Para quem tem dúvidas sobre a natureza dos “clubes de futebol” e os designem de clubes desportivos, ou de desporto, está a equipará-los ao “Ginásio Clube Português”, ao “Ateneu Comercial de Lisboa”, ao “Lisboa Ginásio Clube”, ao “Triângulo Vermelho Português”, etc…, que estes sim são clubes de desporto amador, e que, por isso, podem receber subsídios do Estado. Mas os clubes de futebol profissional são, hoje, empresas com orçamentos milionários, em que o único objectivo é o lucro.
Vejamos então: passivo do Benfica (2016) = 455.5 milhões de euros; passivo do Porto (2016) = 349.2 milhões de euros; passivo do Sporting (2016) = 249.3 milhões de euros. Gastos mensais: Benfica = 5.1 milhões de euros; Porto = 6.3 milhões de euros; Sporting = 4.1 milhões de euros (Fonte: “Imprensa Diária” de 13 / Outubro/ 2016).
Qual é, hoje, o objectivo destas empresas??? Além de dar emprego a muita gente, até a dirigentes, sendo o presidente do Benfica o único que não recebe salário, destes três grandes.
O objectivo, dizíamos, só pode ser uma único: uma terapia para o povo trabalhador que foi “montada” já no tempo da ditadura, em que os críticos diziam que era o “ópio” do povo, mas que, em Portugal, o sistema político, desde a reimplantação da democracia (1974) foi incapaz de introduzir qualquer alteração, em relação ao tempo de Salazar, ou seja, por não terem qualquer preparação, nesta área, e por oportunismo político, deixaram, convenientemente, o povo entretido toda a semana, quer na televisão, quer nos jornais, a discutir futebol, continuando, no âmbito da política, num estádio de absoluto analfabetismo. Sabem a composição de todas as equipas de futebol, sabem o nome de todos os jogadores, etc., etc., mas não sabem, nem querem saber, qual é a dívida pública, qual é a dívida privada, qual o “deficit”, qual a razão pela qual Portugal não cresce, o que é a “balança de pagamentos”, etc., etc. Ou seja, quando votam não sabem o que estão a fazer, votam com os “pés” e não percebem que, neste campo, continuam, como no tempo do Fascismo, exactamente como Salazar queria. Quer isto dizer que o “25 de Abril” ainda aqui não chegou!!!
Sabemos que as elites intelectuais são ignorantes nestas áreas, obviamente, com alguma excepções, mas é o que temos e o que somos, embora possamos fazer melhor, tentando levar a verdadeira democratização a todos, e não só a alguns! Mas para isso é preciso agir e não entrar em estado de negação.
O Estado tem que admitir que não tem ouvido os cientistas sociais, desta área, ignora-os, mas ao fazê-lo demonstra, publicamente, a sua ignorância e, ao mesmo tempo (publicamente), a arrogância própria dos ignorantes.
Estamos a viver uma época dramática, que apelidamos de subversiva, ou seja, chamamos à inversão de posições uma situação subversiva!!! Mas isto verifica-se na política, na administração pública e na sociedade em geral, até por que as gerações mais novas, dizem, são mais instruídas que as mais velhas. Pois é, mas estão subordinadas a elas. Daí poder dizer-se, hoje, que “é preciso ter muita categoria para ser dirigido por pessoas sem categoria alguma” (Max Cunha).
Cataria da Rússia quando escrevia ao Cardial Richelieu da França, dizia-lhe “que era perigoso educar o povo”. Mas será que em Portugal há ainda dirigentes que assim pensam?
Sociólogo