Alterações climáticas e a transmissão de Dengue


As alterações climáticas terão também um forte contributo na movimentação de humanos e animais que irá aumentar ainda mais a complexidade da emergência de arbovírus.


Muitos de nós já ouvimos falar no vírus do Dengue, o vírus Zika, o vírus da febre amarela, o vírus da encefalite japonesa, o vírus West Nile, e o vírus chikungunya. Devido ao número de casos, estes são os principais membros de uma família: Arbovírus. Atualmente são conhecidos mais de 500 arbovirus, dos quais mais de 100 são capazes de transmitir doença a humanos, causando elevados custos socioeconómicos e em termos de saúde pública principalmente em países tropicais e subtropicais. 

Devido às alterações climáticas, os arbovírus começam a ser um problema global. O vírus do Dengue, Zika, chikungunya e West Nile são transmitidos pelo mosquito Aedes, sendo o vírus do Dengue o mais relevante clinicamente devido à sua vasta distribuição sendo correntemente endémico em mais de 100 países. Estima-se que, sozinho, o vírus do Dengue seja responsável por 390 milhões de infeções anualmente das quais apenas 96 milhões são sintomáticas. No entanto, as infeções pelo vírus do Dengue podem causar um quadro vasto de sintomas, desde febre até risco de vida, incluindo choque, danos em diversos órgãos e hemorragia. 

Embora a generalidade das infeções por arbovírus ocorram nas regiões equatoriais, nomeadamente no Sudeste asiático, em regiões do Pacífico ocidental e nas Américas, devido a diversos fatores como a facilidade em viajar, alterações climáticas e o aumento acelerado da urbanização, estes vírus estão a expandir o seu território para regiões temperadas, como por exemplo os Estados Unidos e o sul da Europa, que se tornaram zonas viáveis para os insetos transmissores devido ao aumento da temperatura.

O mosquito Aedes albopictus já se encontra na Europa, incluindo em Portugal, tendo sido detetado pela primeira vez em Portugal continental em 2017, sendo que não se verificou a existência de transmissão. A nível nacional, o primeiro registo digno de nota foi em 2012, quando ocorreu um surto de dengue na ilha da Madeira, tendo o mosquito já sido detetado em 2005 pela primeira vez na ilha. Deste surto resultaram mais de dois mil casos. 

A transmissão de Dengue está relacionada com o mosquito Aedes albopictus, sem o qual não existe a transmissão do vírus a humanos. Temperatura e humidade são fatores que influenciam fortemente a dinâmica de transmissão do Dengue pois são condições favoráveis para o desenvolvimento do mosquito. O aumento destas causa um aumento na “temporada” do dengue em zonas endémicas e, potencialmente, promove o estabelecimento do mosquito e do dengue em novas zonas como o sul da Europa e o sul dos Estados Unidos. Modelos que incorporam alterações climáticas demonstraram que o mosquito A. albopictus pode estabelecer-se em grande parte das regiões europeias, incluindo na parte ocidental alemã e no sul do Reino Unido, como resultado do aumento de temperatura e de chuvas.

As alterações climáticas terão também um forte contributo na movimentação de humanos e animais que irá aumentar ainda mais a complexidade da emergência de arbovírus. O cenário mais provável poderá ser a ocorrência de transmissão autóctone em indivíduos que viajam para zonas não-endémicas na qual existam os mosquitos transmissores, cenário já verificado no sul da Europa com surtos de dengue e chikungunya. Adicionalmente, as alterações climáticas vão potencialmente criar os chamados “refugiados climáticos”, o que poderá criar desafios em termos de saúde pública. 

Embora as alterações climáticas sejam um fator no aumento da transmissão de arbovírus, particularmente problemático em zonas não-endémicas, não se pode ver a situação de uma forma isolada dado que múltiplos fatores, tais como o comportamento humano, as movimentações e a utilização do solo (por si próprios com elevado impacto nas alterações climáticas), poderão também ter um papel vital na transmissão de arbovírus.

Com as notícias da potencial irreversibilidade das alterações climáticas, podem estar a pensar que nada poderá ser feito para alterar a situação da emergência deste tipo de vírus. No entanto, todos nós podemos contribuir para reduzir a incidência destas doenças. Fatores genéricos como a utilização do solo e o desenho urbanístico poderão ajudar a diminuir a incidência de arbovírus. Medidas individuais, como reduzir os pontos de multiplicação de mosquitos (recipientes com água nos quintais, piscinas sem tratamento, e até os “pratos” dos vasos de flores constantemente cheios de água) podem reduzir a presença dos mosquitos transmissores e consequentemente das doenças causadas por estes. Também neste caso a conduta individual faz toda a diferença para impedir um problema global. Está na mão de cada um de nós…

 

Investigadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico

Alterações climáticas e a transmissão de Dengue


As alterações climáticas terão também um forte contributo na movimentação de humanos e animais que irá aumentar ainda mais a complexidade da emergência de arbovírus.


