Este fim de semana ficámos a saber que o PS, apesar de laico, acredita na vinda do Messias, e perto do Natal ainda mais.
Quem visse os olhares embevecidos das militantes e dos militantes no Largo do Rato no último sábado à noite, poderia ficar com dúvidas: será o novo líder aclamado a mesma pessoa que saiu do Ministério das Infraestruturas pela porta pequena depois das sucessivas trapalhadas, omissões e esquecimentos relativos à TAP e, em particular, à indemnização milionária de Alexandra Reis? É verdadeiramente extraordinário: ainda há um ano (confesso que parece que foi há menos tempo), Pedro Nuno Santos parecia politicamente acabado. Embora toda a gente conhecesse a sua ambição, o seu papel no dossiê da TAP parecia inviabilizar quaisquer veleidades no curto prazo. Mas eis que essa demissão passa uma esponja mágica pelo seu currículo e de repente Pedro Nuno não apenas ressuscitou como é visto como o messias que vai salvar o PS depois dessa fase verdadeiramente negra, em que a imagem do partido ficou seriamente afetada por sucessivas suspeitas de corrupção a envolver figuras da esfera do Governo.
Mas o milagre da ressurreição da carreira política não foi o único operado pelo antigo ministro. Há também o milagre da multiplicação dos militantes. Como explicar que socialistas moderados – e não apenas moderados, mas também reconhecidamente inteligentes e sensatos, e, que se saiba, sem problemas de memória – como Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto apoiassem um representante da ala mais à esquerda do PS? Como, depois do que têm defendido ao longo dos anos, podem ir ao arrepio do que acreditávamos serem as suas convicções e virar as costas a José Luís Carneiro?
E aqui talvez cheguemos ao cerne da questão. Pedro Nuno Santos não ganha devido ao seu posicionamento ou ao currículo político. Ganha devido à energia que transmite, à capacidade de agitar e mobilizar um partido que parecia cabisbaixo e derrotado – e que tinha todas as razões para isso ao fim de oito anos de governação. Pedro Nuno é um bulldozer que limpou o terreno e leva tudo à frente. Sabemos para que servem estas máquinas – e certamente não é para construir. Luís Montenegro que se cuide.