Presidente norte-americano (ou candidato dos principais partidos) a ser condenado em tribunal.

O ambiente político nos Estados Unidos está longe de ser o que um dia foi, com uma polarização sem precedentes num dos momentos mais importantes para o país, com a ordem internacional liberal, que os americanos lideram, sob ataque em várias frentes. Assim, os julgamentos de Trump e a evidentes fragilidades do Presidente incumbente, Joe Biden, que cumprirá 82 anos poucoas dias depois das eleições, não abonam a favor da credibilidade dos parceiros transatlânticos.

‘Dinheiro obscuro’

O caso ‘dinheiro obscuro’ é o centro das trinta e quatro acusações de Trump, que terá pago a Stormy Daniels, atriz pornográfica, 130 mil dólares para que mantivesse o silêncio quanto a um alegado caso que ambos tiveram em 2006. A situação em si não é ilegal, nem sequer especialmente rara nos Estados Unidos, mas o procurador de Manhattan, Alvin Bragg, acusou Trump de falsificar registos para encobrir o pagamento. Tê-lo-ia feito para que Daniels não falasse publicamente do caso em 2016, já que poderia prejudicar gravemente a primeira campanha presidencial do multimilionário. Bragg considerou que se tratava de uma forma inapropriada de ocultar informações aos eleitores.

Em causa está também o facto de Trump ter delegado o pagamento a Michael Cohen, então funcionário do departamento jurídico da Trump Organization. Este advogado tornou-se a peça decisiva do julgamento, ao testemunhar contra o próprio Donald Trump, que afirmava ter pago a Cohen por serviços relacionados com o seu departamento.

Segundo o The Atlantic, os procuradores apresentaram um caso metódico de várias semanas com um «testemunho dramático» da própria Stormy Daniels. Também tem sido notado que mesmo que o julgamento tenha assentado em documentos, Cohen foi a testemunha crucial que afirmou que Trump tinha concordado com o plano de encobrimento, o que levou a equipa legal do ex-presidente a uma «tentativa furiosa» de pôr em causa a credibilidade de Michael Cohen, «acusando-o de mentir em tribunal repetidamente, mas sem apresentar uma narrativa convincente em alternativa, sendo evidentemente incapazes de persuadir o júri».

A juntar a este julgamento, o 45.º presidente dos Estados Unidos conta ainda com mais alguns casos de incontornável relevância. No Estado de Nova Iorque enfrenta acusações de fraude fiscal, desde que a procuradora geral nova-iorquina alegou que Trump, os seus filhos mais velhos e o financeiro Allen Weisselberg manipulavam o valor real das suas propriedades com vista a conseguir melhores condições de crédito ou pagar menos impostos. Ainda em Manhattan, Trump foi acusado de difamação e assédio sexual por parte de E. Jean Carroll, uma jornalista americana, acabando por ser condenado a indemnizá-la em cinco milhões de dólares. Também o Departamento de Justiça agiu judicialmente contra Donald Trump quando o ex-Presidente decidiu levar consigo documentos da Casa Branca no fim do mandato. A mesma organização estatal acusou o republicano de cometer quatro crimes quando tentou reaver o poder após ter perdido as eleições de 2020, processo que ainda se encontra a decorrer na justiça. Ainda no Estado da Geórgia, Donald Trump enfrenta acusações de subversão eleitoral, quando em 2020 alegou que o ato eleitoral teria sido manipulado.

O impacto político

Sondagens da Universidade de Emerson (referidas na edição do Nascer do SOL de dia 17 de maio) indicam que o veredito do processo judicial não impactaria a intenção de voto de cerca de 40% dos inquiridos, com mais de 30% a revelarem que apoiariam ainda mais Donald Trump em todos os sete swings states (Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin).

Já depois de emitido o veredito, Boyd Wagner, presidente da Euronews Polls Centre, disse que «uma resposta imediata nas sondagens é difícil de ler. Os primeiros números mostram que 50% acreditam que os tribunais tomaram a decisão correta. 10% dos republicanos admitem que há menos probabilidade de votarem em Trump. 25% dos independentes dizem o mesmo. De certa forma bate certo com o que vimos antes do veredito, mas um pouco pior para Trump do que aquilo que indicavam essas sondagens anteriores».

Wagner acredita ainda que «a longo prazo, as pessoas não ficarão perturbadas com esta situação. É provável que haja um grupo de eleitores que dizem ‘não podemos ter um indivíduo condenado como Presidente’, mas creio que esses eleitores éticos e morais já o tinham abandonado depois do disparate pós-eleitoral em 2020».

Posto isto, resta apenas esperar para que se apure realmente o impacto real de toda esta trama de Trump com a Justiça, mas é de prever que o ex-presidente tire partido da situação utilizando-a para próprio aproveitamento político – acusando Joe Biden e o sistema judicial de realizarem uma «caça às bruxas». Reagindo à condenação, Trump disse que o «verdadeiro veredito» será a eçeoção de novembro e acusou o juiz de ser «corrupto». A sentença, que pode ir até quatro anos de prisão, deverá ser conhecida no dia 11 de junho. Parece improvável que Trump seja efetivamente preso, mas mesmo que isso aconteça poderá ir a votos e ser eleito.

As eleições de novembro serão, em qualquer dos casos, marcadas por inúmeros casos polémicos e os debates entre os dois principais candidatos vão fazer correr muita tinta e gerar paixões, num período decisivo para o mundo o livre.