Citroën 2 CV. O carro que fugiu aos nazis

Citroën 2 CV. O carro que fugiu aos nazis


O Citroën 2 CV é dos modelos mais icónicos da indústria automóvel. Sobreviveu à Segunda Guerra e tornou-se um carro popular pela versatilidade e economia. Aos 75 anos, continua a ser visto nas nossas estradas com uma frescura digna de registo.


Os carros não se medem aos palmos e a prova disso é o pequeno 2 CV. Pensado para substituir as carroças na França rural, foi chamado ironicamente de “Guarda-chuva Com Quatro Rodas”, antes de se tornar o modelo familiar dos franceses, tornou-se depois um ícone da juventude e acabou a ser procurado por colecionadores. Entre 1949 e 1990 foram produzidas mais de 5,1 milhões de unidades, das quais 1,2 milhões eram da versão furgão. A fábrica de Mangualde contribuiu para a história do 2 CV, tendo produzido 81.882 unidades.

Nasceu do projeto Toute Petite Voiture (TPV) e o caderno de encargo era simples: um automóvel pequeno de quatro lugares, económico e ainda com a capacidade para transportar 50 quilos de carga e uma cesta de ovos numa estrada campestre, sem partir nenhum. Foi concebido no gabinete de estudos da Citroën, em Paris, e foi aperfeiçoado no centro de testes, na região de Eureet-Loir. A designação 2 CV refere-se à potência fiscal em França, na altura era a categoria mais baixa. 

Em 1937, surgiu o primeiro protótipo, um estranho veículo com um único farol (a legislação da época não exigia dois faróis). A apresentação dos modelos de pré-produção estava prevista para o Salão de Paris de 1939, mas a eclosão da Segunda Guerra Mundial pôs fim a este projeto. Os 250 modelos foram depois destruídos para impedir que os nazis se apropriassem do projeto 2 CV, com exceção de seis que foram guardados com grande secretismo de tal forma que só em 2004 foram encontrados os últimos quatro TPV.

André Lefèbvre foi o responsável pelo projeto, este engenheiro tinha participado no projeto de carros de Grande Prémio. Não admira que tenha sido concebido seguindo as melhores tecnologias da época: carroçaria e plataforma em alumínio e magnésio, tração dianteira, suspensão flexível, motor bicilíndrico arrefecido a ar, boa rigidez e eficaz repartição de peso. 

Foi apresentado ao público no Salão de Paris, em outubro de 1948, e, em julho de 1949, começou, finalmente, a produção do modelo com motor de 375 cc e 9 cv de potência, capaz de atingir 65 km/h. Ao longo dos anos foram introduzidas outras motorizações: 425 cc e 14 cv (1962), 602 cc e 22 cv (1966) e 435 cc e 26 cv (1979). 

O formato único da carroçaria, o conforto e a possibilidade de retirar facilmente o banco dianteiro do lado direito e o assento traseiro tornaram o 2 CV um carro muito popular. As suspensões com um curso longo proporcionavam um conforto semelhante aos dos carros de gama superior. A marca anunciava um consumo de quatro litros em estrada, o que era excelente. O habitáculo era simplista, com revestimentos em tecido e plástico preto. Tinha volante monobraço, painel de instrumentos com velocímetro de grandes dimensões e botões em forma retangular para acionar os diferentes comandos. Tinha outras particularidades, caso do sistema de aquecimento para o inverno e outro de arrefecimento para o verão e teto de enrolar em lona, que chegava até à traseira.

Em 1950, as encomendas multiplicavam-se e os prazos de entrega chegaram aos seis anos! Para isso muito contribuiu a brilhante estratégia da Citroën que fez uma seleção dos clientes a quem iria entregar o novo modelo. Agricultores, médicos em serviço no interior do país e artistas passaram a andar de 2 CV, o que aumentou imenso a popularidade do modelo. O sucesso prolongou-se por várias décadas e tornou-se um modelo de culto. Ao longo de mais de 40 anos, o 2 CV teve dez edições especiais, caso das vistosas Charleston, Cocorico e Spot.

Ficou também famoso por participar nas grandes expedições organizadas pela Citroën. O 2 CV 4×4 Sahara foi protagonista no Raid Paris-Cabul-Paris de 1970, com 16.500 km, e no Raid Paris-Persépolis em 1971, com 13.500 km. Este ícone da indústria automóvel foi também usado pelo agente secreto 007 (Roger Moore) no filme Somente para os seus olhos, tinha chassis reforçado e motor de quatro cilindros 1.015 cc do Citroën GS. Na série de filmes A Pantera Cor-de-rosa, o inspetor Clouseau, interpretado por Peter Sellers, possuía um 2 CV modificado, que apareceu no filme A Vingança da Pantera Cor-de-rosa, de 1978. 

O 2 CV deu origem a um dos troféus mais espetaculares da história do desporto automóvel nas décadas de 70 e 80 designado Pop Cross. Grelhas de partida com mais de 30 carros e pilotos de qualidade eram a certeza de corridas intensas e espetaculares.