Açores. PS racha ao meio

Açores. PS racha ao meio


A vitória de Bolieiro nos Açores e a decisão de governar sozinho deixou o PS dividido. Os críticos são muitos mas fazem um pacto de silêncio para não prejudicar o líder em plena campanha eleitoral.


Ainda esta quinta-feira, Pedro Nuno Santos assumiu que a pressão sobre o PS tem vindo a subir, depois de o presidente do PSD/Açores e também líder da coligação PSD/CDS-PP/PPM – que venceu as eleições regionais de domingo com 42,08% dos votos, elegendo 26 deputados – ter pedido aos socialistas que assumam o seu compromisso com a estabilidade, não excluindo nenhum partido de conversações.

Um apelo que não agradou ao secretário-geral do PS. Afirmando que quando o PSD perde alia-se ao Chega e quando ganha quer que o PS o suporte, o que no seu entender, trata-se de uma «fórmula fantástica» para garantir que é sempre poder. «Faço um apelo para que sejamos todos coerentes. Nós sabemos que a coligação [PSD/CDS-PP/PPM] venceu e que a coligação, mais a Iniciativa Liberal e o Chega tem a maioria, isso é o que nós todos sabemos. Aquilo que o PSD quer é que, quando perde as eleições, faz uma aliança com o Chega, quando ganha as eleições quer que o PS suporte o Governo, isto era uma fórmula fantástica, era a forma de garantir que o PSD era sempre poder», salientou.

 

Socialistas escondem críticas em nome da unidade

«O Pedro Nuno decidiu está decidido». Com esta frase, um dos mais críticos da opção de o PS não se ter disponibilizado desde logo a deixar passar o governo de Bolieiro nos Açores, encerra a questão… para já.

A surpresa do resultado eleitoral deste fim de semana nos Açores deixou os socialistas divididos quanto ao que fazer. Entre os mais moderados e vários apoiantes de sempre do secretário-geral, foram muitas as vozes a defender que, não tendo nenhuma alternativa para governar o arquipélago, os socialistas deveriam garantir a viabilização do governo da AD.

A declaração de Bolieiro, lado a lado com Luís Montenegro, garantindo que se propunha governar sozinho, sem entendimentos com o Chega, apanhou os socialistas de surpresa e «Pedro Nuno Santos perdeu a chance de ter um golpe de asa», disse-nos um alto dirigente dos socialistas.

Embora a decisão estivesse na mão de Vasco Cordeiro, as instruções já tinham sido dadas diretamente do Largo do Rato. Pedro Nuno Santos não queria que os socialistas açorianos aceitassem viabilizar o Governo da AD. E assim foi, o líder do PS Açores anunciou, esta sexta-feira, o voto contra da bancada socialista ao programa de governo da coligação do PSD, CDS e PPM.

 

Viabilizar a AD era um bom sinal para o centro

Ao que sabe o Nascer do SOL, Vasco Cordeiro não concordava com esta opção, mas acatou a decisão do líder. À semelhança do que fizeram vários dirigentes socialistas (como Alexandra Leitão, Carlos César ou Miguel Prata Roque) na noite eleitoral, também Cordeiro recuou na sua posição, para não prejudicar a campanha nacional de Pedro Nuno Santos.

Para além de considerarem que é obrigação do PS evitar que o Chega possa chegar ao governo, mesmo que isso signifique viabilizar um governo da AD, são muitos os socialistas que consideram que Pedro Nuno Santos poderia ter aproveitado esta oportunidade para conquistar votos ao centro e atenuar a sua imagem de radical.

Se o secretário-geral socialista  tivesse aproveitado a oportunidade para anunciar a viabilização por parte dos socialistas do governo da AD, «tinha ganho eleitorado ao centro e limpava a imagem de radical», diz-nos uma voz socialista com responsabilidades no partido. Para os que defendem a opção inversa à que Pedro Nuno Santos acabou por tomar, «esta tinha sido a oportunidade do Pedro Nuno ter feito como o Soares quando se demarcou do PCP, contra a opinião de muitos companheiros». Não o tendo feito, acredita a mesma fonte, «perdeu uma oportunidade única», até porque «a sorte só passa uma vez à nossa porta».

Para já, apesar da discórdia, ninguém quer ficar com o ónus da responsabilidade de prejudicar o PS em plena campanha eleitoral. Dirigentes como, Carlos César, Pedro Delgado Alves e Ana Gomes vieram corrigir publicamente o sentido das declarações que fizeram na noite eleitoral e que foram entendidas como uma defesa da opção de o PS viabilizar o governo de maioria relativa da AD.

Ensurdecedor é o silèncio de Francisco Assis, um dos principais apoiantes de Pedro Nuno Santos, que fez questão de tornar pública a sua opinião através de uma mensagem escrita na noite eleitoral e que, até ao momento, não voltou a fazer ouvir a sua opinião. O agora cabeça de lista dos socialistas pelo círculo do Porto  prefere manter o silèncio a declarar uma mudança de opinião.

A verdade é que a discussão em torno dos Açores pode entender-se como uma antecipação do que pode passar-se na República após 10 de março.

E os socialistas estão ainda mais divididos, se considerarmos que o candidato derrotado nas internas do PS, José Luís Carneiro, defendeu precisamente o entendimento com o PSD (ou AD) para evitar a aproximação do Chega ao poder.

Como defendem agora que essa deve ser a posição a adotar pelo partido.

Para Pedro Nuno Santos, o risco é deixar o Chega a fazer oposição sozinho e o PS_colar-se ao PSD. O Chega agradeceria.

Ou seja, o resultado das eleições nos Açores retirou ao PS a narrativa do papão de um Governo da direita ter de estar condicionado pelo Chega. E a ‘batata quente’, num volte-face, passou a estar nas mãos do PS: ai se o Chega vota ao lado do PS contra a AD.