Será que o Desafio da Baleia Azul regressou? Essa é a pergunta que muitos especialistas, as autoridades e pais fazem desde setembro, mês em que foi noticiado que um britânico de 35 anos terá sido morto à facada em Portugal depois de alegadamente ter participado neste desafio online de cariz suicida. O desafio incentiva os adolescentes a participar em 50 tarefas durante 50 dias, sendo que estas variam entre assistir a filmes de terror até acordar em horários incomuns, automutilação, captação e divulgação de imagens íntimas e, eventualmente, suicídio. Segundo o Daily Mail, um grupo de seis amigos estaria supostamente hospedado numa comuna “fora da rede” numa floresta. Sabe-se que terão ido a um bosque para completar um dos desafios da Baleia Azul. Assim, um homem de 35 anos terá sido morto durante a noite, após uma briga entre o grupo de amigos. Na manhã seguinte, um jovem de 26 anos ter-se-á entregue à polícia. O corpo do homem, cujo nome ainda não foi veiculado, foi encontrado no meio de uma mata próxima do centro da cidade de Pedrógão Grande.
Em relação a este caso específico, a Polícia de Segurança Pública (PSP) explicou à LUZ que não dispõe «de qualquer registo sobre a informação indicada». No entanto, «coloca ao dispor dos cidadãos um conjunto de conselhos nesse âmbito, no sentido de mitigar o alcance do Desafio da Baleia Azul, bem como de informar os perigos que daí decorrem»: aconselha-se os pais a manterem-se informados relativamente ao jogo e a alertar as crianças e jovens para as suas implicações; deve existir uma maior supervisão e monitorização das atividades dos filhos na internet e das redes sociais; importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas da escola façam parte da lista de amizades nas redes sociais; a PSP recomenda ainda o bom uso dos meios digitais e informa que não há necessidade de proibir o acesso aos mesmos; ressalva-se que o mais importante é incentivar o diálogo e o debate no seio familiar sobre os assuntos relacionados com a segurança, perigos e privacidade na internet de forma a promover um maior conhecimento por parte das crianças e jovens e «sempre que os pais suspeitem que as crianças ou jovens estejam a ser alvo de violência psicológica ou intimidação devem dirigir-se à Esquadra da PSP mais próxima e efetuar uma denúncia relatando todos os factos».
Mas depois do Desafio da Baleia Azul, surgiram outros igualmente perigosos. Por exemplo, o Desafio Momo. Quando o artista japonês Keisuke Aisawa esculpiu a obra “Ubume” e concordou em exibi-la na Vanilla Gallery, uma galeria em Tóquio especializada em trabalhos eróticos e fetichistas, provavelmente não imaginou que a sua criação se tornaria um símbolo de terror. A escultura retrata uma mulher com olhos arregalados, longos cabelos negros e um sorriso perturbador, com patas de ave ocultas na maioria das fotografias. Essa figura é inspirada na lenda urbana japonesa da Ubume, um espírito feminino que, segundo a imaginação popular, morreu durante o parto. Em algumas versões, ela oferece doces a crianças, que se transformam em folhas secas, enquanto noutras pede a alguém para segurar no seu filho recém-nascido, desaparecendo e transformando o bebé em pedra.
A escultura agora é usada como foto de perfil em contas chamadas Momo em várias redes sociais. Essas contas são criadas por indivíduos que exploram a aparência bizarra da obra de Aisawa para assustar e perturbar aqueles que não seguem as suas ordens. O jogo macabro vai além, conectando a história de Ubume com a de Momus na mitologia grega. Momus, conhecido como Momo em grego, é o protagonista de duas fábulas de Esopo, um escritor da Grécia Antiga. Personifica a sátira e o escárnio. Durante o Renascimento, obras literárias usaram o “rei da maledicência” como um veículo para criticar a tirania, transformando-o num crítico da sociedade contemporânea. Embora nas peças teatrais seja retratado como uma figura de diversão inofensiva, foi através de Leon Battista Alberti que Momus ganhou status como um anti-herói inescrupuloso e mordaz. Na visão de Alberti, Momus é comparado a um ser humano enganador, sarcástico e malicioso.
Já a variação Jonathan Galindo é vista pelos meios de comunicação internacionais como uma escolha arbitrária para atrair a audiência hispânica. No entanto, semelhante a Momo, que também está relacionado com apelidos dados a meninas na puberdade, Jonathan Galindo, em espanhol, pode referir-se a um “pequeno galo” e, na origem germânica do nome, a alguém com características de liderança natural. A imagem associada a isso é derivada de fotografias tiradas por Samuel Canini, um cosplayer e artista plástico norte-americano que combinou as características de Mickey Mouse e Pateta, personagens da Disney, entre 2011 e 2013. Canini afirmou que os trolls da internet usaram a sua imagem sem permissão e que nunca foi contactado diretamente pelos responsáveis pelo desafio.
