Riade – Jorge Jesus só tem motivos para se sentir satisfeito após alguns tempos em que viu a sua carreira abanar devido a algumas escolhas mal acertadas e que o empurraram para insucessos dolorosos. Ainda recentemente, Paul Williams, um categorizado jornalista australiano que se especializou em escrever a história de vários clubes asiáticos, considerava o Al Hilal, onde o português agora se encontra (e bem, já que lidera o campeonato saudita com sete pontos de avanço sobre o segundo classificado, o Al Nassr de Luís Castro e Cristiano Ronaldo), como o mais forte do continente. «They are intangibles», inicia ele um artigo publicado no The Asian Game. «Há em redor do Al Hilal uma aura que só se reconhece nos grandes clubes do mundo. Alguns chamar-lhe-ão arrogância, e até podem ter razão, mas usam essa arrogância como uma medalha espetada no peito. Acreditam até ao fundo da alma que são os melhores e os maiores. Quando assistimos a um jogo do Al Hilal no Estádio Universitário do Rei Saud sentimos a verdadeira atmosfera de toda a cidade de Riade no ar».
O Al Hilal Saudi Football Club foi fundado no dia 16 de outubro de 1967 depois de uma longa cisão entre os dirigentes de um grupo que se denominava Clube da Juventude e que tinha o apoio do rei Saud bin Abdulaziz Al Saud. Com a saída do presidente Abdul Rahman bin Saeed e do seu conjunto de apoiantes mais próximos, e a queda de Al Saud, vítima de um golpe de Estado que o atirou para o exílio desde 1964 até à data da sua morte (23 de fevereiro de 1969) inventou-se o QuartoCrescente, pois é isso queAl Hilal significa em árabe. E não foi pelo facto de o seu meio irmão, Faisal bin Abdulaziz Al Saud, ter tomado o lugar no trono que o AlHilal continuou a ser o clube preferido da realeza saudita o que lhe dá, naturalmente, a tal aura de que nos fala Paul Williams. E, desde cedo, tornou-se ganhador como nenhum outro na Arábia Saudita. Hoje tem o soberbo palmarés de 18 títulos de campeão nacional, 10 Taças do Rei, 13 Taças do Príncipe, três Supertaças, sete Taças da Federação (a prova nacional que vigorava antes da entrada no profissionalismo), uma Taça dos Fundadores, quatro Taças dos Campeões Asiáticos, duas Taças dasTaças da Ásia e duas Supertaças da Ásia. Some-se a isto duas Taças dos Campeões do Golfo Pérsico, duas Taças dos Campeões Árabes, uma Taça das Taças dos Países Árabes e uma Supertaça dos Países Árabes. Impressionante, claro! Mesmo que olhemos para este palmarés com outros olhos já que inclui competições às quais não estamos habituados ainda que continuemos a alimentar a desinteressantíssima Taça da Liga, sofra ela as transformações que sofrer.
Rivelino, e de concorde!
Não fora a incompreensível teimosia de Neymar em não ser um jogador competitivo, poder-se-ia dizer que esse é o nome mais sonante do plantel que Jorge Jesus tem ao dispor – neste momento, como durante a maior parte da sua (pseudo) carreira, o brasileiro encontra-se lesionado. Um português faz, por seu lado, parte das contas: Ruben Neves.
Em 1979, o Al Hilal apostou na contratação de um treinador de grande fama mundial, Mário Zagallo, falecido no mês passado, na altura ainda a viver os louros da tremenda vitória da inesquecível seleção brasileira de 1970, no México, para mim, desculpem lá o mau jeito, a melhor equipa do mundo de todos os tempos. Era, de certa forma, uma abertura ao mercado internacional até porque, na época anterior tinha chegado outro membro desse conjunto maravilhoso, o pé-canhão Roberto Rivelino, que jogou com o emblema do Quarto Crescente até 1981, marcando 25 golos em 57 jogos. A seu lado jogou outro estrangeiro, o tunisino Néjib Limam, que estivera presente com a sua seleção na fase final do Mundial de 1978, na Argentina. Mas Rivelino era Rivelino. Aterrou em Riade num Concorde e tinha, na pista, um Rolls Royce preparado para o conduzir ao hotel. E como ele o merecia!