25 de Novembro, ontem, hoje e amanhã


O país poderia ter entrado em guerra civil: a extrema-esquerda pôs-nos a uma fagulha de distância dessa desgraça. Houve quem morresse para sermos livres: os dois “comandos” mortos nesse dia. E teriam sido muitos mais, de um lado e doutro, se os militares e políticos democratas não tivessem posto ponto final na revolução nesse dia.…


Na sua notoriedade, o 25 de Novembro é vítima da sua própria discrição e sobriedade – uma espécie de “data-Salgueiro Maia” da nossa revolução: não quis nada para si; tudo entregou ao 25 de Abril pelo qual se fez.

Devemos muito mais, no teatro de operações, à coragem e serenidade de Salgueiro Maia, em momentos decisivos do golpe de Estado na Ribeira das Naus e no Largo do Carmo, do que a outros militares que quiseram cavalgar a fama sem cuidarem do país. Seriam estes últimos, propagandistas de trompeta, a empurrarem-nos para a vertigem do PREC de cuja loucura final o 25 de Novembro nos salvou. Mas este, tão discreto como Salgueiro Maia, tudo entregou ao 25 de Abril e seu propósito democrático. Por isso é necessário que o 25 de Novembro seja celebrado também como remate final e pela sua eficácia e discrição.

O 25 de Novembro não tem autonomia face ao 25 de Abril: só existiu por causa deste e para o restituir ao caminho para a democracia. Se tivesse autonomia, como golpe ou contra-golpe, teria inaugurado uma outra história, da qual só podemos imaginar o que teria sido, numa hipótese ou noutra. O 25 de Novembro foi apenas – este “apenas” não é pouco, mas muito – o fecho do desvario e dos perigos do PREC. É o momento do triunfo final do 25 de Abril democrático.

Se é comum, na história, que as revoluções tenham um dia de partida e outro de conclusão, os factos podemos dizê-los assim:

1. O 25 de Abril, enquanto dia de 1974, foi o golpe de Estado militar que derrubou o regime anterior.

2. A seguir, arrancou um processo revolucionário, cujo início podemos situar no 11 de Março, em 1975; ou, se se preferir, ainda em 1974, a partir dos governos gonçalvistas em 18 de julho, ou na crise político-militar do arranque da descolonização, ou no 28 de setembro.

3. Este processo revolucionário, o PREC, uma revolução política e social, cresceu e acelerou no curso do tempo, sempre mais à esquerda e para destino totalitário.

4. O 25 de Novembro (1975) põe termo, em definitivo, ao processo revolucionário e coloca de vez o país no patamar das instituições democráticas, sua constitucionalização e consolidação.

Por isso, quando falamos do 25 de Abril, já não apenas como dia, mas para festejar a revolução democrática, devemos esta revolução ao 25 de Novembro, seu momento conclusivo. Se não tivessem sido a resistência da sociedade civil, as forças democráticas lideradas pelo Partido Socialista de Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre, Sottomayor Cardia, os militares democratas do 25 de Novembro, não teríamos nada para festejar, mas para chorar e repudiar.

O país poderia ter entrado em guerra civil: a extrema-esquerda pôs-nos a uma fagulha de distância dessa desgraça. Houve quem morresse para sermos livres: os dois “comandos” mortos nesse dia. E teriam sido muitos mais, de um lado e doutro, se os militares e políticos democratas não tivessem posto ponto final na revolução nesse dia. Depois, só tivemos democracia.

O 25 de Novembro segurou o 25 de Abril. O privilégio de, a seguir ao 25 de Abril de 1974, ter-se afastado o mau, vencido os perigos, evitado o abismo e, hoje, só ter o lado bom e luminoso para celebrar, devemo-lo ao 25 de Novembro.

Por isso, é chocante a falta de conhecimento e de memória. Em rigor, não é falha de conhecimento e de memória, mas vontade deliberada de tirar o 25 de Novembro da história e do caminho. Não surpreende ver nestes sectores o PCP e o BE: os comunistas e a extrema-esquerda cavalgavam o PREC e, portanto, foram os que perderam no fim. Foram expressamente salvaguardados na democracia, na célebre declaração de Melo Antunes. Mas gostariam de voltar atrás e retomar as linhas políticas do PREC.

Mas já surpreende que largos sectores do PS se juntem à falsa ignorância. São os militantes da “geringonça”, que agora se mobilizam atrás de Pedro Nuno Santos. Representam real perigo para a democracia. Habituámo-nos a ver o PS do lado da democracia e não do extremismo. Já não é certo que seja assim. Os que querem apagar o 25 de Novembro aspiram a romper com o PS de Mário Soares e, na linguagem do século XX, suspiram pelo regime de Frente Popular. Esta, mostra a história, foi sempre uma desgraça. Hoje, aqui, não seria diferente. É preciso ter cuidado.

Lembrar o 25 de Novembro ganha, por isso, por estes próximos meses, novo significado. Não podemos voltar atrás. Importa consolidar a democracia e a liberdade, à esquerda, ao centro e à direita, isto é, defender o 25 de Abril, como os mais novos puderam recebê-lo: em democracia e em liberdade. Seria mau demais, nos 50 anos do 25 de Abril, estar a assinalá-lo de novo em crise existencial e outra vez no abismo.

