2024 concentra um elevadíssimo número de eleições, umas de acordo com o calendário, como é o caso das eleições para o Parlamento Europeu outras, como em Portugal, antecipadas. Alguns dos titulares de cargos políticos nacionais esperam ser eleitos para o PE, como requisito curricular para ocuparem a presidência de algum dos órgãos da União Europeia.
O cargo de Presidente do Conselho Europeu sempre integrou as chaises musicales, contando para a divisão de cadeiras entre as grandes famílias políticas (PPE, socialistas, liberais). Com o mandato a terminar em Novembro de 2024 a escolha não estava directamente ligada às eleições para o PE, em 9 de Junho. Ao contrário do que acontece com a Comissão Europeia e com o PE, a escolha do Presidente sempre competiu exclusivamente aos chefes de Estado e de Governo que se sentam à mesa do do Conselho Europeu e que têm escolhido um dos seus membros ou ex-membros.
Charles Michel será cabeça de lista ao Parlamento Europeu pelo MR (liberais belgas francófonos) pelo que o deixará de ser Presidente do Conselho Europeu em Julho. Se em Junho, a reboque dos resultados das eleições para o Parlamento Europeu no dia 9, não for escolhido um sucessor voltaremos à regra tradicional, anterior à criação do cargo de Presidente do Conselho Europeu, de este ser presidido pelo chefe de Estado ou de Governo da presidência rotativa. A partir de 1 de Julho a presidência pertencerá a Victor Orbán. E Michel espera que a ameaça Orbán lhe garanta, já em Junho, uma nova chaise musicale, como Alto Representante ou com uma das metades da Presidência do PE.
Didier Reynders, actual Comissário belga (e também do MR, onde tem sido o mais fiel inimigo de Michel) anunciou a candidatura a Secretário Geral do Conselho da Europa. Não tem ainda o apoio do Governo belga.
Esta multiplicação de auto-candidaturas põe à prova a regra do não exercício de funções em caso de candidatura. Verstager suspendeu funções quando se candidatou à presidência do BEI (com Reynders a acumular a Justiça com a Concorrência). Que fará Reynders e que fará von der Leyen se assumir o papel de Spitzenkandidat do PPE?
As chaises musicales são em menor número do que os jogadores. Macron defenestrou esta semana Élisabeth Borne. O Presidente francês irá certamente a jogo, procurando ganhar um super-comissário que submeta os pruridos da concorrência aos interesses dos campeões nacionais da economia (francesa).
Borrel não deverá continuar. A Espanha gastou com a ida de Nadia Calviño para a presidência do BEI o capital de negociação. O lugar de Alto Representante para a Política Externa da UE pode ficar disponível para os liberais, mantendo o PPE a Presidência da Comissão e do Parlamento Europeu (dentro da tradição de dividir ao meio o mandato, partilhando-o com os Socialistas ou com os Liberais).
Pela NATO a sombra das eleições nos EUA em Novembro e da possibilidade do regresso de Trump garantirá em Setembro a escolha de um novo Secretário Geral em vez da enésima prorrogação do mandato de Stoltenberg. Em Xelas já ninguém acredita numa candidatura de von der Leyen à NATO. Com uma guerra por procuração com a Federação Russa é difícil escolher um (ou uma) SG da Europa de Leste. Terá de ser um candidato mobilizador e, como sempre, merecedor da confiança dos EUA. Será a vez de David Cameron, entretanto regressado ao Governo como MNE, depois de ter falhado a candidatura auto-proposta do anterior MDN britânico?