A qualidade e interdição das praias em época balnear


Só no decorrer do ano de 2023, 52 praias de Norte a Sul do país foram interditadas ou desaconselhadas temporariamente em Portugal entre início de maio e o final de agosto.


Agora que terminou o período da época balnear é uma boa altura para falarmos sobre todas as notícias que foram publicadas sobre interdição de zonas balneares.

Durante o período em que está em vigência a época balnear, todas as praias portuguesas, num total de 658 águas balneares (511 no Continente, 88 na Região Autónoma dos Açores e 59 na Região Autónoma da Madeira), são analisadas com frequência para parâmetros indicadores de contaminação fecal, nomeadamente as bactérias Escherichia coli e enterococos intestinais. De acordo com o Decreto-Lei n.º 135/2009 de 3 de junho, a avaliação da qualidade das praias pode ser considerada de excelente qualidade, boa qualidade, qualidade aceitável e de má qualidade, dependendo dos números em que se encontram os indicadores de contaminação fecal.

Porque devemos então pesquisar os indicadores de contaminação fecal com frequência nas praias, particularmente no período em que se encontra aberta a época balnear? A introdução de contaminação fecal em praias interiores e em praias costeiras e de transição ocorre através de diferentes mecanismos sobretudo ligados a descargas de águas residuais inadequadamente tratadas e descargas de esgotos ilegais em ribeiras ou diretamente no mar. Estas águas contêm contaminação fecal de origem humana e animal, que não tem apenas só as bactérias descritas anteriormente, sendo constituídas por diversos outros organismos, muitos deles patogénicos do ser humano. Nos esgotos podemos encontrar bactérias patogénicas como por exemplo Salmonella e Campylobacter, vírus entéricos patogénicos como Norovirus e Rotavírus, e protozoários como Cryptosporium e Giardia. Todos estes microrganismos se não removidos eficazmente pelas estações de tratamento de águas residuais ou se originarem de esgotos são libertados nas águas ambientais e poderão, portanto, ir contaminar as nossas praias. A ingestão destes microrganismos poderá causar problemas de saúde aos banhistas, nomeadamente em crianças, pessoas idosas e pessoas com o sistema imunitário comprometido. Acontece que estes microrganismos, a existirem, estão em números muito inferiores que os dos chamados indicadores de contaminação fecal, sendo detetados de forma “indireta” por estes.

Só no decorrer do ano de 2023, 52 praias de Norte a Sul do país foram interditadas ou desaconselhadas temporariamente em Portugal entre início de maio e o final de agosto, sendo que metade (26) ocorreu no mês de agosto. Nas ocorrências, registaram-se ainda casos de praias com contaminação fecal acima do que se encontra na legislação por duas ou três vezes, como foi o caso da praia da Duquesa (Cascais) e da dos Pescadores (Albufeira). Por vezes, estas contaminações acontecem de forma pontual, uma descarga de esgoto ilegal ocasional, e que com a massa de água e correntes nas praias, a contaminação acaba por ser diluída ao longo de um curto espaço de tempo. Para averiguar se se tratou de uma contaminação pontual das águas balneares, são efetuadas colheitas adicionais nas praias com uma determinada frequência para confirmar o final do episódio de contaminação fecal.

Como tal, e tendo em conta os efeitos para a saúde que o contacto com águas balneares contaminadas podem ter, devemos sempre também fazer a nossa parte e não descurar os avisos emitidos pelas Autoridades Regionais de Saúde (ARS) e pela Agência Portuguesa do Ambiente, nomeadamente através da não utilização das praias balneares até novo anúncio do final do episódio de contaminação fecal. Fica da nossa parte, como cidadãos, fazer parte deste “ecossistema” para nossa proteção, proteção das nossas famílias, proteção dos animais e do ambiente.

 

Investigadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico

A qualidade e interdição das praias em época balnear


Só no decorrer do ano de 2023, 52 praias de Norte a Sul do país foram interditadas ou desaconselhadas temporariamente em Portugal entre início de maio e o final de agosto.


Agora que terminou o período da época balnear é uma boa altura para falarmos sobre todas as notícias que foram publicadas sobre interdição de zonas balneares.

Durante o período em que está em vigência a época balnear, todas as praias portuguesas, num total de 658 águas balneares (511 no Continente, 88 na Região Autónoma dos Açores e 59 na Região Autónoma da Madeira), são analisadas com frequência para parâmetros indicadores de contaminação fecal, nomeadamente as bactérias Escherichia coli e enterococos intestinais. De acordo com o Decreto-Lei n.º 135/2009 de 3 de junho, a avaliação da qualidade das praias pode ser considerada de excelente qualidade, boa qualidade, qualidade aceitável e de má qualidade, dependendo dos números em que se encontram os indicadores de contaminação fecal.

Porque devemos então pesquisar os indicadores de contaminação fecal com frequência nas praias, particularmente no período em que se encontra aberta a época balnear? A introdução de contaminação fecal em praias interiores e em praias costeiras e de transição ocorre através de diferentes mecanismos sobretudo ligados a descargas de águas residuais inadequadamente tratadas e descargas de esgotos ilegais em ribeiras ou diretamente no mar. Estas águas contêm contaminação fecal de origem humana e animal, que não tem apenas só as bactérias descritas anteriormente, sendo constituídas por diversos outros organismos, muitos deles patogénicos do ser humano. Nos esgotos podemos encontrar bactérias patogénicas como por exemplo Salmonella e Campylobacter, vírus entéricos patogénicos como Norovirus e Rotavírus, e protozoários como Cryptosporium e Giardia. Todos estes microrganismos se não removidos eficazmente pelas estações de tratamento de águas residuais ou se originarem de esgotos são libertados nas águas ambientais e poderão, portanto, ir contaminar as nossas praias. A ingestão destes microrganismos poderá causar problemas de saúde aos banhistas, nomeadamente em crianças, pessoas idosas e pessoas com o sistema imunitário comprometido. Acontece que estes microrganismos, a existirem, estão em números muito inferiores que os dos chamados indicadores de contaminação fecal, sendo detetados de forma “indireta” por estes.

Só no decorrer do ano de 2023, 52 praias de Norte a Sul do país foram interditadas ou desaconselhadas temporariamente em Portugal entre início de maio e o final de agosto, sendo que metade (26) ocorreu no mês de agosto. Nas ocorrências, registaram-se ainda casos de praias com contaminação fecal acima do que se encontra na legislação por duas ou três vezes, como foi o caso da praia da Duquesa (Cascais) e da dos Pescadores (Albufeira). Por vezes, estas contaminações acontecem de forma pontual, uma descarga de esgoto ilegal ocasional, e que com a massa de água e correntes nas praias, a contaminação acaba por ser diluída ao longo de um curto espaço de tempo. Para averiguar se se tratou de uma contaminação pontual das águas balneares, são efetuadas colheitas adicionais nas praias com uma determinada frequência para confirmar o final do episódio de contaminação fecal.

Como tal, e tendo em conta os efeitos para a saúde que o contacto com águas balneares contaminadas podem ter, devemos sempre também fazer a nossa parte e não descurar os avisos emitidos pelas Autoridades Regionais de Saúde (ARS) e pela Agência Portuguesa do Ambiente, nomeadamente através da não utilização das praias balneares até novo anúncio do final do episódio de contaminação fecal. Fica da nossa parte, como cidadãos, fazer parte deste “ecossistema” para nossa proteção, proteção das nossas famílias, proteção dos animais e do ambiente.

 

Investigadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico