O Banco Central Europeu (BCE) decidiu, esta quinta-feira, manter as taxas de juro Euribor, o que irá afetar as prestações de quem tem crédito à habitação. A decisão, que, já era esperada pelos analistas, foi avançada pela entidade liderada por Christine Lagarde. É a quarta vez consecutiva que o organismo decide não mexer nos juros. Assim sendo, as taxas de referência para a moeda única mantêm-se entre 4% e 4,5%.
Apesar de a taxa de inflação ter vindo a desacelerar – estando agora nos 2,6% – o BCE já tinha avisado que é preciso cautela e que as taxas não descem até a inflação chegar ao objetivo dos 2%.
Christine Lagarde já tinha alertado que as taxas de juro podiam vir a descer no verão, no entanto, é preciso que os objetivos sejam alcançados. «Embora a maioria das medidas da inflação subjacente tenham registado novo abrandamento, as pressões internas sobre os preços permanecem elevadas, devido, em parte, ao forte crescimento dos salários», justifica, acrescentando que «as condições de financiamento são restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação».
Mário Martins, analista da ActivTrades, diz ao Nascer do SOL que, «não havendo surpresas em relação à decisão de manter a política monetária inalterada, o BCE deu no entanto um sinal muito importante sobre o próximo passo, nomeadamente ao reduzir significativamente a previsão da inflação para os 2.3% este ano, em vez dos 2.7% previstos anteriormente».
Para o analista, o facto de a economia da zona euro «estar igualmente mais fraca que o antecipado abre espaço para um corte dos juros no curto médio prazo, devendo tal ocorrer antes da Fed [Reserva Federal dos Estados Unidos] e provavelmente ainda no primeiro semestre».
É que, no mesmo dia, o BCE adiantou ainda as suas mais recentes previsões. E são mais pessimistas. Assim, reviu em baixa o crescimento este ano de 0,8% para 0,6%. Por outro lado, acredita que a inflação vai desacelerar mais rápido, abrandando para 2,3% em 2024, mais próximo da meta de 2%.
Inflação vai descendo
Ainda esta semana, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) anunciou que a inflação homóloga nos países que a compõem diminuiu de 6% em dezembro para 5,7% em janeiro. A inflação global caiu em dois terços dos países, com as maiores descidas (mais de um ponto percentual) registadas na República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria e Islândia. A inflação situou-se abaixo de 3% (ou foi negativa) em 14 países da OCDE no mês em análise, em comparação com 11 países em dezembro.
A inflação sem produtos alimentares e energéticos (inflação subjacente) manteve-se «globalmente estável», atingindo 6,6% em janeiro face aos 6,7%, e manteve-se superior à inflação global nos últimos nove meses consecutivos.
Já a inflação energética «tem sido negativa desde maio de 2023» e assim permaneceu em 23 países da OCDE.
Recorde-se que a estimativa provisória do Eurostat referente ao mês de fevereiro aponta para uma descida da inflação global da zona euro (para 2,6%) e da inflação subjacente, com uma descida lenta dos preços dos produtos energéticos.
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa defende ao Nascer do SOL que este resultado era «expectável», explicando que «as políticas monetárias energicamente restritivas, sobretudos nos países ocidentais, nomeadamente nos EUA e na Zona Euro, desaceleraram os preços no consumidor, e a par da descida da cotação do barril de petróleo, contribuíram para o abrandamento da inflação».
Sobre o que esperar daqui para a frente, o economista avança que, nos últimos meses, o preço do barril de petróleo «inverteu a sua tendência de queda, ameaçando a estabilidade de preços tão almejada pelos bancos centrais da Europa e dos EUA». Também no Ocidente, adianta, «a inflação subjacente, que exclui energia e alimentos, mantem-se desancorada, bem acima de 2%, objetivo da Reserva Federal dos EUA e do Banco Central Europeu». Olhando para o mês de fevereiro, a inflação subjacente homóloga na Zona Euro e nos EUA «fixou-se em 2,8% e 3,9% respetivamente, bem acima da estabilidade de preços de 2% dos bancos centrais ocidentais». Já a inflação dos serviços nos países ocidentais «é ainda uma realidade que ameaça a estabilidade de preços, apesar da deflação que se vive na economia chinesa que tem puxado a inflação dos países da OCDE para baixo».