1. Apesar de esmagadora, a vitória da coligação PSD/CDS na Madeira ficou aquém da meta que Miguel Albuquerque tinha fixado, ao perder a maioria absoluta por um deputado e seis mil votos. Albuquerque vai, pois, formar governo com o apoio dos liberais, do PAN ou de parte ou do todo dos Juntos Pelo Povo. E assim passará por cima do imaturo compromisso de se demitir se falhasse o objetivo, como sucedeu. Na política as afirmações perentórias são sempre de evitar. É mais um entre muitos precedentes. O resultado que aguenta Albuquerque é mau para Montenegro que queria tirar dividendos da esperada vitória. Correu-lhe mal, mas consolou-se alegando que ganhou. Fez mal em envolver-se em excesso. Estas regionais mostraram novamente que o Chega é uma realidade em todo lado. Quanto mais o rejeitam, mais Ventura tem potencial de crescimento. Só o racionalismo do voto útil o pode travar, mas é coisa para a qual os portugueses se estão cada vez mais nas tintas. Optam pelo protesto legítimo e emotivo e fragmentam os resultados. Quanto à esquerda, os resultados mostram que se balcaniza sem um PS forte. Pela amostra madeirense, isso tenderá a obrigar António Costa a ir a jogo novamente em legislativas.
2. Tal como a Grécia até há pouco, a Itália está sozinha a aguentar a permanente chegada de milhares de migrantes que passam pela Tunísia e demandam Lampedusa. Numa semana chegaram lá mais de 12 mil. Os tunisinos, como os turcos, fazem de travão à migração e recebem milhões por isso, mas quando querem abrem passagem. O resto da Europa finge preocupar-se e explica que já não pode aceitar mais gente, o que não é mentira. É o caso da Alemanha e da França, que se juntam a outros países sobrelotados. Para uns, o isolamento italiano fará com que a extrema-direita progrida ainda mais. No fundo, tudo se resume à luta partidária eleitoral. Mais do que a questão humanitária, estão em causa interesses de luta política. O fluxo de migrantes não vai parar. A Europa não aguenta mais chegadas anárquicas. Para além da pobreza e de múltiplas causas adjacentes, o problema está nas máfias de passadores sediadas no Magrebe e restante África, na Ásia e na Europa. Um dia tem de haver a coragem dos países democráticos perseguirem e destruírem impiedosamente essas redes, recorrendo à violência como legítima defesa, uma vez que se trata de terroristas, o que justifica a sua destruição por ataques de drones ou eliminação em operações de comandos. Sem medidas radicais, tudo vai ficar pior. O Mediterrâneo será cada vez mais o maior cemitério do mundo, como um dia disse o Papa Francisco. E porque hão de ser a Europa, os Estados Unidos e o Canadá a aguentar tudo, quando por exemplo o país mais rico do mundo, a Arábia Saudita, é um deserto de onde são repelidos com violência todos migrantes? Quantos acolhe a próspera China ou a Rússia? Com a acumulação de foragidos, as sociedades ocidentais transformam-se em espaços de violência, sectarismo político, religioso e étnico cada vez mais graves. Os que chegam e se instalam tornam-se exigentes e intransigentes, abrindo espaço ao crescimento da xenofobia. Às vezes, a decisão de migrar é uma decisão pior do que a resistência, como mostram hoje os ucranianos. Outra explicação piedosa que alguns iluminados usam para justificar estes fluxos, sobretudo do Sul, tem a ver com as alterações climáticas. Elas existem de facto. Mas atribuir a culpa às democracias ocidentais é de um cinismo inaceitável. Os BRIC e os estados africanos são destruidores e altamente poluidores. Não fazem esforços comparáveis aos dos ocidentais para contrariar a situação. Alimentam-se dos seus recursos naturais e de corrupção. A Europa é a sociedade mais reformista climaticamente. Há tempos uns jornalistas perguntaram a manifestantes que defendiam a vinda sistemática de migrantes se estavam disponíveis para receber um em casa. Adivinhem as generosas respostas! As soluções devem ser encontradas nos países de origem, até para a sociedade europeia não ficar ameaçada na sua essência pela chegada massiva de gente que, em regra, nunca vai querer integrar-se, a menos que venha de países com afinidades culturais, o que é raro. Portugal, por exemplo, acolhe cerca de 400 mil brasileiros. São grande parte da população ativa e trabalham normalmente em profissões de baixas qualificações, sendo essenciais. Muitos, porém, pouco mais querem do que dar o salto para a Europa quando obtiverem a nacionalidade, acompanhando a ambição de muitos portugueses. Existem esporadicamente tensões entre as comunidades. A situação não atinge proporções dramáticas. Há, porém, que evitar agravamentos latentes. O nosso maior foco de tensão gravita à volta da chegada em massa de imigrantes do Indostão que não têm nenhuma afinidade com a população local. Há zonas onde os portugueses já se sentem mal. A nossa História mostra que nem sempre a tolerância que nos autoatribuímos tem fundamento. Antes pelo contrário.
