Banca. Lucros de 8,4 milhões por dia

Banca. Lucros de 8,4 milhões por dia


Produto bancário e comissões continuam a beneficiar os bancos. Saídas de trabalhadores já pertencem ao passado e Paulo Marcos admite que ‘terão chegado ao fim as restruturações, pelo menos, de forma violenta’.


Os quatro maiores bancos privados – Santander Totta, BCP, BPI e novobanco – continuam a registar lucros recorde. Só nos primeiros nove meses do ano, as instituições financeiras apresentaram no total resultados de 2.300,9 milhões de euros. Feitas as contas, dá um lucro diário superior a 8,4 milhões de euros. As comissões continuam altas, mas ao contrário dos anos anteriores, a sangria em relação à redução de número de trabalhadores parece ter estancado.

Ao Nascer do SOL, o presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) afirma que «do ponto de vista da cidadania é bom ter empresas que estejam bem», referindo que «os resultados dos bancos são bons, são um recorde», mas admite que «é um recorde relativo, porque face ao nível de capitais empregues estão entre 2/3 a 3/4 daquilo que era a remuneração dos capitais que produziam, por exemplo, no final dos anos 90».

E acrescenta: «Nesse sentido, remuneram os capitais próprios dos bancos acima daquilo que é o prémio de risco exigido pelos investidores para investirem no setor financeiro e, como tal, os bancos a operar em Portugal terão mais facilidade em cumprir com os requisitos regulatórios de capitais próprios exigíveis para efeitos de capital», lembrando que «isso também genericamente é bom aos trabalhadores, porque nos permite pedir aos bancos para fazerem a recuperação, nomeadamente da brutal perda de compra do ano 2022, fruto de um acordo celebrado com algumas forças sindicais na casa de 1,1% quando a inflação foi 7,2%. Acho que é uma legitimidade acrescida».

 Já em relação à redução do número de trabalhadores reconhece que terá chegado ao fim «as restruturações, pelo menos, de forma violenta», ainda assim, acena com perdas na ordem dos 2% a 3% ao ano.

O BCP foi o maior recordista ao apresentar lucros sete vezes superiores ao que tinha apresentado nos primeiros nove meses do ano passado fixando-se nos 650,7 milhões. O banco justifica este resultado com o «desempenho favorável quer da atividade em Portugal, quer da atividade internacional». O ganho de 127,02 milhões de euros, associado à venda de 80% das ações da Millennium Financial também puxaram pelo resultado, aliado à margem financeira – diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos –que subiu 37% para 2,1 mil milhões.

O produto bancário somou 35,3% para 2,8 mil milhões, incluindo as comissões, que praticamente estabilizaram nos 578,5 milhões. Na atividade em Portugal, os custos operacionais subiram para 460 milhões, com os custos operacionais a totalizaram 468 milhões. O número de trabalhadores subiu ligeiramente passando de 6.257 para 6.275, enquanto o número de balcões passou de 408 para 400.

Logo a seguir surge o novobanco com lucros de 638,5 milhões. Um resultado que, de acordo com a instituição financeira, se deve ao facto de estar «assente num sólido modelo de negócio doméstico e simples, que proporciona uma rentabilidade crescente suportada pelo desempenho positivo das receitas, em conjunto com as medidas de eficiência implementadas nos últimos anos».

O produto bancário foi de 378,9 milhões, «tendo o desempenho da margem financeira (+29,5 milhões face ao segundo trimestre) sido impulsionado por uma carteira de crédito com taxa de juro variável e pelo ambiente favorável das taxas de juro». Os custos com pessoal foram de 183,8 milhões, uma subida de 14 milhões face a igual período do ano passado. O grupo fechou setembro com 4.209 colaboradores (mais 119 colaboradores) e manteve os 292 balcões.

No terceiro lugar do ranking surge o Santander Totta com 621,7 milhões de lucro, um aumento de 61,5% face aos 385,1 milhões registados até setembro do ano passado. «Mantivemos uma trajetória de crescimento nos resultados que apresentamos, com indicadores sólidos que nos têm permitido continuar a apoiar as famílias e as empresas. Tal apoio assume uma importância acrescida no atual contexto de subida de taxas de juro e de um elevado custo de vida», disse o CEO Pedro Castro. Almeida, em comunicado.

