Ser aficionado não é ser Pedrito


Nunca me furtei a defender as touradas contra quem quer que seja. Mesmo quando profissionalmente poderia ser muito mais cómodo para mim estar calado. No entanto, desta feita, tenho de o dizer: como aficionado, tudo quanto foi dito por Pedrito de Portugal não me representa.


Pese embora cada pessoa tenha sempre e a todo o momento, total direito e liberdade em manifestar a sua opinião sobre o que quer que seja, independentemente do que essa mesma opinião possa ou não significar quando confrontada com a opinião dos outros, há circunstâncias em que se deve medir com cautela o que se diz, ainda que dizer um disparate seja nos dias de hoje a forma mais rápida de ter um minuto de palco.

Pedrito de Portugal, a quem aclaro desde já, não pretendo ofender ou melindrar, deu há poucos dias ao “Expresso”, uma entrevista a meu ver absolutamente disparatada, não só, naturalmente, aos olhos de quem não gosta de touradas, mas desta vez, também, imagine-se, aos olhos de muitos que como eu, gostam de touradas, mas que em nada do que foi dito se reveem.

Digo-o com tristeza.

Nunca me furtei a defender as touradas contra quem quer que seja. Mesmo quando profissionalmente poderia ser muito mais cómodo para mim estar calado. No entanto, desta feita, tenho de o dizer: como aficionado, tudo quanto foi dito por Pedrito de Portugal não me representa.

Digo mais, tenho as mais fundadas dúvidas que esta entrevista represente a esmagadora maioria dos portugueses que gostam de touradas, pela simples razão de que a discussão em torno das mesmas não assenta em nada do que foi abordado.

Ao contrário do que foi dito, obviamente que o touro sofre, tal como sofreu o Pedrito quando pelo touro foi colhido e teve as cornadas nas pernas que referiu terem acontecido. Por amor de Deus, vir dizer que o corno quando entra esteriliza, queima, ou sei lá que mais, ou que o touro não sente porque está quente, isto ou aquilo, não tem lugar nos dias que correm. Sim eu também já fui tentado a dizê-lo. Sim eu também já li estudos que dizem que assim não é. Mas depois também li outros que garantem ser. Não interessa, não é a abordagem certa.

O toureiro quando vai tourear não se entrega a Deus, pela simples razão de que não foi Deus quem o obrigou a escolher a actividade que pratica. Pode pedir a Deus proteção, tal como qualquer outra pessoa de fé pede no seu dia-a-dia, mas nunca numa visão quase profética como resulta das palavras de Pedrito, quase dando a entender que o toureiro é uma espécie de encarnação de Deus na praça de touros.

Da mesma forma que as touradas não vão acabar, contrariamente ao que Pedrito pareceu considerar, quando Deus entender que a sua função na Terra, acabou. Deus não tem nada que ver com a existência ou não de touradas, nem tão pouco as touradas têm qualquer papel na Terra, senão aquele que todos quantos como eu delas gostam, lhe dão.

Para quem tem fé, Deus criou o Homem, mas não é responsável pelas criações do Homem. Está tudo do avesso, Pedrito.

Dar uma entrevista sobre touradas, e acabar a compará-las a bricolage? Por favor, até para o absurdo há limites.

Gostar de touradas não significa ser um livre aberto ao disparate, dizer como sendo certeza aquilo que qualquer criança sabe não corresponder à verdade, ou tão pouco aceitar que palavras ditas a título pessoal possam ser confundidas com o sentimento de um colectivo, que foi aquilo que Pedrito fez, mas não corresponde à verdade.

A única coisa que a entrevista de Pedrito conseguiu, foi revoltar ainda mais a sociedade face a uma actividade que na maioria dos casos não só não conhece como nem está disponível para conhecer. Convenhamos, eu se não gostasse de touradas, depois desta entrevista…enfim.

Vamos lá começar a pensar com cabeça, medir aquilo que se diz e peço desculpa pelo termo, ter juizinho.

As touradas são uma manifestação cultural de parte substancial do território nacional, e nessa medida é absolutamente natural que para quem seja dessas mesmas zonas do país façam todo o sentido, da mesma forma que para quem não é dessas zonas do país, sejam consideradas um espetáculo anacrónico.

O aficionado não é um bárbaro, um aficionado não vai a uma tourada para ver sangue, um aficionado, por sê-lo, não é em nada pior ser humano quando comparado com outro que não o seja. Mas também não pode ser pateta.

Tem a parte do país que não gosta de touradas, direito em proibir a parte que delas gosta, em realizá-las ou a elas assistir?

A meu ver, não. No ver de outros, sim. Venha de lá o debate! Aqui começa, aqui se trava e aqui acaba.

Conversas absurdas, nalguns momentos quase parecendo roçar o desequilíbrio sociológico/intelectual, ninguém dá para esse peditório. Nem mesmo aqueles que como eu gostam de touradas e que em tudo quanto aquilo que possam, sempre defenderão a sua continuidade.

Pedrito, lamento, foste um grande toureiro, mas a tua doutrina não só não representa o aficionado comum, como arrisco dizer nem sequer se adapta à postura de todos quantos, hoje, são toureiros.

