Já tem sido amplamente divulgado o calendário de debates televisivos entres os principais líderes partidários, candidatos nestas Legislativas de 10 de março. Os debates são um clássico das democracias, um, supostamente, saudável confronto de ideias em público, para que todos os interessados possam tirar as suas conclusões acerca dos projetos que os candidatos apresentam e, logicamente, acerca dos seus perfis.
Penso que não preciso de me alongar sobre a exponenciação do alcance destes debates com o suporte dos meios de comunicação social e na óbvia intersecção entre informação e entretenimento. Porém, de há uns anos para cá, e no atual ano que corre verifica-se novamente, os média começaram a dar uma primazia muito maior ao entretenimento face à informação, quando chegamos aos ditos debates.
Mais uma vez, teremos debates de cerca de 25 minutos porque, conforme tenho lido, “se trata de um calendário curto e limitado por haver compromissos das televisões”. A única exceção será o debate entre o líder do PS e o da AD.
Saem algumas perguntas: Quantos programas de televisão é que costumam ter 25 minutos? Em menos de um quarto de hora, como é que um candidato expõe de forma decente as suas ideias para governar um país inteiro nos próximos quatro anos? Quem é que sai beneficiado de um modelo de debates flash?
Reduzimos a democracia a pequenas slots de 25 minutos quando temos painéis de comentário políticos, desportivo e até “cor-de-rosa”, de horas. Até o programa de domingo de Ricardo Araújo Pereira, em que faz humor através da atualidade política tem mais tempo. As direções televisivas atribuem mais relevância a comentar e a gozar com os debates, do que aos debates em si. Depois, de quando em quando, surge um grande painel de comentário ou uma grande reportagem, em tom alarmista, sobre o desinteresse que as pessoas vão tendo pela política e pela “coisa pública”. Esse interesse não se fomenta, também, com os média?
Quem é que beneficia destes mini-debates? A democracia não é de certeza. Nem a verdade. Nem a seriedade com que se devia encarar a governação de um país. Beneficia quem quer usar os debates para atirar uns chavões, fazer algumas acusações e evitar entrar em detalhe acerca daquilo que propõe. Quem não tem conteúdo, mas sim capacidade para entreter. Beneficiam os “Não lhes dês descanso”, os “Vamos Limpar Portugal” e os que dizem ter a panaceia para todos os problemas complexos do país, porque é tudo muito simples, mas logo veem porque agora não temos mais tempo que vem aí a Gala do Big Brother. Se fosse preciso explicar (que é) em mais de 25 minutos, não conseguiriam fazê-lo.
Deve haver uma séria reflexão sobre se vale ou não a pena as televisões continuarem a transmitir debates. Ou melhor, se não é melhor assumirem de uma vez que não os querem transmitir porque a democracia é uma grande seca. É que ninguém sai informado.
Os debates, quanto muito, começam a servir apenas para gerar conteúdos para as redes sociais dos partidos onde o seu candidato vence sempre, dos jornais que fazem as avaliações com bolinhas e estrelinhas, dos novos “influencers de política” e para servirem de pretexto a ter quatro ou cinco pessoas num painel de comentário a fingir que fazem uma análise muito profunda sobre algo que antes de ser já foi.
João Conde
Presidente da Juventude Popular de Setúbal