Investir na investigação com estabilidade é prioridade nacional


Hoje, um investigador das nossas universidades que dependa de fundos públicos não chega a receber o suficiente para ir à melhor conferência internacional da sua área científica.


Nos últimos anos temos assistido a um elevado número de iniciativas dispersas oferecendo fundos de investigação, e que se apresentam aos investigadores na forma de concurso público, cujas datas de abertura são sempre surpresa, e os montantes disponíveis ainda mais.

 A consequência óbvia desta situação é que os investigadores não podem planear a longo prazo nem definir qualquer estratégia de desenvolvimento das suas linhas de investigação. Portanto, promove-se a investigação oportunistica e não linhas de investigação consequentes.

Acresce ainda outra característica, é necessário definir uma estratégia de desenvolvimento cientifico e respetivas prioridades, diria até mesmo indispensável para que os investigadores possam projetar as suas linhas de investigação confiantes de que as possibilidades de financiamento se mantêm por mais de um ano. Não podemos ter a mesma importância na investigação sobre o cancro, e por exemplo na investigação sobre os transportes, a logística ou o turismo, nem mesmo colocar na mesma base de avaliação dominios cientificos tão diferentes, quer na sua essência, quer na importância estratégica para o nosso desenvolvimento. Creio que até o cidadão menos familiarizado percebe a diferença destas prioridades, sendo certo que todas as áreas necessitam de investigação e de estabilidade na investigação para que se produzam resultados de qualidade, cujo conhecimento possa ser transferido com sucesso para a sociedade e em articulação com as efetivas necessidades.

Falta-nos retomar uma visão de futuro para o contributo da ciência para o nosso desenvolvimento, que sirva de pano de fundo às decisões de distribuição sistemática de fundos de investigação. Falta-nos perceber a complementaridade e cumplicidade entre investigação aplicada e investigação fundamental, e não são concorrrentes como muitas vezes têm sido tratadas, são parceiras, dão continuidade uma à outra, e devem ser aliadas indispensáveis no desenvolvimento do país. Vários estudos existem que demonstram que o envolvimento em investigação tem ajudado as start-ups a diferenciarem-se no mercado, e este é apenas um exemplo do valor da ciência para a sociedade.

Devemos refletir que não será por acaso que continuamos a ter muita dificuldade em estabelecer parcerias entre o tecido empresarial e industrial e a academia, atribuimos essa situação com frequência a aspetos culturais, mas é muito provável que um dos fatores influentes seja a pouca sistematização e estabilidade dos planos de investigação.

Nas definições internacionais do termo investigação e desenvolvimento diz-se “trabalho criativo e sistemático realizado com o objectivo de incrementar o stock de conhecimento e encontrar novas aplicações com o conhecimento disponível”

Hoje, um investigador das nossas universidades, que dependa de fundos públicos, e que esteja num centro de investigação classificado como excelente (no topo do ranking) não chega a receber o suficiente para ir à melhor conferência internacional da sua área científica. Por consequência, a investigação acaba por ser feita não de forma criativa e sistemática mas de forma aleatória e com o propósito de sustentar o próprio investigador e os seus assistentes.

Nas estatísticas da OCDE pode verificar-se que em 2022, Portugal investiu em investigação e desenvolvimento apenas 1,7% do PIB, tendo 6562 funcionários públicos como investigadores e um índice de 11,67 investigadores por cada mil empregados, enquando a média da União Europeia atingiu 2,2% do PIB, e 9,54 investigadores por cada mil empregados. quando para os paises de vanguarda tecnológica o rácio sobe a 5,6% (Israel) e 4,9 % (Coreia do Sul).

Neste caso as estatísticas não mentem, os países mais avançados têm um investimento permanente e sistematizado em investigação, com uma orientação clara de quais as prioridades nesse domínio. Foi assim que criaram uma cultura de investigação, de internacionalização e de qualidade. Ninguém nasce ensinado, e ninguém faz omeletes sem ovos, não tenhamos ilusões!

Se esta abordagem não mudar em Portugal, não criaremos as sementes para a inovação nem para o empreendorismo. A ciência é um bem público, é a base de desenvolvimento de um país, de uma sociedade, há desta constatação basta evidência em todo o mundo.

Se mantivermos esta abordagem de negação da ciência continuaremos a ter alguns notáveis, que se dispõem a trabalhar por dois, todos os dias, e todos os meses, para conseguirem outros fundos para apoiarem a investigação. Mas por muito mérito que esses parcos casos tenham, serão sempre irrelevantes para o resultado final do país. Desta forma não atingiremos bons níveis de desenvolvimento.

Estamos em final de Janeiro de 2024, os investigadores das nossas universidades não têm a menor ideia de quais os fundos que lhes vão ser atribuídos, talvez o mesmo do ano anterior… que já era muito mau!