Ser aficionado não é ser Pedrito


Nunca me furtei a defender as touradas contra quem quer que seja. Mesmo quando profissionalmente poderia ser muito mais cómodo para mim estar calado. No entanto, desta feita, tenho de o dizer: como aficionado, tudo quanto foi dito por Pedrito de Portugal não me representa.


Pese embora cada pessoa tenha sempre e a todo o momento, total direito e liberdade em manifestar a sua opinião sobre o que quer que seja, independentemente do que essa mesma opinião possa ou não significar quando confrontada com a opinião dos outros, há circunstâncias em que se deve medir com cautela o que se diz, ainda que dizer um disparate seja nos dias de hoje a forma mais rápida de ter um minuto de palco.

Pedrito de Portugal, a quem aclaro desde já, não pretendo ofender ou melindrar, deu há poucos dias ao “Expresso”, uma entrevista a meu ver absolutamente disparatada, não só, naturalmente, aos olhos de quem não gosta de touradas, mas desta vez, também, imagine-se, aos olhos de muitos que como eu, gostam de touradas, mas que em nada do que foi dito se reveem.

Digo-o com tristeza.

Nunca me furtei a defender as touradas contra quem quer que seja. Mesmo quando profissionalmente poderia ser muito mais cómodo para mim estar calado. No entanto, desta feita, tenho de o dizer: como aficionado, tudo quanto foi dito por Pedrito de Portugal não me representa.

Digo mais, tenho as mais fundadas dúvidas que esta entrevista represente a esmagadora maioria dos portugueses que gostam de touradas, pela simples razão de que a discussão em torno das mesmas não assenta em nada do que foi abordado.

Ao contrário do que foi dito, obviamente que o touro sofre, tal como sofreu o Pedrito quando pelo touro foi colhido e teve as cornadas nas pernas que referiu terem acontecido. Por amor de Deus, vir dizer que o corno quando entra esteriliza, queima, ou sei lá que mais, ou que o touro não sente porque está quente, isto ou aquilo, não tem lugar nos dias que correm. Sim eu também já fui tentado a dizê-lo. Sim eu também já li estudos que dizem que assim não é. Mas depois também li outros que garantem ser. Não interessa, não é a abordagem certa.

O toureiro quando vai tourear não se entrega a Deus, pela simples razão de que não foi Deus quem o obrigou a escolher a actividade que pratica. Pode pedir a Deus proteção, tal como qualquer outra pessoa de fé pede no seu dia-a-dia, mas nunca numa visão quase profética como resulta das palavras de Pedrito, quase dando a entender que o toureiro é uma espécie de encarnação de Deus na praça de touros.

Da mesma forma que as touradas não vão acabar, contrariamente ao que Pedrito pareceu considerar, quando Deus entender que a sua função na Terra, acabou. Deus não tem nada que ver com a existência ou não de touradas, nem tão pouco as touradas têm qualquer papel na Terra, senão aquele que todos quantos como eu delas gostam, lhe dão.

Para quem tem fé, Deus criou o Homem, mas não é responsável pelas criações do Homem. Está tudo do avesso, Pedrito.

Dar uma entrevista sobre touradas, e acabar a compará-las a bricolage? Por favor, até para o absurdo há limites.

Gostar de touradas não significa ser um livre aberto ao disparate, dizer como sendo certeza aquilo que qualquer criança sabe não corresponder à verdade, ou tão pouco aceitar que palavras ditas a título pessoal possam ser confundidas com o sentimento de um colectivo, que foi aquilo que Pedrito fez, mas não corresponde à verdade.

A única coisa que a entrevista de Pedrito conseguiu, foi revoltar ainda mais a sociedade face a uma actividade que na maioria dos casos não só não conhece como nem está disponível para conhecer. Convenhamos, eu se não gostasse de touradas, depois desta entrevista…enfim.

Vamos lá começar a pensar com cabeça, medir aquilo que se diz e peço desculpa pelo termo, ter juizinho.

As touradas são uma manifestação cultural de parte substancial do território nacional, e nessa medida é absolutamente natural que para quem seja dessas mesmas zonas do país façam todo o sentido, da mesma forma que para quem não é dessas zonas do país, sejam consideradas um espetáculo anacrónico.

O aficionado não é um bárbaro, um aficionado não vai a uma tourada para ver sangue, um aficionado, por sê-lo, não é em nada pior ser humano quando comparado com outro que não o seja. Mas também não pode ser pateta.

Tem a parte do país que não gosta de touradas, direito em proibir a parte que delas gosta, em realizá-las ou a elas assistir?

A meu ver, não. No ver de outros, sim. Venha de lá o debate! Aqui começa, aqui se trava e aqui acaba.

Conversas absurdas, nalguns momentos quase parecendo roçar o desequilíbrio sociológico/intelectual, ninguém dá para esse peditório. Nem mesmo aqueles que como eu gostam de touradas e que em tudo quanto aquilo que possam, sempre defenderão a sua continuidade.

Pedrito, lamento, foste um grande toureiro, mas a tua doutrina não só não representa o aficionado comum, como arrisco dizer nem sequer se adapta à postura de todos quantos, hoje, são toureiros.