Crise nas urgências obriga a retirar camas a paliativos

Crise nas urgências obriga a retirar camas a paliativos


Metade das camas da unidade de cuidados paliativos desviada para as urgências na ULS de Coimbra.


Uma das primeiras medidas da administração da nova ULS de Coimbra foi o reforço da Unidade dos Serviços de Urgência a Adultos e Pediátrica com a retirada de camas de outras unidades. Uma delas foi da unidade de cuidados paliativas do Hospital de Cantanhede, que integra esta ULS. "Como esperado, o dia 2 de janeiro tem sido caracterizado por uma procura elevada aos serviços de urgência, tendo sido necessário tomar medidas adicionais face ao elevado número de infeções por influenza A e outros agentes e respiratórios", anunciou a administração. E informa: "Dia 3 de janeiro vão ser disponibilizadas nove camas de agudos no Hospital Arcebispo João Crisóstomo em Cantanhede". São exatamente estas as camas de paliativos – uma vez que neste hospital só existem duas unidades: uma de cuidados agudos paliativos e outra de convalescença – que passaram a ser utilizadas pelos serviços de urgência.

Cerca de metade da unidade de paliativos foi dispensada. A ULS de Coimbra é a maior do país e tem 600 camas nas várias unidades. O Nascer do SOL contactou a administração do Hospital de Cantanhede mas não obteve resposta sobre o porquê desta opção. Ou seja, se estando estas camas disponíveis significa que não existem doentes com critérios paliativos na ULS. Esta é a única unidade da ULS de Coimbra que faz referência a doentes para internamento de paliativos. O hospital de Cantanhede tem sido amplamente reconhecido a nível internacional pela sua qualidade nesta área.

Catarina Pazes, presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), diz ao Nascer do SOL que não tem conhecimento desta situação, mas refere que é generalizado em todo o país o recurso às equipas de paliativos para apoiar outras valências em situações de crise do sistema como a que se vive atualmente. A presidente desta associação considera que esta área é um parente pobre dentro do SNS: "Não estamos a receber a atenção que devíamos tendo em conta o crescimento das necessidades". Isto apesar do relatório do Plano Estratégico para os Cuidados Paliativos para 2023/2024 publicado no passado dia 8 ter reconhecido a sua relevância e apontar como uma necessidade urgente o aumento de existência de equipas e do número de elementos. "Mas é necessário que tudo isto seja concretizado e passe a medidas concretas", afirma Catarina Pazes. Concretamente que exista uma estratégia para formar profissionais nesta área e incentiva-los a manterem-se nas equipas”, diz.