Muitos de nós já ouvimos falar no vírus do Dengue, o vírus Zika, o vírus da febre amarela, o vírus da encefalite japonesa, o vírus West Nile, e o vírus chikungunya. Devido ao número de casos, estes são os principais membros de uma família: Arbovírus. Atualmente são conhecidos mais de 500 arbovirus, dos quais mais de 100 são capazes de transmitir doença a humanos, causando elevados custos socioeconómicos e em termos de saúde pública principalmente em países tropicais e subtropicais. 

Devido às alterações climáticas, os arbovírus começam a ser um problema global. O vírus do Dengue, Zika, chikungunya e West Nile são transmitidos pelo mosquito Aedes, sendo o vírus do Dengue o mais relevante clinicamente devido à sua vasta distribuição sendo correntemente endémico em mais de 100 países. Estima-se que, sozinho, o vírus do Dengue seja responsável por 390 milhões de infeções anualmente das quais apenas 96 milhões são sintomáticas. No entanto, as infeções pelo vírus do Dengue podem causar um quadro vasto de sintomas, desde febre até risco de vida, incluindo choque, danos em diversos órgãos e hemorragia. 

Embora a generalidade das infeções por arbovírus ocorram nas regiões equatoriais, nomeadamente no Sudeste asiático, em regiões do Pacífico ocidental e nas Américas, devido a diversos fatores como a facilidade em viajar, alterações climáticas e o aumento acelerado da urbanização, estes vírus estão a expandir o seu território para regiões temperadas, como por exemplo os Estados Unidos e o sul da Europa, que se tornaram zonas viáveis para os insetos transmissores devido ao aumento da temperatura.

O mosquito Aedes albopictus já se encontra na Europa, incluindo em Portugal, tendo sido detetado pela primeira vez em Portugal continental em 2017, sendo que não se verificou a existência de transmissão. A nível nacional, o primeiro registo digno de nota foi em 2012, quando ocorreu um surto de dengue na ilha da Madeira, tendo o mosquito já sido detetado em 2005 pela primeira vez na ilha. Deste surto resultaram mais de dois mil casos. 

A transmissão de Dengue está relacionada com o mosquito Aedes albopictus, sem o qual não existe a transmissão do vírus a humanos. Temperatura e humidade são fatores que influenciam fortemente a dinâmica de transmissão do Dengue pois são condições favoráveis para o desenvolvimento do mosquito. O aumento destas causa um aumento na “temporada” do dengue em zonas endémicas e, potencialmente, promove o estabelecimento do mosquito e do dengue em novas zonas como o sul da Europa e o sul dos Estados Unidos. Modelos que incorporam alterações climáticas demonstraram que o mosquito A. albopictus pode estabelecer-se em grande parte das regiões europeias, incluindo na parte ocidental alemã e no sul do Reino Unido, como resultado do aumento de temperatura e de chuvas.

As alterações climáticas terão também um forte contributo na movimentação de humanos e animais que irá aumentar ainda mais a complexidade da emergência de arbovírus. O cenário mais provável poderá ser a ocorrência de transmissão autóctone em indivíduos que viajam para zonas não-endémicas na qual existam os mosquitos transmissores, cenário já verificado no sul da Europa com surtos de dengue e chikungunya. Adicionalmente, as alterações climáticas vão potencialmente criar os chamados “refugiados climáticos”, o que poderá criar desafios em termos de saúde pública. 

Embora as alterações climáticas sejam um fator no aumento da transmissão de arbovírus, particularmente problemático em zonas não-endémicas, não se pode ver a situação de uma forma isolada dado que múltiplos fatores, tais como o comportamento humano, as movimentações e a utilização do solo (por si próprios com elevado impacto nas alterações climáticas), poderão também ter um papel vital na transmissão de arbovírus.

Com as notícias da potencial irreversibilidade das alterações climáticas, podem estar a pensar que nada poderá ser feito para alterar a situação da emergência deste tipo de vírus. No entanto, todos nós podemos contribuir para reduzir a incidência destas doenças. Fatores genéricos como a utilização do solo e o desenho urbanístico poderão ajudar a diminuir a incidência de arbovírus. Medidas individuais, como reduzir os pontos de multiplicação de mosquitos (recipientes com água nos quintais, piscinas sem tratamento, e até os “pratos” dos vasos de flores constantemente cheios de água) podem reduzir a presença dos mosquitos transmissores e consequentemente das doenças causadas por estes. Também neste caso a conduta individual faz toda a diferença para impedir um problema global. Está na mão de cada um de nós…

 

Investigadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico