O Mosteiro de Santa Maria do Mar, entre as 17h e as 20h desta sexta-feira, abre as portas à população de Cascais para a vindima das castas Ratinho, Galego Dourado, Arinto, Castelão e, pela primeira vez, Preto Martinho. «O vinho de Carcavelos foi produzido em Cascais durante muitos séculos e, entretanto, a produção daquelas castas foi descontinuada. A Câmara Municipal de Cascais comprou um terreno no Mosteiro de Santa Maria do Mar em 2018 e este terreno já tinha vinhas com estas castas, mas não estava a ser cultivado. Aliás, grande parte da vinha estava doente», explica Joana Balsemão, vereadora no Município de Cascais, onde é responsável pelas políticas de ambiente, descarbonização e Cidadania e Participação.
«E quisemos recuperá-la. É uma questão, por um lado, de identidade e, por outro, de regeneração. Quando há um terreno que está expectante, o ideal é não o deixarmos expectante, mas sim produzirmos. Não queremos terrenos passivos, mas sim que sejam ativos. A agricultura biológica permite também proteger os ecossistemas. A regeneração é também isto: o ressuscitar de uma tradição e dos solos», diz ao Nascer do SOL. «Temos 100 participantes e não há mais porque fechámos as inscrições neste número. Se forem muitas pessoas, não há tarefas para todas. Este número mostra o interesse que esta iniciativa suscita. É o terceiro ano de vindima: em 2021 tivemos 4500 quilos de uva, em 2022 tivemos 7300 e este ano contamos ter 8300. Já vindimámos quase tudo, falta um hectare. Mostra um crescendo, que é possível rentabilizar a colheita usando sempre métodos que não são nocivos para o ambiente».
«Acho que pode ser também interessante referir que a produção do vinho tinha sido descontinuada e, desde que houve este retomar, algumas das quintas históricas voltaram a produzir como a da Samarra e a de Vale Verde. Não é um ensejo público apenas, também é privado», realça a vereadora. «Este projeto não é solitário, faz parte de algo maior, do Terras de Cascais, que inclui o programa das hortas comunitárias, das vinhas comunitárias e também dos pomares. As pessoas têm vontade de ter contacto com a terra. Para além dos benefícios ambientais e para a saúde, há a emocional e de laços», declara, explicando que os horticultores comentam, por exemplo ‘A minha avó vem para aqui e está muito melhor desta e de outra doença’ e há vizinhos que se conhecem agora. «Esta dimensão é muito mais difícil de medir do que a quantitativa, mas as histórias que existem por detrás de cada parcela de terreno são tão fascinantes quanto as mesmas».