Habitação social: onde e para quem?


Se quase não nascem crianças, e, das que nascem, três em cada dez acabam por sair, a quem se destinam afinal as tais casas que vão ou estão a ser construídas?


É um dos temas que têm dado mais brado nos tempos recentes. Em abril do ano passado, uma manifestação pelo direito à habitação degenerou em desacatos e acabou mesmo em confrontos com a Polícia e com montras de agências imobiliárias partidas.

Para dar resposta ao problema, o Governo anunciou recentemente 1,2 mil milhões (vindos dos fundos europeus do PRR, claro) destinados a promover a “habitação condigna”.

O número é elevado, e talvez por isso mesmo deve levar-nos a colocar algumas perguntas. Primeira pergunta:_falta habitação, mas onde?_É que, viajando recentemente por zonas mais interiores do país, vi aldeias inteiras ao abandono. E mesmo no coração do centro histórico de uma capital de distrito fiquei impressionado com o estado lastimável dos edifícios vazios.

O que me leva a concluir que possivelmente não faltam casas em Portugal – faltam casas nos centros urbanos das grandes cidades do litoral. E não creio que seja aí, em zonas privilegiadas, que vão nascer os novos bairros de habitação social.

A segunda questão que me ocorre é a quem se destinam essas casas. Segundo uma notícia do Expresso do último fim de semana, três em cada dez jovens nascidos em Portugal emigraram. Ou outra notícia ainda do mesmo semanário:_‘Portugal é o segundo país com menos crianças da UE’.

Ora, se quase não nascem crianças, e, das que nascem, três em cada dez acabam por sair, a quem se destinam afinal as tais casas que vão ou estão a ser construídas?

Terceira interrogação: “habitação condigna”? Não é exatamente essa a expressão que mais depressa nos ocorre quando olhamos para a maioria dos bairros sociais existentes.

Pedro Nuno Santos adotou como lema da sua campanha “Portugal Inteiro”, enquanto Luís Montenegro escolheu “Unir Portugal” (a propósito:_terão recorrido à mesma agência de marketing?).

Mas não é preciso ser muito perspicaz para perceber que a construção de habitação social acabará muito provavelmente por acentuar a megacefalia das grandes cidades e agravar a desertificação do interior. Construir habitação social, presumivelmente nas periferias dos grandes centros urbanos, quando há tanta casa ao abandono por esse Portugal fora, poderá resultar não um país “inteiro” e “unido”, mas sim num país cada vez mais partido.

Habitação social: onde e para quem?


Se quase não nascem crianças, e, das que nascem, três em cada dez acabam por sair, a quem se destinam afinal as tais casas que vão ou estão a ser construídas?


É um dos temas que têm dado mais brado nos tempos recentes. Em abril do ano passado, uma manifestação pelo direito à habitação degenerou em desacatos e acabou mesmo em confrontos com a Polícia e com montras de agências imobiliárias partidas.

Para dar resposta ao problema, o Governo anunciou recentemente 1,2 mil milhões (vindos dos fundos europeus do PRR, claro) destinados a promover a “habitação condigna”.

O número é elevado, e talvez por isso mesmo deve levar-nos a colocar algumas perguntas. Primeira pergunta:_falta habitação, mas onde?_É que, viajando recentemente por zonas mais interiores do país, vi aldeias inteiras ao abandono. E mesmo no coração do centro histórico de uma capital de distrito fiquei impressionado com o estado lastimável dos edifícios vazios.

O que me leva a concluir que possivelmente não faltam casas em Portugal – faltam casas nos centros urbanos das grandes cidades do litoral. E não creio que seja aí, em zonas privilegiadas, que vão nascer os novos bairros de habitação social.

A segunda questão que me ocorre é a quem se destinam essas casas. Segundo uma notícia do Expresso do último fim de semana, três em cada dez jovens nascidos em Portugal emigraram. Ou outra notícia ainda do mesmo semanário:_‘Portugal é o segundo país com menos crianças da UE’.

Ora, se quase não nascem crianças, e, das que nascem, três em cada dez acabam por sair, a quem se destinam afinal as tais casas que vão ou estão a ser construídas?

Terceira interrogação: “habitação condigna”? Não é exatamente essa a expressão que mais depressa nos ocorre quando olhamos para a maioria dos bairros sociais existentes.

Pedro Nuno Santos adotou como lema da sua campanha “Portugal Inteiro”, enquanto Luís Montenegro escolheu “Unir Portugal” (a propósito:_terão recorrido à mesma agência de marketing?).

Mas não é preciso ser muito perspicaz para perceber que a construção de habitação social acabará muito provavelmente por acentuar a megacefalia das grandes cidades e agravar a desertificação do interior. Construir habitação social, presumivelmente nas periferias dos grandes centros urbanos, quando há tanta casa ao abandono por esse Portugal fora, poderá resultar não um país “inteiro” e “unido”, mas sim num país cada vez mais partido.