Goste-se ou não. Queira-se tornar isto mais ideológico ou menos. Queiram alguns atrair mediatismo à conta deste evento ou criticar o mediatismo de outros. Queiram uns demonstrar religião que nunca tiveram e outros vivenciar de perto aquilo que todas as semanas praticam nas Igrejas perto de suas casas de norte a sul.
Podemos ser crentes ou não. Podemos acreditar em Deus ou não.
Mas na fé, no amor entre as pessoas temos de acreditar. Eu acredito. Acredito na fé destes milhares de pessoas. Se não acreditarmos na fé de que serve a nossa vida? A fé está presente em tudo. Demonstra-se desde o nascimento ao nosso dia a dia. Temos fé (mais até) nos dias menos felizes, e vivemos de fé nos dias em que nos superamos a nós mesmos e alcançamos objetivos.
Sobre fé, nada mais apropriado do que aquilo que ficou escrito na Bíblia, na Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, mas que popularmente sintetizamos na frase “fé move montanhas”.
Provavelmente muitos dizem sem saber de onde surgiu. Surgiu na Bíblia Sagrada.
A passagem bíblica é mais profunda e evoca amor. Saibamos: “Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade não sou nada”.
Popularmente, com o passar dos séculos, transformámos a passagem para algo como “a fé pode mover montanhas, mas se não tiver amor nada sou”.
E pelas imagens, pelos vídeos que nos chegam de centenas de milhares de jovens que percorrem alegremente o país – especialmente a nossa capital Lisboa – demonstram fé. Demonstram amor.
E é impossível ficarmos indiferentes a isso. Acreditemos ou não em Deus, como comecei por dizer. Esta fé é visível na forma abnegada como um milhão de pessoas veio receber o Papa a Portugal.
Sobre mensagens, porque não é só a demonstração de fé que ficará na memória, salientar as primeiras palavras do Papa Francisco ao discursar esta quarta-feira em Lisboa.
Sobre uma velha Europa de todos têm a missão de fazer rejuvenescer, em cariz humano e cultural. Sobre a preocupante exclusão social que vivemos, silenciada às vezes, a evidente pobreza numa Europa que só dá para ricos neste século ou ainda o subtil toque sarcástico na eutanásia que a Igreja abomina (curioso o aplauso efusivo dos presentes que maioritariamente eram os mesmos que a aprovaram; Sem discussão sobre o tema, é pessoal. Respeito.). Ou ainda a clara missão de na educação haver uma dedicação a uma sociedade mais justa e inclusiva e não apenas focada na construção do bem-estar pessoal.
Entenderemos, com tempo, as mensagens claras que o Papa Francisco nos deixará em todos esses dias. São mensagens políticas de elevado nível. Sim, políticas. De cariz humano profundo.
Mensagens essas que, quer pela comunicação social (em excesso nestes dias, diga-se), como fora de redes sociais e simplesmente num qualquer café da nossa terra, são bem acolhidas.
Há um respeito institucional muito forte entre o nosso País e a Igreja. É factual, o Estado diz-se laico, mas o povo é claramente católico.
Mas aqui fica também evidente o humanismo que muitos dizem ter, mas só têm para o que querem. Como o respeito que hoje demonstram pelas posições políticas do Papa Francisco, que nem sempre têm por outros.
De facto, não podemos vender humanismo se não o temos. E o respeito pelo próximo é demasiado intrínseco à visão humanista de cada um. Quem não respeita abusivamente outros, que desconhece, seguramente não têm lições de humanismo nenhumas para dar ou vender.
Isto a propósito de algo que sempre faço e gosto. Sempre gostei de tentar conhecer os nossos intervenientes mundiais, seja em podcast com excelentes entrevistas que há hoje, em livros biográficos ou no que seja que me permita “conhecer” melhor a cabeça de líderes políticos, religiosos ou empreendedores que se destacaram.
Por estes dias ouvi mais duas entrevistas. Uma de Jay Shetty ao Presidente Joe Biden, no podcast On Purpose, e outra entrevista de Bernardo Ferrão ao Presidente de Lisboa Carlos Moedas, no podcast Geração 70.
Poderia aflorar muito as histórias pessoais de ambos. Do jovem viúvo Biden que tinha apenas 29 anos quando perdeu a primeira Esposa e uma filha e que, décadas depois, viu o seu filho mais velho morrer com um cancro, enquanto o seu outro filho lutava contra as drogas.
Esse mesmo Joe Biden que independentemente dessas perdas é maioritariamente achincalhado por ser “velho” ou porque “parece que adormeceu”. Sim, porque de políticas públicas são raros os que têm estaleca para as debater ou conhecer a política americana e o seu mercado capitalista, então preferem desferir ataques ao Homem. Sem conhecer as dores que cada um carrega.
Poderia falar da dificuldade e sucesso de Carlos Moedas vindo do seu Alentejo, sendo ele de ideologia bem distinta do comunismo de seu Pai, e que lidou com isso, andou pelo estrangeiro, formou-se e conhece Mundo mas que hoje leva com as “bocas” básicas de lisboetas e outros Senhores Tretas de redes sociais que nem sabem escrever os seus post’s no Facebook mas gostam de criticar o que nem sabem. Exemplo último, os custos das JMJ que, curioso, foram aprovadas pelo ex-Edil de Lisboa, hoje Ministro, Fernando Medina. Mas vá, siga.
Hoje temos um português no topo do respeito do Mundo, António Guterres. É Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2017. Foi Primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002. Em janeiro de 1998, enquanto fazia o melhor que podia pelo país de todos nós, faleceu a sua esposa. António Guterres e os seus dois filhos tiveram de lidar com a perda e com o impacto do cargo do Pai. Não desistiu de levar a bom porto o seu mandato e preparar aquela que foi a sua reeleição nas Eleições Legislativas de outubro de 1999.
Nesse período, basta irmos a arquivos, ler o que então se escrevia (graças a Deus não havia os “humanistas” do Facebook então) e perceberemos que respeito pelo Homem que também é figura Institucional sempre houve pouco.
Seja cá com António Guterres ou na América com Joe Biden, é evidente que a sociedade atual é muito poucochinha no sentido humanista que reveste todas estas Jornadas Mundiais da Juventude.
Criticamos sem saber.
Desrespeitamos sem olhar à dor do outro.
Deduzimos muita vez sem ter por base alguma verdade.
Não será por cá estar o Papa Francisco que haverá o Milagre de mudarmos isso tudo, mas quero acreditar que num país de 10 milhões, estando cá um milhão de peregrinos a nos encher de humanismo, possamos de futuro trilhar um caminho de maior respeito, humanismo e credibilidade por quem tem a coragem de ter ação política, seja religiosa ou partidária.