O futuro Governo da Região Autónoma da Madeira será apoiado por 23 Deputados da coligação PPD/PSD-CDS/PP e por uma Deputada do PAN, numa assembleia que reúne 47 Parlamentares. Tem tudo para ficar na história como o Governo cai-cai, seguindo um modelo de vestido que desafia a lei da gravidade, também conhecido, com o folguedo que o país irmão coloca no uso da língua, como “tomara que caia”. E serão muitos os olhos que, postos no Governo, pensarão brasileiramente. Começando pelo incumbente, e futuro Presidente do Governo Regional, que não desdenhará tornar-se um discípulo de António Costa e, depois de promover o strip tease político do PAN, criar condições para a dissolução da Assembleia Legislativa Regional e a convocação, pelo Presidente da República, de novas eleições. A queda do Governo pode também ser provocada pelo CDS-PP, bastando que um seu Deputado, eleito na lista da coligação, deixe de apoiar o Governo, numa versão tropical e invertida do Deputado limiano à Assembleia da República. Razões parecem não faltar: o ainda líder nacional do junior partner anunciou ontem: “O CDS-PP demarca-se expressamente do acordo celebrado entre o PSD-Madeira e o PAN.” O terceiro pilar do Novo Governo também não está muito sólido, com um porta-voz regional do PAN que contraria o discurso da Deputada regional. Os politólogos que estudam a realidade saída das eleições do passado domingo, inspirados pela literatura latina, estão divididos na escolha da fábula aplicável à nova política regional, de inspiração animalística, dividindo-se entre “O sapo e o boi” e “O sapo e o escorpião”, mas estão irmanados na contagem do elevado número de sapos que estão a ser engolidos.
Novas eleições são o primeiro desejo de toda e qualquer oposição. Pelo PS será difícil um pior resultado eleitoral. O Chega, tendo conseguido derrotar a maioria absoluta anunciada pelas sondagens, almeja repetir a façanha. A Iniciativa Liberal quer uma segunda oportunidade para entrar para o Governo Regional, se possível antes das eleições para a Assembleia da República. Juntos Pelo Povo, PCP e Bloco de Esquerda estão suficientemente confiantes para não temerem novas eleições e os efeitos negativos do voto útil a favor de uma inexistente frente de esquerda.
As leituras nacionais dos eventos da política regional estão concentradas no PSD. Miguel Albuquerque organizou um “Duch auction” para aquisição do voto de um Deputado. A IL anunciou a vontade de integrar o Governo e de re-escrever o programa eleitoral que a coligação encabeçada pelo PSD levou a votos. O PAN deve ter feito, à escala regional, as mesmas terríveis exigências que deixaram exangues o XXI e o XXII Governos constitucionais e rotas as arcas dos respectivos Ministros das Finanças. Luís Montenegro, que ficou a atender as chamadas telefónicas feitas para a leiloeira, não conseguiu colocar a oferta feita pela IL do continente. Sem surpresa, o PAN ganhou o leilão.
Embalada pela vitória, a líder nacional do PAN leu à comunicação social o extenso índice do caderno reivindicativo para a discussão do Orçamento do Estado para 2024. No Conselho de Ministros de ontem terão sido distribuídas fartas doses de melatonina e de chá de cidreira para serenar as governamentais preocupações suscitadas pelas reivindicações do PAN. Fortes nas suas lideranças, Albuquerque e Montenegro anunciaram, irmanados, a vitória sobre o Chega, no melhor estilo MeToo: “Não é não!”.