Crise do Mar Vermelho: Quatro cenários possíveis

Crise do Mar Vermelho: Quatro cenários possíveis


«É imperativo que os agentes portugueses mais expostos estejam atentos aos desenvolvimentos e apostem no aumento da resiliência das suas cadeias de abastecimento, identificando rotas alternativas e aumentando níveis de stock para assegurar o abastecimento»,  alerta estudo.


O Mar Vermelho é um dos pontos-chave do comércio internacional. O tráfego de mercadorias nas suas águas representa cerca de 12% do comércio global e 40% das transações entre a Ásia e a Europa. Desde outubro do ano passado que este normal funcionamento foi dificultado pelos ataques das forças Houthi do Iémen, e ainda que grandes potências como os Estados Unidos e o Reino Unido tenham reagido, a crise não está perto de ser resolvida.

Perante a situação, a Boston Consulting Group (BCG) – empresa global de consultoria de gestão, líder mundial no aconselhamento sobre estratégia de negócios – realizou um estudo que prevê quatro desfechos possíveis para este conflito. Carlos Elavai, Manager Director e Partner da BCG em Lisboa, garante que «a crise no Mar Vermelho tem tido um impacto substancial no comércio mundial, aumentando os prazos de entrega das mercadorias, bem como os custos de transporte, afetando negativamente as empresas e as economias mais expostas». Elavai deixa ainda avisos às empresas portuguesas: «É imperativo que os agentes portugueses mais expostos estejam atentos aos desenvolvimentos e apostem no aumento da resiliência das suas cadeias de abastecimento, identificando rotas alternativas e aumentando níveis de stock para assegurar o abastecimento».

Quanto aos desfechos, a BCG – através de um modelo baseado na reorientação dos navios e alteração de rotas comerciais, na procura pelos serviços de transporte marítimo de mercadorias, no incremento de velocidade da frota e no aumento da capacidade de carga dos navios – prevê quatro.

Um dos desfechos de resolução imediata prevê que «as forças militares desativarão as infraestruturas de ataque dos Houthi e a atividade marítima normal será retomada no segundo trimestre de 2024. A reorientação dos navios e das rotas comerciais continuará ao longo do mês e a procura dos serviços de transporte de mercadorias a curto prazo manter-se-á reduzida, mas os transportes marítimos deverão manter a velocidade da frota e a capacidade de transporte corresponderá aos níveis anteriores à crise».

Outro irá prolongar-se em 2024, prevendo que «os ataques dos Houthis poderão continuar até ao final do ano, parando após um frágil acordo de cessar-fogo. Neste cenário, os transportadores redirecionarão 90% da sua frota e, no segundo semestre, deverão aumentar a velocidade dos navios em 6%, reforçando também a capacidade de carga. Na mesma altura, os níveis de procura deverão ser retomados à medida que há uma adaptação à ameaça persistente, e as taxas de frete marítimo poderão triplicar ou até quadruplicar em relação aos níveis anteriores à crise».

Outro desfecho com fim no início de 2025, onde a BCG aponta que «os ataques poderão ser intermitentes, permanecendo além do final de 2024. Neste cenário, a crise só deverá terminar no início de 2025, à medida que os Houthis vão perdendo capacidades. Em linha com este quadro, os transportadores deverão redirecionar 85% dos navios, aumentar a velocidade da frota em 7% e apostar no incremento da capacidade de transporte e carga. Os clientes deverão retomar a procura na segunda metade do ano, o que poderá conduzir ao aumento das taxas de fretes marítimos».

E, por fim, uma crise regional da Península Arábica, que sendo a última é também a menos desejável, já que «a consultora admite, por fim, a possibilidade de os ataques continuarem a ser intensos e de a guerra culminar no envolvimento da Península Arábica, com um vasto impacto económico que se prolongará até 2025. Neste cenário, o estreito de Bab el-Mandeb poderá ser encerrado e os transportadores deverão redirecionar toda a frota, aumentando a velocidade dos navios em 7% e a procura pelo transporte marítimo do Extremo Oriente para a Europa poderá registar uma quebra de 3% face aos níveis atuais. Desta forma, a Península Arábica poderá perder a sua posição estratégica como centro de reexportação.».

A BCG termina com recomendações às transportadoras, aconselhando que «devem adaptar-se ao contexto geopolítico, uma vez que o aumento generalizado das tensões tem sido uma realidade com consequências diretas no setor e o acesso ininterrupto aos principais corredores do comércio de contentores não é um dado adquirido». «O setor deve aproveitar a oportunidade para repensar estratégias, modernizar equipamentos e reforçar os recursos humanos para um mundo onde a estabilidade é, cada vez mais, a exceção e não a regra», finaliza a consultora.