Canini expressou descontentamento com a situação, alegando que o seu objetivo nunca foi assustar ou intimidar crianças e que os curadores não se importam com as consequências. Considera a situação como de menor importância em comparação com outros problemas globais em 2020. Apesar de estar incomodado, Canini afirmou que não pretende derrubar todas as contas associadas, pois seria impraticável. Acredita que, se as pessoas se afastarem dos curadores, a tendência desaparecerá eventualmente. Canini mencionou a possibilidade de exigir os seus direitos legalmente no futuro.
Mel congelado, ímanes e moedas
Mas as coisas não ficaram por aqui. No verão de 2021, o TikTok, conhecido por popularizar desafios perigosos, foi palco do Desafio do Mel Congelado (Frozen Honey Challenge). Este desafio surgiu a partir de um vídeo em que um utilizador comia mel congelado. A tendência espalhou-se com variações, incluindo mel decorado com doces, molho sriracha ou chá, e alguns influencers até receberam patrocínios para realizar o desafio com produtos específicos.
E quando se pensava que tudo acalmaria, surgiu o Desafio dos Ímanes, que consiste em incentivar as crianças e os jovens a engolir uns ímanes pequenos que se assemelham a piercings. Os primeiros relatos da existência do desafio remontam a julho de 2021, mas as autoridades ainda não conseguiram comprová-lo. No dia 17 de setembro desse mesmo ano, a BBC noticiou que Jack Mason, de Stirling (na Escócia), teve de ser submetido a uma cirurgia para remover o apêndice, o intestino delgado e 30 cm do intestino grosso depois de engolir vários ímanes minúsculos. A mãe do menino de 9 anos, Carolann McGeoch, quis alertar os pais sobre os perigos potenciais.
Jack foi levado ao hospital, no dia 7 de setembro, sofrendo de dores abdominais e vómitos. Após a realização de ecografias, a equipa médica rapidamente o levou de ambulância para o Royal Hospital for Children, em Glasgow, onde os raios-x mostraram que algo estava a bloquear o intestino de Jack. Os profissionais de saúde entenderam que um conjunto de pequenos ímanes havia sido engolido por Jack e, apesar de não o ter admitido logo, a criança acabou por confessar que os havia ingerido.
Os médicos explicaram a Carolann que Jack precisaria de uma cirurgia para remover os ímanes e qualquer tecido danificado. «Foi-me explicado que os danos que estes ímanes podem causar podem ser tão extremos que ele não conseguiria sobreviver», elucidou. «Mesmo em lágrimas, assinei a minha permissão para que a operação acontecesse», tendo compreendido que «tudo poderia acontecer». Volvidas quatro horas do procedimento cirúrgico, Jack já estava melhor e regressou a casa dali a oito dias.
Depois de todos estes desafios, surgiu o Penny Challenge, em janeiro do ano passado. A Amazon teve de “consertar” a sua assistente de voz Alexa depois de esta ter dito a uma menina de 10 anos para encostar uma moeda (equivalente a uma de um cêntimo) nas extremidades de um carregador do telemóvel ligado – apenas parcialmente – à corrente elétrica. Kristin Livdahl, a mãe da criança, explicou no Twitter que esta situação aconteceu quando a família perguntou ao Echo Smart Speaker quais seriam os desafios físicos que deviam fazer por estar frio no exterior e pretenderem ficar em casa.
«O desafio é simples: ligue um carregador de telemóvel a uma tomada de forma incompleta e toque com uma moeda nas pontas expostas”. Alexa referia-se ao chamado “The Penny Challenge», um desafio virtual difundido em redes sociais, como o TikTok, em 2021. «Eu estava ali e gritei: ‘Não, Alexa, não!’ como se fosse um cão. A minha filha diz que é muito inteligente para fazer algo assim», partilhou Livdahl.
Os rumores acerca da existência de um “desafio” do TikTok que se basearia em encorajar crianças a enfiar moedas em tomadas têm circulado desde, pelo menos, o outono de 2020. A hashtag #pennychallenge tem milhões de visualizações no TikTok, mas a maioria dos desafios sob a hashtag não está ligada a este procedimento, mas sim ao tempo máximo durante o qual alguém consegue manter uma moeda na testa.