3. A nova campanha de vacinação da gripe e da covid arrancou mal. As farmácias tardam em ter instruções concretas. Há preocupação com os stocks da vacina da gripe. O mesmo não sucede com as da covid, relativamente às quais o problema está na curta validade depois de preparadas, o que leva a que a comparência nas farmácias não possa falhar. Nos centros de saúde e nas chamadas USF a desorganização é evidente. Tudo isto acontece quando continua por preencher o lugar de Graça Freitas, à frente da Direção-Geral de Saúde. Também falta esclarecer a situação legal da direção executiva do SNS. Qualquer dia, começam a ouvir-se apelos ao regresso do Almirante. A incompetência é o fermento do populismo.
4. O cardeal D. Américo Aguiar foi indicado pelo Papa para bispo de Setúbal. Faz sentido. Américo está identificado como um fazedor (nada a ver com um “fake”, fazedor tipo António Costa, embora ambos tenham convergências política evidentes e passadas). O bispo vem com o prestígio do sucesso das Jornadas da Juventude. A diocese de Setúbal é gigantesca. Vai da Comporta até Almada. Está implantada numa zona dirigida por socialistas e/ou comunistas. Por lá acumulam-se os maiores problemas sociais da grande Lisboa e muita especulação imobiliária. Passam pela segurança, a saúde, a deficiente integração de imigrantes, os transportes e casos de intolerância democrática. O problema da habitação é particularmente vergonhoso. Dom Américo tem de aproveitar o seu mediatismo para pressionar reformas, os combates à pobreza e desenvolver ainda mais o trabalho gigantesco da Igreja na enorme diocese. Como referência passada, tem o heroico D. Manuel Martins, por sinal seu conterrâneo, que se bateu contra a fome, o desemprego, denunciando injustiças e esquecimentos. Uma das lacunas daquela zona é a inexistência de cobertura jornalística por parte de órgãos de comunicação nacionais. Nos anos 90, a Lusa abriu lá delegação. Foi fechada pouco tempo depois. É que a realidade incomoda muito os poderes todos. Sobretudo numa zona tão densamente povoada e que vota.
5. Será que alguém explica a razão pela qual os antigos combatentes que queiram obter o título de transporte gratuito têm de fazer prova de vida anualmente? Essa diligência é, para mais, feita em sítios limitados, originando filas e delongas a pessoas que normalmente já têm uma idade respeitável (há exceções naturais como os que estiveram em teatros NATO ou da ONU). Isto enquanto um lisboeta com mais de 65 anos não tem esse incómodo para circular na capital, visto que o título que lhe é atribuído tem oito anos de validade.
6. O STOP, um sindicato de professores ligado à extrema esquerda, iniciou o ano letivo com mais uma greve, confirmando o horror dos seus membros a aturar alunos. A coisa foi um rotundo fracasso. Do lado de Mário Nogueira houve mais bom senso. Anda à caça ao ministro João Costa em todas as esquinas. E assim a criatura lá se mantém à frente da Fenprof, o que sempre lhe permite ser um profissional do sindicalismo e não um professor. Pelo menos não tem de andar com a casa às costas ou a dormir no carro, como se viu esta semana num caso vergonhoso mostrado numa televisão.
7. Quanto mais se vê rugby, mais se verifica que, sendo um jogo duro, é um embate feito com regras e desportivismo. O rugby cresce e evolui em todos os sentidos, enquanto o futebol se degrada, se torna um antro de corrupção, de antijogo, de arbitragens mais do que duvidosas e de comentadores ignorantes (alguns) e cartilheiros. No Mundial de Rugby de França os semiprofissionais e amadores portugueses têm prestigiado o país com a sua entrega e dignidade desportiva. Bravo para os Bravos Lobos!