O produto bancário fixou-se em 1407,6 milhões, um crescimento homólogo de 50,8%, em resultado do crescimento da margem financeira (+88,5%), permitindo «compensar a redução em 3,6% ao nível das comissões líquidas» para 345,7 milhões de euros. O número de trabalhadores baixou de 4.674 para 4.662, enquanto o número de balcões caiu de 340 para 332.

Também o BPI viu o seu o seu resultado líquido a subir 35% para 390 milhões. Só a atividade em Portugal contribuiu com 324 milhões, uma melhoria de 162 milhões face a setembro de 2022. João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo da instituição financeira, destacou «o bom desempenho do BPI, suportado por uma dinâmica comercial positiva e uma gestão prudente do risco de crédito, num período em que a economia começa a evidenciar sinais de algum abrandamento. O banco registou crescimentos acima do mercado na produção de crédito, com ganhos de quota no crédito».

O produto bancário comercial registou um crescimento de 50% face aos primeiros nove meses de 2022, situando-se nos 924 milhões, enquanto as comissões líquidas mantiveram-se estáveis nos 218 milhões.

O BPI registou gastos de 20 milhões de euros no terceiro trimestre com a saída de 97 trabalhadores em reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo, totalizando os 4.335 e os 315 balcões.

 

Créditos: ‘medida tardia’

Os clientes bancários já podem começar pedir a fixação da prestação do crédito à habitação e os bancos não poderão cobrar comissões pelo acesso a este mecanismo, segundo o decreto-lei publicado no início de outubro. Este mecanismo abrange empréstimos a taxa variável contraídos até 15 de março de 2023 e cujo período de amortização seja superior a cinco anos. Uma medida que, de acordo com Paulo Marcos, peca por ser tardia e acredita «que não vai haver nenhuma corrida aos bancos», até porque uma boa parte das pessoas já encetaram mecanismos de negociação. «Se eventualmente o governador do Banco de Portugal há um ano e meio atrás tivesse dito que a inflação não seria passageira poderia ter sido sensível ao facto de as pessoas trocarem taxas variáveis com taxas fixas e, nesse caso, os encargos seriam 50 a 60% mais baixos», apontado uma falha ao Governador por «não ter alertado em tempo útil e ter confundindo os dados económicos com aquilo que era o desejo dos bancos centrais que a inflação convergisse rapidamente para os 2%».

No entanto, também reconhece que os indicadores à época, isto é, há um ano e meio não permitiam antever que houvesse uma convergência rápida e brutal ao nível da inflação pré-guerra. “Há aqui um pecado original, em que o alerta deveria ter sido feito no ano passado até ao final da primavera de 2022” e lembra que «há cerca de um ano a Euribor a seis meses e 12 meses estavam em 0,75%, imagine o que era fazer a conversão com esses valores ou fazê-lo agora a 4%».

Paulo Marcos reconhece que o Governo « esteve bem, cumpriu um bom papel, foi proativo, mas teria competido às autoridades reguladoras que também têm supervisão comportamental terem feito os alertas e terem sugerido esta passagem de variáveis a fixas. Nesta altura, em que em que tudo aparenta que as taxas de juro terão chegado ao seu pico, esta conversão se calhar não é um negócio fantástico.

De acordo com o presidente do sindicato, esta decisão de mudar as taxas compete a cada pessoa. «Em bom rigor, um empréstimo de crédito à habitação, sendo de uma natureza a 20 ou 30 anos deve estar alinhado não com as expectativas de curto prazo, mas também com o ciclo de vida e o ciclo da carreira profissional das pessoas. Nesse sentido, arrisco dizer que esta medida peca por ser um ano tardia».

Ainda assim, os bancos têm vindo a flexibilizar as suas regras. O O BCP já fez 16 mil renegociações de contratos de crédito à habitação até setembro devido à dificuldade dos clientes em pagarem os empréstimos. Já o BPI até setembro renegociou créditos à habitação no valor de 950 milhões, quer ao abrigo da legislação do Governo quer por iniciativa do próprio banco. Por seu lado, o novobanco renegociou cerca de 17.700 contratos de crédito à habitação este ano.