O desafio inteiro da nova liderança do PS


Não havendo dúvida da capacidade de ganhar no partido, ganhar no país é diferente e tem demasiadas variantes que não são controladas por nenhuma liderança de forma isolada.


Entre as cartas marcadas do pecúlio acumulado de várias gerações de jovens e a perceção dos militantes de código postal, de meio caminho andado para a manutenção do poder, o Partido Socialista tem uma nova liderança. A intempestiva oportunidade beneficiava as pré-existências do caminho feito, ainda assim o resultado da vitória, na aparência de amplitude, esconde riscos evidentes para as expetativas acumuladas dos apoiantes e para a incontornável necessidade de respeito pela diversidade de perspetivas, nem sempre aceite.

É que ainda antes do voto dos portugueses, a 10 de março, há dois grandes embates da nova liderança em que as expetativas se confrontam com a realidade ou com as opções do exercício político interno: a elaboração das listas para os órgãos internos do partido e as listas de candidatos a deputados, num quadro em que entre os apoiantes da nova liderança há muita ambição pessoal acumulada e estão diversos autarcas em final de mandato.

Sendo evidente a consolidação da deriva de prevalência do pragmatismo, dos cálculos individuais e de um certo tribalismo acrítico entre os militantes, por vezes distante das perceções gerais da população, parte do desafio inteiro é o de saber que perfil de liderança será desenvolvida, se a linha histórica do seu perfil ou se a do pragmatismo do estado de necessidade para o acesso ao poder governativo.

Não havendo dúvida da capacidade de ganhar no partido, ganhar no país é diferente e tem demasiadas variantes que não são controláveis por nenhuma liderança de forma isolada.

Seguindo a linha do seu registo político histórico, ao invés do que é dito, o novo líder é o que mais serve o interesse eleitoral da direita e da extrema-direita, na medida em que encosta o PS à esquerda e permite a sustentação da narrativa dos casos e dos resultados da governação. Acresce que, no estado de afirmação das lideranças em que se encontra o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, o ativo de trabalho na construção e manutenção da solução governativa à esquerda, depois da não vitória eleitoral de 2014, pode não ter condições para ser mobilizada no futuro por insuficiente representação parlamentar dos anteriores parceiros de solução governativa. Neste quadro, o novo líder pode consolidar o poder internamente para fazer face a todos os cenários pós-eleitorais, assegurando maiorias confortáveis nos órgãos políticos do partido e na bancada parlamentar, mas partirá parcial para o combate das legislativas. É que tendo o tempo sido favorável à nova liderança, pelo amadurecimento e posicionamento de diversas gerações, a sua aceleração não o foi. Foi assim quando saiu do governo antes de ter conseguido consolidar os resultados em áreas em que queria ter demonstrado a diferença na capacidade de concretizar. Não fez, mas quis fazer e não o deixaram. É assim com a queda do governo quando ainda não tinha consolidado o seu posicionamento como comentador da atualidade entre a convergência de um pé na órbita do poder e a divergência das convicções não aproveitadas na governação.

Seguindo uma linha de integração de outras perspetivas, em ensaio de unidade partidária como pressuposto de reforço da solidez política da proposta de solução governativa para o país, suscitará evidentes insatisfações nas expetativas acumuladas de há anos nos seus apoiantes, jovens e menos jovens, mas poderá posicionar-se num plano de moderação que não faça perder para a abstenção ou para o centro-direita boa parte dos eleitores que não vislumbram alternativas sensatas.

