25 de Abril de 2024


O progresso nos últimos 50 anos tem sido tremendo, focado na capacitação e nas pessoas. O país transformou-se e a ciência em Portugal também reflete este progresso significativo.


Comemoramos os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e o Dia Nacional dos Cientistas, a 16 de maio, celebrando o nascimento de José Mariano Gago, o arquiteto da ciência no séc. XXI em Portugal. Como muito bem recordou o Presidente da República [1], este é também o Dia Internacional da Luz, em homenagem à invenção do laser, pela primeira vez demonstrado a 16 de Maio de 1960 por Theodore Maiman. A 1 de maio, um antigo estudante do Técnico, Nuno Loureiro, passou a liderar um dos mais importantes centros de investigação do Mundo em Fusão Nuclear, no MIT, nos Estados Unidos. Na semana passada, Vítor Cardoso, físico do Técnico, lançou o seu livro de divulgação científica  “O Eclipse do Tempo – Guia para Entrar em Buracos Negros”. Durante a próxima semana, dois prémios Nobel da Física, Alain Aspect, Nobel de 2022 e Anne L’Huillier, Nobel de 2023, estarão em Portugal e no Técnico, em reuniões científicas e em palestras. Toda esta atividade, que se observa em muitas áreas da ciência em Portugal, é reveladora do quão internacionalizada e dinâmica a comunidade científica em (ou com origem em) Portugal se tornou. 

As comemorações do 25 de Abril permitiram-nos perceber qual a dimensão qualitativa deste progresso. Um estudo [2] de Dias Agudo, presidente da JNICT (a predecessora da Fundação para a Ciência e a Tecnologia) logo após o 25 de Abril de 1974 e até 1976, demonstrava (em 1983) a nossa diferença relativamente a outros países: apenas 0,6 investigadores por mil ativos, muito abaixo dos países da Comunidade Económica Europeia. Hoje, os dados da Pordata [3] mostram que a dimensão relativa da comunidade científica é, pelo menos, vinte vezes maior do que no pós-25 de Abril, e comparável com o número de investigadores equivalente a tempo integral por mil pessoas na população ativa de muitos outros países da União Europeia. Um outro estudo de Romão Dias e colaboradores e dados da Pordata [3], contabilizam cerca de 1700 doutoramentos concedidos num período de 16 anos, entre 1970 e 1985, dos quais 54% por equivalência de graus obtidos no estrangeiro e os restantes 785 obtidos em Portugal. Em 2022, doutoraram-se em Portugal 2317 pessoas; em apenas um ano, quase o triplo dos doutoramentos nacionais no período 1970-1985.

Estes números demonstram o quanto progredimos em Ciência e Tecnologia nos últimos 50 anos. Muitas outras evidências, menos quantitativas, revelam também como muitas pessoas, áreas, e instituições têm agora reputação e visibilidade internacionais, algo ímpar na nossa sociedade.

A 25 de Abril de 2024, o Presidente de França discursou na Sorbonne [4]. A Europa foi o tema central, mas a ciência e inovação estiveram presentes de forma significativa. Emmanuel Macron reforçou a importância do objetivo de investir 3% do PIB em ciência e inovação, o papel decisivo da ciência e do ensino superior para a Europa, identificou sectores estratégicos para a Europa na interface com a ciência, e a importância decisiva do talento para as instituições científicas e para todo o tecido social, económico e industrial europeu.

Vale a pena reforçar o papel do contexto europeu como reflexo do que aprendemos com as celebrações do 25 de Abril; se este foi o momento libertador, a verdadeira transformação na Ciência ocorreu com a entrada de Portugal na União Europeia, com muitas das alterações, nomeadamente de fluxo financeiro, do nosso sistema científico com origem exógena e fruto da integração na União Europeia.

O progresso nos últimos 50 anos tem sido tremendo, focado na capacitação e nas pessoas. Os resultados são notáveis; o país transformou-se, e a ciência em Portugal também reflete este progresso significativo. Hoje partimos de um patamar qualitativamente mais elevado. As reflexões e celebrações por ocasião destas efemérides criam um ímpeto adicional para as transformações que, como comunidade, em Portugal e na Europa, ambicionamos e para que, em 2074, possamos celebrar os ainda maiores sucessos dos próximos 50 anos da ciência em Portugal e dos 100 anos do 25 de abril de 1974.

Luís Oliveira e Silva

Departamento de Física, Instituto Superior Técnico

web: http://web.tecnico.ulisboa.pt/luis.silva/

[1] https://www.presidencia.pt/atualidade/toda-a-atualidade/2024/05/presidente-da-republica-assinala-o-dia-nacional-dos-cientistas/

[2] F. R. Dias Agudo, Scientific Research in Portugal, In: Memórias da Academia das Ciências de Lisboa: Classe de Ciências, Tomo XXV, p. 33-45 (1983)

[3] https://www.pordata.pt

[4] https://www.timeshighereducation.com/news/rd-spending-target-must-be-priority-europe-macron-says

25 de Abril de 2024


O progresso nos últimos 50 anos tem sido tremendo, focado na capacitação e nas pessoas. O país transformou-se e a ciência em Portugal também reflete este progresso significativo.


