Uma semana depois do terramoto político e judicial que abalou o país e derrubou o Governo, continuamos a assistir às suas consequências, que se sucedem a uma velocidade estonteante. Só ontem tivemos quatro factos da maior relevância: a negação de Mário Centeno, que afinal veio desmentir ter sido convidado pelo Presidente a chefiar o Governo, contrariando aparentemente o que dissera antes ao Financial Times; a divulgação das medidas de coação dos arguidos no processo Influencer, que são menos pesadas do que se previa; a demissão de João Galamba, que ninguém percebia como podia manter-se no cargo; e, por fim, o anúncio da candidatura de Pedro Nuno Santos. Ninguém pode dizer que não vivemos dias interessantes.
Sabia-se há muito que Pedro Nuno alimentava a ambição de suceder a Costa. Quando pediu a demissão da pasta das Infraestruturas foi com esse objetivo: ficar na reserva, reunir as suas tropas e esperar o momento certo para o “assalto”, salvo seja, ao Largo do Rato. Não se imaginava é que esse momento pudesse estar tão perto.
Em circunstâncias normais, o timing da saída de Costa não seria favorável a Pedro Nuno. Afinal, as trapalhadas, irresponsabilidades e incoerências reveladas pela comissão de inquérito à TAP foram há tão pouco tempo que deviam estar bem frescas na memória dos portugueses. Mais: depois do violento golpe de reputação que os socialistas sofreram, por culpa própria, o partido devia escolher para o liderar alguém com um perfil de credibilidade, seriedade, humildade e maturidade. Alguém, diria eu, ponderado e com obra feita, capaz de recuperar a confiança do eleitorado.
Pedro Nuno Santos é o oposto disso. Tem tiques de demagogo, é agressivo e impulsivo, e o seu papel na renacionalização da TAP devia constituir, em qualquer lado do mundo, uma enorme mancha no currículo. A forma irresponsável como desbaratou o dinheiro dos contribuintes fica nos anais e desaconselha vivamente que ocupe lugares de elevada responsabilidade. O PS tem de estar muito desorientado ou desesperado para não ver isto.