As latitudes e longitudes do estado de necessidade da direita, à falta de princípios e músculo para uma oposição eficaz e a sustentação de alternativas mobilizadoras, determinam o registo de barata tonta do fim de semana. À Direita, como a outros, só a sobrevivência política os move, daí o registo de barata tonta nas Regiões Autónomas e em Espanha.
Entre o enleio da herança no passado governativo ainda bem presente no nicho eleitoral dos pensionistas e reformados fustigados pela governação PSD/CDS, ao ponto de se converter em acervo eleitoral mínimo do PS, e a inconsistência da oposição perante um Governo com demasiada maioria absoluta para a capacidade de ação que revela, o líder do PSD, Luís Montenegro, refugiou-se na Madeira, na Festa do Chão da Lagoa, para, a toque de poncha e outros vapores, proclamar a extensão do modelo de governação regional ao resto do país. Sem poiso na assertividade política parlamentar ou na competência para aproveitar o amplo desgaste da autoflagelação do atual projeto político e liderança do PS, o PSD procura alma na Madeira, numa governação gasta, geradora de um clima democrático irrespirável, com evidentes abusos no dispêndio de recursos públicos, aliada ao que resta do CDS-PP.
O que o PSD quer para o país não é uma lufada de ar fresco ou até reciclado, é uma rajada de ar saturado, de abuso do poder, de falta de cultura democrática no respeito pela diferença e de sustentadas desculpas com a República para justificar a inação ou a insuficiência das respostas para problemas estruturais de desenvolvimento e justiça social. Como em tantos outros territórios, o turismo e os interesses instalados são que baste para a manutenção dos poderes, dada a configuração cívica por mínimos de exigência, escrutínio e ambição. Montenegro virá da Madeira com a mesma alma de quem sozinho não chega lá, entre a esperança de que o poder caia de podre a tempo contrariar as dinâmicas internas de insatisfação e as dificuldades de afirmação da liderança. Depois de enunciar uma derrota por pouco nas europeias como algo virtuoso e com uma solução governativa nos Açores, com o Chega na equação, que vive enleada em contradições, marasmos e outros cambalachos, o líder do PSD desespera por suplementos de alma. Espanha poderia ser um deles, mas a insuficiência da vitória do PP espanhol torna ainda mais ridícula o exercício de aproveitamento dos resultados na forma tentada. Nem bons ventos, nem bons casamentos.
Ainda assim, os nacionalistas populistas do burgo à primeira oportunidade de narrativa de prova de vida futura, alaparam-se ao VOX em Madrid e à vitória do PP em Espanha para extrapolar influências para Portugal. A venturosa precipitação da proclamação de fins políticos em Portugal é tão desastrada como a expectativa de que o PP fizesse o trabalho acometido ao PSD e à restante direita.
De Espanha, viriam bons ventos para a Direita, como se os protagonistas, o povo e as circunstâncias políticas fossem as mesmas.
De Espanha o PSOE, perdeu as eleições, como em Portugal em tempos idos, mas pode governar assente na soma de partes inconciliáveis nos princípios, mas convergentes na circunstância do poder. Cá como lá, há um sentido de desvio em relação às matrizes partidárias em nome da sobrevivência política que vai deixando lastros de erosão no eleitorado moderado e nos de sempre a pagarem o preço das inconsistências da governação, a classe média, não funcionária pública.
De Espanha, os extremos perderam peso, os nacionalismos reforçaram posições e relevâncias para um vale tudo em espiral até ao incerto.
Nas diferenças, em Portugal como em Espanha, a prevalência da sobrevivência política dos principais protagonistas políticos ditará a lei. O rasgar dos equilíbrios, os desvios das matrizes partidárias e a gestão das circunstâncias em função dos quotidianos, sem visão e sem sentido de foco nos problemas e desafios estruturais, levará a novas tensões, novos desgastes democráticos e a perigosos desencantos dos eleitores. Os experimentalismos da sobrevivência política provaram ser benéficos para alguns, mas são insustentáveis no tempo, pela incapacidade de resposta ao presente, ao interesse geral e ao futuro. Não o perceber, despejando propaganda e dinheiro sobre as realidades, em modo de vale tudo pela manutenção do poder como fim em si mesmo, é adiar o país, dar oportunidade aos populismos e abusar da sorte.
NOTAS FINAIS
O ESTADO DO CONSELHO.
Ajudar o Presidente da República a terminar o mandato com dignidade será cada vez mais um desafio, sobretudo para quem nele votou. Fazer um Conselho de Estado aditivado com alta tensão de crise para depois o interromper por causa da bola, até setembro, enquanto sopram para a imprensa conteúdos das conversas, é indigno da República.
CALADOS DE GEOMETRIA VARIÁVEL.
Os mesmos insurgentes das vestes democráticas em defesa da liberdade de expressão que brandiram o ministro da Administração Interna por ter manifestado incómodo junto da RTP por um cartoon ofensivo da PSP, estiveram caladinhos perante a inviabilização da formulação de uma pergunta de um jornalista ao primeiro-ministro, numa conferência de imprensa em Bruxelas. Fez bem o ministro ao contrariar o que gera mercado eleitoral para o Chega e insatisfação nas forças de segurança, a par das condições individuais e operacionais. Faz mal o silêncio dos zelosos perante a rolha jornalística.
É PRECISO MAIS PARA COMBATER A EXTREMA DIREITA.
Os democratas da palavra ainda não perceberam que o fundamental é deixar de dar pretexto nas realidades para que exista capacidade de atração eleitoral. É que em Espanha, ao invés de Portugal, o VOX passou a ter implantação e poder nas regiões. Deixou de ser só conversa e oportunismo. Por cá, os Açores são o laboratório, com o Chega a ser parte da equação de governação, mesmo com a indiferença geral dos media e dos partidos políticos à esquerda.