Fenómenos climáticos extremos marcam ano mais quente de sempre

Fenómenos climáticos extremos marcam ano mais quente de sempre


Desastres ambientais passaram de uma média de 100 eventos por ano, na década de 1970, para 400 nas últimas duas décadas


Desde janeiro que cada mês marcou a temperatura média mais elevada desde que há registos, revelou esta segunda-feira o serviço europeu de observação da Terra Copernicus. Com as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em crescimento constante, o outono 2023 no hemisfério norte é o mais quente da história.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) lembrou recentemente que os últimos nove anos foram os mais quentes desde o início das medições modernas. Num ano de recordes, 2023 é marcado também por fenómenos climáticos extremos. Países do centro e norte da Europa sofreram com calor e inundações, o mesmo acontecendo nas Américas, África, Ásia e Oceânia.

O ano ficará marcado pelos incêndios no Canadá, onde arderam, durante cinco meses, 18 milhões de hectares em 6.500 incêndios florestais, parte deles devido a uma seca severa. No Havai, EUA, os incêndios florestais de agosto foram também históricos, os mais mortíferos em 100 anos, com pelo menos 110 mortes. 

Vagas de calor varreram a Ásia, atingindo países como a Índia, China, Laos e Tailândia no primeiro trimestre do ano, o mesmo período em que uma vaga de frio matou centenas no Afeganistão. Em janeiro, a China também registou também recordes de temperaturas mínimas em janeiro.

Em fevereiro, o ciclone Freddy matou 1.434 pessoas. Durou mais de um mês e foi dos ciclones tropicais mais duradouros de que há registo. Já o ciclone Mocha deixou 400 mortos à sua passagem, em maio, mês em que se contam também as 112 mortes por calor na América do Norte, as 100 mortes nas cheias na Índia e igual número nas Filipinas. 

Houve também cheias no Brasil, no Paquistão e no Haiti, cada caso com pelo menos meia centena de vítimas, enquanto as inundações na RDCongo provocaram 400 mortos. Na Líbia terão morrido cerca de 11.000 pessoas quando duas barragens colapsaram, em setembro, depois de chuvas fortes provocadas pela tempestade Daniel.

Alguns dos eventos climáticos extremos poderão não estar diretamente relacionados com o aquecimento global, mas, segundo a ONU, o aumento da temperatura do Planeta é causa direta das chuvas torrenciais e inundações no corno de África. 

Há menos de um mês a Somália, mas também o Quénia, a Etiópia e a Tanzânia, sofreram intempéries que inundaram 1,5 milhões de hectares agrícolas, provocaram a morte de 300 pessoas e deslocaram mais de dois milhões. Isto depois de a região ter sofrido a pior seca dos últimos 40 anos.

2023 foi ainda marcado por uma seca sem precedentes na Amazónia, inundações repentinas e tempestades mortíferas nos EUA, recordes de temperatura em Espanha, Brasil, Índia, Laos, China, Estados Unidos e Austrália. A OMM alerta para o fenómeno climático cíclico “El Niño” que provoca o aquecimento do oceano Pacífico e poderá aumentar ainda mais as temperaturas no próximo ano.

O outono, depois de calor intenso em vários países do mundo, foi de extremos em termos de chuvas no Vietname, em Itália, na Eslovénia, em Hong-Kong, na China e nos EUA.

Na Europa, diz a Agência Europeia do Ambiente, os fenómenos climáticos extremos levaram à morte de 195 mil pessoas desde 1980 e a ONU lembra que os desastres ambientais passaram de uma média de 100 eventos por ano, na década de 1970, para 400 nas últimas duas décadas.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que as alterações climáticas provocam a perda anual de 123.000 milhões de euros de produção agrícola e gado, o equivalente a 5% da produção mundial.