Comemoramos os 50 anos do 25 de Abril de 1974 e o Dia Nacional dos Cientistas, a 16 de maio, celebrando o nascimento de José Mariano Gago, o arquiteto da ciência no séc. XXI em Portugal. Como muito bem recordou o Presidente da República [1], este é também o Dia Internacional da Luz, em homenagem à invenção do laser, pela primeira vez demonstrado a 16 de Maio de 1960 por Theodore Maiman. A 1 de maio, um antigo estudante do Técnico, Nuno Loureiro, passou a liderar um dos mais importantes centros de investigação do Mundo em Fusão Nuclear, no MIT, nos Estados Unidos. Na semana passada, Vítor Cardoso, físico do Técnico, lançou o seu livro de divulgação científica  “O Eclipse do Tempo – Guia para Entrar em Buracos Negros”. Durante a próxima semana, dois prémios Nobel da Física, Alain Aspect, Nobel de 2022 e Anne L’Huillier, Nobel de 2023, estarão em Portugal e no Técnico, em reuniões científicas e em palestras. Toda esta atividade, que se observa em muitas áreas da ciência em Portugal, é reveladora do quão internacionalizada e dinâmica a comunidade científica em (ou com origem em) Portugal se tornou. 

As comemorações do 25 de Abril permitiram-nos perceber qual a dimensão qualitativa deste progresso. Um estudo [2] de Dias Agudo, presidente da JNICT (a predecessora da Fundação para a Ciência e a Tecnologia) logo após o 25 de Abril de 1974 e até 1976, demonstrava (em 1983) a nossa diferença relativamente a outros países: apenas 0,6 investigadores por mil ativos, muito abaixo dos países da Comunidade Económica Europeia. Hoje, os dados da Pordata [3] mostram que a dimensão relativa da comunidade científica é, pelo menos, vinte vezes maior do que no pós-25 de Abril, e comparável com o número de investigadores equivalente a tempo integral por mil pessoas na população ativa de muitos outros países da União Europeia. Um outro estudo de Romão Dias e colaboradores e dados da Pordata [3], contabilizam cerca de 1700 doutoramentos concedidos num período de 16 anos, entre 1970 e 1985, dos quais 54% por equivalência de graus obtidos no estrangeiro e os restantes 785 obtidos em Portugal. Em 2022, doutoraram-se em Portugal 2317 pessoas; em apenas um ano, quase o triplo dos doutoramentos nacionais no período 1970-1985.

Estes números demonstram o quanto progredimos em Ciência e Tecnologia nos últimos 50 anos. Muitas outras evidências, menos quantitativas, revelam também como muitas pessoas, áreas, e instituições têm agora reputação e visibilidade internacionais, algo ímpar na nossa sociedade.

A 25 de Abril de 2024, o Presidente de França discursou na Sorbonne [4]. A Europa foi o tema central, mas a ciência e inovação estiveram presentes de forma significativa. Emmanuel Macron reforçou a importância do objetivo de investir 3% do PIB em ciência e inovação, o papel decisivo da ciência e do ensino superior para a Europa, identificou sectores estratégicos para a Europa na interface com a ciência, e a importância decisiva do talento para as instituições científicas e para todo o tecido social, económico e industrial europeu.

Vale a pena reforçar o papel do contexto europeu como reflexo do que aprendemos com as celebrações do 25 de Abril; se este foi o momento libertador, a verdadeira transformação na Ciência ocorreu com a entrada de Portugal na União Europeia, com muitas das alterações, nomeadamente de fluxo financeiro, do nosso sistema científico com origem exógena e fruto da integração na União Europeia.

O progresso nos últimos 50 anos tem sido tremendo, focado na capacitação e nas pessoas. Os resultados são notáveis; o país transformou-se, e a ciência em Portugal também reflete este progresso significativo. Hoje partimos de um patamar qualitativamente mais elevado. As reflexões e celebrações por ocasião destas efemérides criam um ímpeto adicional para as transformações que, como comunidade, em Portugal e na Europa, ambicionamos e para que, em 2074, possamos celebrar os ainda maiores sucessos dos próximos 50 anos da ciência em Portugal e dos 100 anos do 25 de abril de 1974.

Luís Oliveira e Silva

Departamento de Física, Instituto Superior Técnico

web: http://web.tecnico.ulisboa.pt/luis.silva/

[1] https://www.presidencia.pt/atualidade/toda-a-atualidade/2024/05/presidente-da-republica-assinala-o-dia-nacional-dos-cientistas/

[2] F. R. Dias Agudo, Scientific Research in Portugal, In: Memórias da Academia das Ciências de Lisboa: Classe de Ciências, Tomo XXV, p. 33-45 (1983)

[3] https://www.pordata.pt

[4] https://www.timeshighereducation.com/news/rd-spending-target-must-be-priority-europe-macron-says