José Pinto. O homem que abraçou a arte

José Pinto. O homem que abraçou a arte


1929-2024 . De engenheiro eletrotécnico a ator.


Tinha um rosto forte, mas simpático. Falava pausadamente e com sotaque do norte. Parecia que a calma habitava dentro de si. Acreditava que se nasce já bom ator e apaixonou-se pelo teatro ainda em pequenino, mas não imaginava que a representação viria a ser a sua vida. «Um homem que sempre procurou dar o melhor de si aos outros, seja através do pequeno ou grande ecrã, teatro ou cara a cara com aqueles que lhe foram mais próximos», é desta forma que é relembrado pelos seus. O ator José Pinto, morreu no dia 15 de fevereiro, «calmamente em sua casa», aos 95 anos.

Era engenheiro eletrotécnico e, no princípio, a representação era apenas um hobby. No entanto, o tempo encarregou-se de o colocar no lugar onde pertencia. Começou a carreira artística em grupos de amadores, tendo trabalhado no Grupo do Sporting Candalense entre 1959 e 1967. No ano seguinte juntou-se ao Teatro Experimental do Porto (TEP), tornando-se num dos atores que mais atuaram pela companhia.

Segundo a ficha disponível na base de dados do Centro de Estudos de Teatro (CET), o seu primeiro espetáculo do TEP foi Gorgónio, de Tulio Pinelli, em 1962. Ainda na década de 60 – como amador –, integrou o elenco de O Auto da Alma, de Gil Vicente, e O Tio Simplício, de Almeida Garrett. De acordo com o Memoriale do Cinema Português, de Jorge Leitão Ramos, «era-lhe impensável abandonar a atividade profissional como eletrotécnico para abraçar a aventura do teatro. Todavia, em 1967, o TEP volta a convidá-lo, para O Mistério da Fábrica de Chocolates, de José António Ribeiro e José Pinto começa a pensar que talvez seja possível conciliar as duas atividades». Seguiu-se a televisão e o cinema. Tinha mais de 60 anos quando o cineasta Manoel de Oliveira o convidou para fazer parte do filme Vale Abraão. «O que fez com que aquele ator modesto e de limitada popularidade confinada ao Porto fosse catapultado para uma audiência nacional e internacional», escreve Jorge Leitão Ramos.

Em televisão participou em inúmeras novelas e séries da RTP, SIC e TVI, como Cidade Despida, Conta-me Como Foi, Perfeito Coração e Amanhecer. O ator ganhou o prémio Sophia de melhor ator secundário em Capitão Falcão e o prémio da fundação Gestão dos Direitos dos Artistas.