No fundo, o exercício reconduz-se aos que já tinha como comentador televisivo, com a diferença de que agora é a sério, não é apenas retórica, mas o de se posicionar, de conduzir a agenda política e de gerar credibilidade que baste para obter o voto dos eleitores que permita a manutenção do poder. Como conjugar a parte com o todo, como apresentar diferença que gere compromisso e mobilização eleitoral sem deixar cair a herança de 8 anos de governação. Como sustentar que a mesma receita de uma governação de turno, com muitos resultados frágeis e duvidosos, sem uma visão integrada do país, pode ter melhor concretização, com correção dos problemas estruturais e resposta aos desafios do futuro. A verdade é que o exercício político, as opções políticas e a concretização dos resultados, não dependeram da configuração de suporte da solução governativa ou da maioria absoluta, mas apenas e só do perfil de liderança e da respetiva vontade política. Ou há algum equilíbrio ou vontade de transformar na visão de sociedade do BE e do PCP que o PS possa não ter de modo próprio, sem os níveis de preconceito ideológico e incoerência com as realidades concretas do que professam? Ou há alguma capacidade superlativa do PAN ou do CHEGA para responder aos desafios colocados no Mundo Rural, na capacidade produtiva das comunidades e dos territórios do Interior e no combate às distorções do funcionamento do Estado e do sistema político, que o PS, com iniciativa, equilíbrio e de forma sustentada, não possa ter?

O PS tem uma nova liderança, que está confrontada com um desafio inteiro, no partido e no país. Como sempre, para o seu posicionamento releva apenas a vontade política e as circunstâncias. É fazer escolhas!

Entretanto, a todos um Feliz Natal!

 

NOTAS FINAIS~

OS GRAVITACIONAIS. O diabo do normal funcionamento das instituições e dos serviços são cada vez mais os gravitacionais, que em torno das lideranças, dos poderes e das regras, agem em nome, alegadamente em nome de e na defesa de interesses particulares. O Presidente da República tem os seus, por mais que se tente demarcar. E tende a piorar.

 

LEVANTA-TE E ANA. Amortizar em 10 anos o investimento feito para uma concessão de 50 anos, revela bem o nível de lesa-pátria da privatização dos aeroportos nacionais pelo governo PSD/CDS, com a agravante de manietar a gestão estratégica das infraestruturas em benefício dos territórios, como acontece com Beja. 

 

FUNDAMENTALISMO DA ORIGEM. A União Europeia e os Estados Unidos têm afirmado uma discriminação negativa de produtos e soluções em função da origem destina a fustigar a China. A pergunta que se coloca é: há algum aparelho sem componentes chinesas ou similares? 

O desafio inteiro da nova liderança do PS


Não havendo dúvida da capacidade de ganhar no partido, ganhar no país é diferente e tem demasiadas variantes que não são controladas por nenhuma liderança de forma isolada.


Entre as cartas marcadas do pecúlio acumulado de várias gerações de jovens e a perceção dos militantes de código postal, de meio caminho andado para a manutenção do poder, o Partido Socialista tem uma nova liderança. A intempestiva oportunidade beneficiava as pré-existências do caminho feito, ainda assim o resultado da vitória, na aparência de amplitude, esconde riscos evidentes para as expetativas acumuladas dos apoiantes e para a incontornável necessidade de respeito pela diversidade de perspetivas, nem sempre aceite.

É que ainda antes do voto dos portugueses, a 10 de março, há dois grandes embates da nova liderança em que as expetativas se confrontam com a realidade ou com as opções do exercício político interno: a elaboração das listas para os órgãos internos do partido e as listas de candidatos a deputados, num quadro em que entre os apoiantes da nova liderança há muita ambição pessoal acumulada e estão diversos autarcas em final de mandato.

Sendo evidente a consolidação da deriva de prevalência do pragmatismo, dos cálculos individuais e de um certo tribalismo acrítico entre os militantes, por vezes distante das perceções gerais da população, parte do desafio inteiro é o de saber que perfil de liderança será desenvolvida, se a linha histórica do seu perfil ou se a do pragmatismo do estado de necessidade para o acesso ao poder governativo.

Não havendo dúvida da capacidade de ganhar no partido, ganhar no país é diferente e tem demasiadas variantes que não são controláveis por nenhuma liderança de forma isolada.

