O discurso do ódio é sempre dos outros


Será preciso explicar que aqueles que defendem o controlo das fronteiras o fazem não por odiarem os imigrantes, mas por considerarem que é a atitude mais sensata?


Andei este fim de semana pela Feira do Livro e tive oportunidade de descobrir umas quantas novidades. Entre elas, o Manifesto pelas Identidades e Famílias – Portugal Plural, do anterior ministro da Educação, João Costa. Pelo que percebi, trata-se de uma resposta ao livro Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade, que tanta tinta fez correr.

De Identidade e Família, organizado por figuras conotadas com a direita conservadora como Bagão Félix e Paulo Otero, sei apenas o que se discutiu nos jornais. Henrique Raposo, no Expresso, considerou, se não me engano, as opiniões ali veiculadas «bafientas». Sei também que o livro não teria sofrido um décimo dos ataques que sofreu se não tivesse sido apresentado por Pedro Passos Coelho.

Nasci e cresci numa família dita ‘tradicional’ e é esse o modelo com que me identifico. Evidentemente não me considero melhor nem pior pessoa por causa disso. Conheço muita gente que seguiu um caminho diferente, e também não vejo razão para essas pessoas se considerarem melhores ou piores.

E aí é que bate o ponto. João Costa, no seu Manifesto, apregoa a sua compaixão por todo o tipo de famílias. Nada contra. Mas depois traça uma linha, uma espécie de trincheira, e diz, na melhor tradição maniqueísta, que os que se encontram do lado de lá dessa linha estão cheios de ódio pelo seu semelhante.

A palavra ódio tem sido usada a torto e a direito, a propósito e a despropósito. Por exemplo na questão dos imigrantes. Será preciso explicar que aqueles que defendem o controlo das fronteiras o fazem não por odiarem os imigrantes, mas por considerarem que é a atitude mais sensata? Qualquer um perceberá que se trata de coisas muito diferentes.

O mesmo, julgo, se aplica à questão da família. Se alguém faz a apologia da família tradicional não é necessariamente por odiar todas as outras configurações.

Devo dizer, aliás, que sinto muitas vezes mais ódio e mais agressividade da parte dos zelosos defensores da humanidade oprimida do que nos que são acusados de opressão. O_Manifesto de João Costa é um desses casos: a quantidade de vezes que a palavra “ódio” aparece aplicada àqueles que têm o atrevimento de pensar de uma forma diferente da sua deve querer dizer alguma coisa sobre os sentimentos do seu autor.

O discurso do ódio é sempre dos outros


Será preciso explicar que aqueles que defendem o controlo das fronteiras o fazem não por odiarem os imigrantes, mas por considerarem que é a atitude mais sensata?


Andei este fim de semana pela Feira do Livro e tive oportunidade de descobrir umas quantas novidades. Entre elas, o Manifesto pelas Identidades e Famílias – Portugal Plural, do anterior ministro da Educação, João Costa. Pelo que percebi, trata-se de uma resposta ao livro Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade, que tanta tinta fez correr.

De Identidade e Família, organizado por figuras conotadas com a direita conservadora como Bagão Félix e Paulo Otero, sei apenas o que se discutiu nos jornais. Henrique Raposo, no Expresso, considerou, se não me engano, as opiniões ali veiculadas «bafientas». Sei também que o livro não teria sofrido um décimo dos ataques que sofreu se não tivesse sido apresentado por Pedro Passos Coelho.

Nasci e cresci numa família dita ‘tradicional’ e é esse o modelo com que me identifico. Evidentemente não me considero melhor nem pior pessoa por causa disso. Conheço muita gente que seguiu um caminho diferente, e também não vejo razão para essas pessoas se considerarem melhores ou piores.

E aí é que bate o ponto. João Costa, no seu Manifesto, apregoa a sua compaixão por todo o tipo de famílias. Nada contra. Mas depois traça uma linha, uma espécie de trincheira, e diz, na melhor tradição maniqueísta, que os que se encontram do lado de lá dessa linha estão cheios de ódio pelo seu semelhante.

A palavra ódio tem sido usada a torto e a direito, a propósito e a despropósito. Por exemplo na questão dos imigrantes. Será preciso explicar que aqueles que defendem o controlo das fronteiras o fazem não por odiarem os imigrantes, mas por considerarem que é a atitude mais sensata? Qualquer um perceberá que se trata de coisas muito diferentes.

O mesmo, julgo, se aplica à questão da família. Se alguém faz a apologia da família tradicional não é necessariamente por odiar todas as outras configurações.

Devo dizer, aliás, que sinto muitas vezes mais ódio e mais agressividade da parte dos zelosos defensores da humanidade oprimida do que nos que são acusados de opressão. O_Manifesto de João Costa é um desses casos: a quantidade de vezes que a palavra “ódio” aparece aplicada àqueles que têm o atrevimento de pensar de uma forma diferente da sua deve querer dizer alguma coisa sobre os sentimentos do seu autor.