 

Professora do Instituto Superior Técnico

Investir na investigação com estabilidade é prioridade nacional


Hoje, um investigador das nossas universidades que dependa de fundos públicos não chega a receber o suficiente para ir à melhor conferência internacional da sua área científica.


Nos últimos anos temos assistido a um elevado número de iniciativas dispersas oferecendo fundos de investigação, e que se apresentam aos investigadores na forma de concurso público, cujas datas de abertura são sempre surpresa, e os montantes disponíveis ainda mais.

 A consequência óbvia desta situação é que os investigadores não podem planear a longo prazo nem definir qualquer estratégia de desenvolvimento das suas linhas de investigação. Portanto, promove-se a investigação oportunistica e não linhas de investigação consequentes.

Acresce ainda outra característica, é necessário definir uma estratégia de desenvolvimento cientifico e respetivas prioridades, diria até mesmo indispensável para que os investigadores possam projetar as suas linhas de investigação confiantes de que as possibilidades de financiamento se mantêm por mais de um ano. Não podemos ter a mesma importância na investigação sobre o cancro, e por exemplo na investigação sobre os transportes, a logística ou o turismo, nem mesmo colocar na mesma base de avaliação dominios cientificos tão diferentes, quer na sua essência, quer na importância estratégica para o nosso desenvolvimento. Creio que até o cidadão menos familiarizado percebe a diferença destas prioridades, sendo certo que todas as áreas necessitam de investigação e de estabilidade na investigação para que se produzam resultados de qualidade, cujo conhecimento possa ser transferido com sucesso para a sociedade e em articulação com as efetivas necessidades.

Falta-nos retomar uma visão de futuro para o contributo da ciência para o nosso desenvolvimento, que sirva de pano de fundo às decisões de distribuição sistemática de fundos de investigação. Falta-nos perceber a complementaridade e cumplicidade entre investigação aplicada e investigação fundamental, e não são concorrrentes como muitas vezes têm sido tratadas, são parceiras, dão continuidade uma à outra, e devem ser aliadas indispensáveis no desenvolvimento do país. Vários estudos existem que demonstram que o envolvimento em investigação tem ajudado as start-ups a diferenciarem-se no mercado, e este é apenas um exemplo do valor da ciência para a sociedade.

Devemos refletir que não será por acaso que continuamos a ter muita dificuldade em estabelecer parcerias entre o tecido empresarial e industrial e a academia, atribuimos essa situação com frequência a aspetos culturais, mas é muito provável que um dos fatores influentes seja a pouca sistematização e estabilidade dos planos de investigação.

Nas definições internacionais do termo investigação e desenvolvimento diz-se “trabalho criativo e sistemático realizado com o objectivo de incrementar o stock de conhecimento e encontrar novas aplicações com o conhecimento disponível”

Hoje, um investigador das nossas universidades, que dependa de fundos públicos, e que esteja num centro de investigação classificado como excelente (no topo do ranking) não chega a receber o suficiente para ir à melhor conferência internacional da sua área científica. Por consequência, a investigação acaba por ser feita não de forma criativa e sistemática mas de forma aleatória e com o propósito de sustentar o próprio investigador e os seus assistentes.

Nas estatísticas da OCDE pode verificar-se que em 2022, Portugal investiu em investigação e desenvolvimento apenas 1,7% do PIB, tendo 6562 funcionários públicos como investigadores e um índice de 11,67 investigadores por cada mil empregados, enquando a média da União Europeia atingiu 2,2% do PIB, e 9,54 investigadores por cada mil empregados. quando para os paises de vanguarda tecnológica o rácio sobe a 5,6% (Israel) e 4,9 % (Coreia do Sul).

Neste caso as estatísticas não mentem, os países mais avançados têm um investimento permanente e sistematizado em investigação, com uma orientação clara de quais as prioridades nesse domínio. Foi assim que criaram uma cultura de investigação, de internacionalização e de qualidade. Ninguém nasce ensinado, e ninguém faz omeletes sem ovos, não tenhamos ilusões!

Se esta abordagem não mudar em Portugal, não criaremos as sementes para a inovação nem para o empreendorismo. A ciência é um bem público, é a base de desenvolvimento de um país, de uma sociedade, há desta constatação basta evidência em todo o mundo.

Se mantivermos esta abordagem de negação da ciência continuaremos a ter alguns notáveis, que se dispõem a trabalhar por dois, todos os dias, e todos os meses, para conseguirem outros fundos para apoiarem a investigação. Mas por muito mérito que esses parcos casos tenham, serão sempre irrelevantes para o resultado final do país. Desta forma não atingiremos bons níveis de desenvolvimento.

Estamos em final de Janeiro de 2024, os investigadores das nossas universidades não têm a menor ideia de quais os fundos que lhes vão ser atribuídos, talvez o mesmo do ano anterior… que já era muito mau!

 

Professora do Instituto Superior Técnico