Hoje, mais do que nunca, as preocupações ambientais estão na ordem do dia e são uma prioridade. Estamos ávidos de soluções que permitam mitigar os efeitos que a evolução humana, baseada numa economia que continua a depender de recursos fósseis, infringiu no ambiente. Encontrar tais soluções é vital para que as gerações futuras tenham um mundo onde possam habitar, no mínimo, com a mesma qualidade de vida e dignidade que os seus antepassados, nós.
O termo inglês longtermism, na minha interpretação a visão do mundo a longo prazo, tem vindo a ser amplamente discutido, como peça fundamental para o futuro da humanidade. A essência do conceito é definida pelo filósofo William MacAskill como a perspetiva que prioriza o bem-estar e os interesses das gerações futuras. Esta abordagem, polémica para alguns, ganhou importância em vários domínios, como a sustentabilidade ambiental, o planeamento económico, a formulação de políticas ambientais e o avanço tecnológico. A ideia central está em reconhecer a interconexão das ações humanas, as suas consequências ao longo do tempo, e a nossa responsabilidade em garantir um futuro próspero para as gerações seguintes. No seu livro What We Owe the Future, MacAskill desafia o leitor a imaginar que viveu todas a vidas ao longo da evolução da humanidade. Mas MacAskill convida-nos a ir ainda mais longe. No limite, pede-nos para imaginar que viveríamos todas as vidas enquanto a Terra for habitável. Neste cenário, a vida do leitor, que englobaria todas as vidas humanas que alguma vez teriam existido, estaria ainda no seu início. Após esse exercício de imaginação, com o conhecimento acumulado de todas essas vidas, a pergunta que se impõe é que implicação teriam as ações de vidas passadas nas futuras.
No centro da abordagem de uma visão do Mundo a longo prazo está o reconhecimento de que as escolhas de hoje se repercutem no tempo, moldando o mundo que os nossos descendentes herdarão. Numa era marcada por mudanças rápidas e desafios globais complexos, adotar esta visão é essencial para navegar pelas incertezas, e tomar decisões informadas que evitem proveitos imediatos em detrimento de resultados sustentáveis e equitativos para as gerações futuras. Quer se trate das alterações climáticas, do esgotamento de recursos naturais, ou das desigualdades sociais, as consequências da inação, ou da ação inadequada, serão sentidas de forma mais premente por aqueles que virão depois de nós.
Na sua essência, uma visão a longo prazo é a personificação da sabedoria, responsabilidade e empatia intergeracional. Reconhecer essa visão é admitir que as nossas decisões guiarão a humanidade para um futuro que não é apenas melhor para nós, mas também para as gerações seguintes, deixando um legado de ecossistemas prósperos, sociedades equitativas e economias resilientes.
No domínio da tecnologia e da inovação, o pensamento a longo prazo é essencial para garantir que os avanços de hoje não criem inadvertidamente desafios imprevistos para o futuro. Esta é uma linha de pensamento que não foi seguida no passado. Um exemplo claro da priorização imediata, ignorando os impactos a longo prazo, foi o tempo decorrido entre a descoberta do potencial efeito do dióxido de carbono na atmosfera, em meados do século XIX por Eunice Foote, e o reconhecimento do problema por parte da comunidade internacional no início dos anos 70 do século XX. Foote postulou no seu trabalho, Circumstances Affecting the Heat of Sun’s Rays, publicado no The American Journal of Science em 1856, que um aumento do dióxido de carbono na atmosfera teria um impacto na sua temperatura, ou seja, implicações no aquecimento global. Apesar disso, e tendo em conta que as emissões atmosféricas de dióxido de carbono cresceram exponencialmente, passando de cerca de 280 milhões de toneladas em 1856 para cerca de 37 mil milhões de toneladas em 2022, muito pouco foi feito para que as futuras gerações, nós, não tivessem de lidar com este problema. Só em 1972 em Estocolmo, na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, foram apresentados a Declaração de Estocolmo e o Plano de Ação para o Meio Ambiente Humano, sendo este o marco histórico que deu início aos esforços para mitigar este problema.
A educação é uma peça fundamental para alcançar um mundo mais sustentável e atingirmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável preconizados pela Organização das Nações Unidas. Ao introduzirmos os conceitos de eco-design, sustentabilidade, economia circular e economia de recursos na formação das novas gerações, e mais importante, dos novos profissionais, estaremos a promover a adoção de uma visão do mundo a longo prazo. A sustentabilidade ambiental é uma área privilegiada onde essa visão é crucial. As nossas ações em matéria de consumo energético, gestão de recursos naturais e de resíduos, tiveram, têm e terão implicações a longo prazo para a saúde do planeta, podendo causar danos irreversíveis nos ecossistemas, prejudicando drasticamente a qualidade de vida das gerações futuras.
Enfrentar desafios de longo prazo pode parecer inatingível e distante, especialmente num mundo acostumado a soluções rápidas e de gratificação imediata. Independentemente da motivação que nos impele a promover esta visão, o mais importante é que se fomentem e pratiquem ações com os olhos postos nas gerações futuras, no futuro da Humanidade e do mundo.
Professor do Instituto Superior Técnico, investigador no Centro de Recursos Naturais e Ambiente