Quando olhamos para uma competição desportiva queremos que o nosso clube ou o nosso atleta preferido alcance a vitória. Se estamos num estádio ou num pavilhão estamos longe de querer saber o estado psicológico daqueles por quem torcemos. Até há bem pouco tempo, também era raro algum desportista de alta competição falar em problemas psicológicos, mas nos últimos tempos começaram a surgir testemunhos que muito ajudam quem passa pelos mesmos problemas. Em pleno século XXI as doenças psicológicas ainda são olhadas de lado, como se fosse diferente de um problema físico, e nada pode estar mais errado.
Jan Vertonghen, jogador belga que passou pelo Benfica, deu esta semana um testemunho impressionante sobre o que tem passado e os seus problemas psicológicos. Houve momentos em que pensou que o seu estado de espírito se tinha alterado por causa de um “choque de cabeças” num jogo, mas acabaria por reconhecer que o problema não advinha desse choque com outros colegas. “Fui a quase todos os especialistas, mas não encontrei qualquer explicação. Não podia ir a um restaurante. Tentei uma vez e tive de sair passados 10 minutos. Não tolerava multidões, adormecia em todo o lado. Normalmente, nunca durmo na estrada, mas durante esse período isso aconteceu em todo o lado. Senti que havia mais qualquer coisa e continuei a falar sobre o assunto. Agora estou convencido de que se tratava de um problema mental-psicológico. Quando vejo fotografias dessa altura, apercebo-me imediatamente de que algo estava errado. Que os meus olhos eram diferentes. Também me sentia muitas vezes ‘em baixo’”, confessou.
Já antes a magnífica ginasta Simone Biles, que abandonou os Jogos Olímpicos de Tóquio a meio, explicou ao mundo as suas razões: “Às vezes sinto como se tivesse o peso do mundo sobre as minhas costas. Faço parecer que a pressão não me afeta, mas é difícil. Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco a minha saúde e bem-estar. Temos que proteger o nosso corpo e a nossa mente. É uma merda quando se está lutando com a sua própria cabeça”.
Com tantos exemplos é estranho que a saúde mental seja vista de uma forma depreciativa – ninguém o faz quando a pessoa diz que tem um cancro.
Esperemos pois que 2024 seja um ano em que se apostará numa das doenças do século e que se deixe de olhar para os outros como maluquinhos.
Bom Ano Novo