25 de Novembro, ontem, hoje e amanhã


O país poderia ter entrado em guerra civil: a extrema-esquerda pôs-nos a uma fagulha de distância dessa desgraça. Houve quem morresse para sermos livres: os dois “comandos” mortos nesse dia. E teriam sido muitos mais, de um lado e doutro, se os militares e políticos democratas não tivessem posto ponto final na revolução nesse dia.…


Na sua notoriedade, o 25 de Novembro é vítima da sua própria discrição e sobriedade – uma espécie de “data-Salgueiro Maia” da nossa revolução: não quis nada para si; tudo entregou ao 25 de Abril pelo qual se fez.

Devemos muito mais, no teatro de operações, à coragem e serenidade de Salgueiro Maia, em momentos decisivos do golpe de Estado na Ribeira das Naus e no Largo do Carmo, do que a outros militares que quiseram cavalgar a fama sem cuidarem do país. Seriam estes últimos, propagandistas de trompeta, a empurrarem-nos para a vertigem do PREC de cuja loucura final o 25 de Novembro nos salvou. Mas este, tão discreto como Salgueiro Maia, tudo entregou ao 25 de Abril e seu propósito democrático. Por isso é necessário que o 25 de Novembro seja celebrado também como remate final e pela sua eficácia e discrição.

O 25 de Novembro não tem autonomia face ao 25 de Abril: só existiu por causa deste e para o restituir ao caminho para a democracia. Se tivesse autonomia, como golpe ou contra-golpe, teria inaugurado uma outra história, da qual só podemos imaginar o que teria sido, numa hipótese ou noutra. O 25 de Novembro foi apenas – este “apenas” não é pouco, mas muito – o fecho do desvario e dos perigos do PREC. É o momento do triunfo final do 25 de Abril democrático.

Se é comum, na história, que as revoluções tenham um dia de partida e outro de conclusão, os factos podemos dizê-los assim:

1. O 25 de Abril, enquanto dia de 1974, foi o golpe de Estado militar que derrubou o regime anterior.

2. A seguir, arrancou um processo revolucionário, cujo início podemos situar no 11 de Março, em 1975; ou, se se preferir, ainda em 1974, a partir dos governos gonçalvistas em 18 de julho, ou na crise político-militar do arranque da descolonização, ou no 28 de setembro.

3. Este processo revolucionário, o PREC, uma revolução política e social, cresceu e acelerou no curso do tempo, sempre mais à esquerda e para destino totalitário.

4. O 25 de Novembro (1975) põe termo, em definitivo, ao processo revolucionário e coloca de vez o país no patamar das instituições democráticas, sua constitucionalização e consolidação.

Por isso, quando falamos do 25 de Abril, já não apenas como dia, mas para festejar a revolução democrática, devemos esta revolução ao 25 de Novembro, seu momento conclusivo. Se não tivessem sido a resistência da sociedade civil, as forças democráticas lideradas pelo Partido Socialista de Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre, Sottomayor Cardia, os militares democratas do 25 de Novembro, não teríamos nada para festejar, mas para chorar e repudiar.

O país poderia ter entrado em guerra civil: a extrema-esquerda pôs-nos a uma fagulha de distância dessa desgraça. Houve quem morresse para sermos livres: os dois “comandos” mortos nesse dia. E teriam sido muitos mais, de um lado e doutro, se os militares e políticos democratas não tivessem posto ponto final na revolução nesse dia. Depois, só tivemos democracia.

O 25 de Novembro segurou o 25 de Abril. O privilégio de, a seguir ao 25 de Abril de 1974, ter-se afastado o mau, vencido os perigos, evitado o abismo e, hoje, só ter o lado bom e luminoso para celebrar, devemo-lo ao 25 de Novembro.

Por isso, é chocante a falta de conhecimento e de memória. Em rigor, não é falha de conhecimento e de memória, mas vontade deliberada de tirar o 25 de Novembro da história e do caminho. Não surpreende ver nestes sectores o PCP e o BE: os comunistas e a extrema-esquerda cavalgavam o PREC e, portanto, foram os que perderam no fim. Foram expressamente salvaguardados na democracia, na célebre declaração de Melo Antunes. Mas gostariam de voltar atrás e retomar as linhas políticas do PREC.

Mas já surpreende que largos sectores do PS se juntem à falsa ignorância. São os militantes da “geringonça”, que agora se mobilizam atrás de Pedro Nuno Santos. Representam real perigo para a democracia. Habituámo-nos a ver o PS do lado da democracia e não do extremismo. Já não é certo que seja assim. Os que querem apagar o 25 de Novembro aspiram a romper com o PS de Mário Soares e, na linguagem do século XX, suspiram pelo regime de Frente Popular. Esta, mostra a história, foi sempre uma desgraça. Hoje, aqui, não seria diferente. É preciso ter cuidado.

Lembrar o 25 de Novembro ganha, por isso, por estes próximos meses, novo significado. Não podemos voltar atrás. Importa consolidar a democracia e a liberdade, à esquerda, ao centro e à direita, isto é, defender o 25 de Abril, como os mais novos puderam recebê-lo: em democracia e em liberdade. Seria mau demais, nos 50 anos do 25 de Abril, estar a assinalá-lo de novo em crise existencial e outra vez no abismo.