Porque é que Vladimir Putin é tão popular nos países vizinhos da Rússia?

Porque é que Vladimir Putin é tão popular nos países vizinhos da Rússia?


“A nossa pesquisa mostrou que o machismo de Putin e a sua personalidade autoritária atraem pessoas que têm personalidades mais fechadas, defendem valores tradicionais e não confiam na ciência”, diz John O’Loughlin, professor do Instituto de Ciências Comportamentais e do Departamento de Geografia na UC Boulder, em comunicado.


O ex-presidente Donald Trump não é o único que elogiou o líder russo Vladimir Putin. Uma equipa de investigação internacional está a fornecer uma visão abrangente do apoio que Putin recebe de vários países vizinhos. Os investigadores dizem que a razão pela qual essa figura controversa ainda é tão popular se deve ao seu machismo e personalidade autoritária. O estudo – publicado no Political Geography – teve como objetivo compreender a demografia daqueles que apoiam Putin, conhecido pela sua experiência como ex-espião da KGB, e imagens icónicas, como posar sem camisa em cima de um cavalo. As descobertas revelaram que Putin tende a obter mais apoio dos homens do que das mulheres e é menos favorecido entre os indivíduos mais jovens e mais instruídos.

“A nossa pesquisa mostrou que o machismo de Putin e a sua personalidade autoritária atraem pessoas que têm personalidades mais fechadas, defendem valores tradicionais e não confiam na ciência”, diz John O'Loughlin, professor do Instituto de Ciências Comportamentais e do Departamento de Geografia na UC Boulder (no estado norte-americano do Colorado, nos EUA), em comunicado. O estudo envolveu a pesquisa de mais de 8.400 indivíduos em seis países: Armênia, Bielorrússia, Geórgia, Cazaquistão, Moldávia e Ucrânia entre 2019 e 2020. Os investigadores da Universidade do Colorado em Boulder colaboraram com empresas de pesquisa locais para pesquisas presenciais.

Embora a popularidade de Putin varie na antiga União Soviética, a Geórgia demonstrou uma desaprovação esmagadora, com mais de 70% a expressar “nenhuma confiança” no líder russo. Em contraste, a Bielorrússia e o Cazaquistão exibiram sentimentos mais favoráveis, dados os seus laços historicamente estreitos com a Rússia. Os inquéritos foram realizados antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. A equipa planeia revisitar estes entrevistados em 2024 para avaliar quaisquer alterações nas atitudes em relação a Putin, especialmente no pós-guerra.

Entrevistas telefónicas realizadas em partes da Ucrânia sob controlo de Kiev, em outubro de 2022, revelaram uma reação significativa contra Putin devido à guerra. O apoio à adesão à NATO aumentou de 44% para 77% desde 2019, indicando uma mudança radical nas atitudes. “Temos o que chamamos de ‘experiência natural’”, explica O’Loughlin. “Não esperávamos a guerra na Ucrânia, mas podemos ver os efeitos da invasão em grande escala nas atitudes das pessoas em relação a Putin e à Rússia e em relação ao Ocidente e à NATO”.

No entanto, avaliar as atitudes em relação a Putin não é simples. Para contornar preconceitos e possíveis inverdades nas respostas da pesquisa, os investigadores empregaram uma “experiência de endosso”. Ao associarem o suposto apoio de Putin à exploração de petróleo no Árctico nas perguntas do inquérito, avaliaram os sentimentos genuínos em relação a ele. Os resultados revelaram reações divergentes entre as nações; o falso endosso de Putin afetou as opiniões sobre a perfuração no Ártico de forma diferente em diferentes países.

O estudo esclarece por que razão alguns indivíduos se identificam com líderes como Putin, indicando que aqueles que defendem papéis de género mais tradicionais ou que se consideram convencionais tendem a apoiá-lo mais. O’Loughlin enfatizou o apelo de Putin aos cidadãos russos através da nostalgia da antiga União Soviética, vista como uma época de estabilidade e paz, especialmente entre as gerações mais velhas. “Nos EUA, isso é fácil de descartar, mas muitas pessoas querem segurança, paz e sossego”, diz O’Loughlin. “Eles acreditam que se não tivermos um líder forte e autoritário, toda a sociedade entrará em colapso”.

Numa conferência de imprensa recente em Moscovo, o presidente russo Vladimir Putin condicionou o fim da guerra contra a Ucrânia à realização dos objetivos iniciais da invasão ocorrida em fevereiro de 2022. Destacou a "desnazificação" e a "desmilitarização" da Ucrânia, bem como o seu estatuto de neutralidade, como requisitos para uma resolução. Putin afirmou que a solução seria alcançada por meio de negociações ou força, reiterando que "haverá paz quando tivermos atingido os nossos objetivos".

Putin anunciou a sua intenção de alcançar um novo mandato em março de 2024. Afirmou que não está planeada uma nova mobilização militar na Rússia no momento, enfatizando que 486 mil soldados foram recrutados voluntariamente no ano atual. Forneceu uma estimativa do número de efetivos russos destacados na Ucrânia, totalizando 617 mil, com 244 mil sendo soldados convocados para lutar ao lado de militares profissionais.

Em setembro de 2022, Putin ordenou uma mobilização parcial de 350.000 reservistas, causando protestos e a fuga de russos em idade militar para o exterior. O presidente não revelou o número exato de baixas, mas as estimativas apontam para 315.000 soldados russos feridos ou mortos desde o início da invasão.

Putin culpou o Ocidente pela aproximação das suas fronteiras e descreveu os russos e ucranianos como um só povo, caracterizando o conflito como uma tragédia semelhante a uma guerra civil entre irmãos de lados opostos, atribuindo a situação ao envolvimento do Ocidente.

O presidente expressou confiança na capacidade da Rússia de superar as sanções económicas, a guerra contra a Ucrânia e os conflitos com o Ocidente, destacando a consolidação da sociedade russa, a estabilidade do sistema financeiro e económico e o fortalecimento das capacidades militares do país.