Seguindo a linha do seu registo político histórico, ao invés do que é dito, o novo líder é o que mais serve o interesse eleitoral da direita e da extrema-direita, na medida em que encosta o PS à esquerda e permite a sustentação da narrativa dos casos e dos resultados da governação. Acresce que, no estado de afirmação das lideranças em que se encontra o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, o ativo de trabalho na construção e manutenção da solução governativa à esquerda, depois da não vitória eleitoral de 2014, pode não ter condições para ser mobilizada no futuro por insuficiente representação parlamentar dos anteriores parceiros de solução governativa. Neste quadro, o novo líder pode consolidar o poder internamente para fazer face a todos os cenários pós-eleitorais, assegurando maiorias confortáveis nos órgãos políticos do partido e na bancada parlamentar, mas partirá parcial para o combate das legislativas. É que tendo o tempo sido favorável à nova liderança, pelo amadurecimento e posicionamento de diversas gerações, a sua aceleração não o foi. Foi assim quando saiu do governo antes de ter conseguido consolidar os resultados em áreas em que queria ter demonstrado a diferença na capacidade de concretizar. Não fez, mas quis fazer e não o deixaram. É assim com a queda do governo quando ainda não tinha consolidado o seu posicionamento como comentador da atualidade entre a convergência de um pé na órbita do poder e a divergência das convicções não aproveitadas na governação.

Seguindo uma linha de integração de outras perspetivas, em ensaio de unidade partidária como pressuposto de reforço da solidez política da proposta de solução governativa para o país, suscitará evidentes insatisfações nas expetativas acumuladas de há anos nos seus apoiantes, jovens e menos jovens, mas poderá posicionar-se num plano de moderação que não faça perder para a abstenção ou para o centro-direita boa parte dos eleitores que não vislumbram alternativas sensatas.

No fundo, o exercício reconduz-se aos que já tinha como comentador televisivo, com a diferença de que agora é a sério, não é apenas retórica, mas o de se posicionar, de conduzir a agenda política e de gerar credibilidade que baste para obter o voto dos eleitores que permita a manutenção do poder. Como conjugar a parte com o todo, como apresentar diferença que gere compromisso e mobilização eleitoral sem deixar cair a herança de 8 anos de governação. Como sustentar que a mesma receita de uma governação de turno, com muitos resultados frágeis e duvidosos, sem uma visão integrada do país, pode ter melhor concretização, com correção dos problemas estruturais e resposta aos desafios do futuro. A verdade é que o exercício político, as opções políticas e a concretização dos resultados, não dependeram da configuração de suporte da solução governativa ou da maioria absoluta, mas apenas e só do perfil de liderança e da respetiva vontade política. Ou há algum equilíbrio ou vontade de transformar na visão de sociedade do BE e do PCP que o PS possa não ter de modo próprio, sem os níveis de preconceito ideológico e incoerência com as realidades concretas do que professam? Ou há alguma capacidade superlativa do PAN ou do CHEGA para responder aos desafios colocados no Mundo Rural, na capacidade produtiva das comunidades e dos territórios do Interior e no combate às distorções do funcionamento do Estado e do sistema político, que o PS, com iniciativa, equilíbrio e de forma sustentada, não possa ter?

O PS tem uma nova liderança, que está confrontada com um desafio inteiro, no partido e no país. Como sempre, para o seu posicionamento releva apenas a vontade política e as circunstâncias. É fazer escolhas!

Entretanto, a todos um Feliz Natal!

 

NOTAS FINAIS~

OS GRAVITACIONAIS. O diabo do normal funcionamento das instituições e dos serviços são cada vez mais os gravitacionais, que em torno das lideranças, dos poderes e das regras, agem em nome, alegadamente em nome de e na defesa de interesses particulares. O Presidente da República tem os seus, por mais que se tente demarcar. E tende a piorar.

 

LEVANTA-TE E ANA. Amortizar em 10 anos o investimento feito para uma concessão de 50 anos, revela bem o nível de lesa-pátria da privatização dos aeroportos nacionais pelo governo PSD/CDS, com a agravante de manietar a gestão estratégica das infraestruturas em benefício dos territórios, como acontece com Beja. 

 

FUNDAMENTALISMO DA ORIGEM. A União Europeia e os Estados Unidos têm afirmado uma discriminação negativa de produtos e soluções em função da origem destina a fustigar a China. A pergunta que se coloca é: há algum aparelho sem componentes chinesas ou similares?