Tiro de partida para mudar estatutos da Iniciativa Liberal

Tiro de partida para mudar estatutos da Iniciativa Liberal


Partido irá debater propostas de estatutos na próxima convenção, mas há quem acuse a Comissão Executiva de querer reforçar poderes, deixando membros de fora.


A revisão dos estatutos da Iniciativa Liberal (IL) já está a fazer estalar o verniz junto de alguns membros do partido. O Nascer do SOL sabe que há militantes que consideram essenciais alterações, já que as últimas mudanças têm vindo a «concentrar poder na Comissão Executiva e a retirar poder ou tornar inúteis outros órgãos, nomeadamente o Conselho Nacional e os núcleos territoriais», defende uma fonte ouvida pelo nosso jornal.

A mesma fonte lamenta que, apesar deste processo ter começado no Conselho Nacional, a comissão de revisão estatutária foi criada através da fusão de duas propostas: uma proposta da Comissão Executiva e uma proposta de um grupo de membros da lista T, mas assente na lógica que haveria abertura, partilha e envolvimento com os membros, o que no seu entender, está a ‘fugir’ desse princípio.

«A ideia é que qualquer membro da Iniciativa liberal possa fazer uma revisão estatutária, chegar à convenção e apresentar uma proposta alternativa, mas a partir do momento em que foi criada esta comissão de revisão estatutária, o processo passou a ser desvirtuado e controlado». Mas lembra que a Comissão Executiva precisa de 2/3 para fazer qualquer tipo de alteração estatutária. «Há um conjunto de alterações estatutárias que a Comissão Executiva quer fazer, nomeadamente a ideia de que é preciso delegados para as convenções, o que significa que se a proposta avançar o membro individual vai deixar de ter qualquer tipo de palavra a dizer numa convenção», acrescentando que «se isso avançar há uma quantidade enorme de membros vai sair do partido».

Recorde-se que estas alterações serão debatidas na próxima convenção do partido, mas apesar de ainda não ter data marcada, o nosso jornal sabe que tudo aponta para novembro.

 

Tiro de partida

Miguel Ferreira da Silva, o primeiro presidente da Iniciativa Liberal (IL), e Tiago Mayan, ex-candidato à Presidência da República, são dois dos rostos de um movimento de membros que avançaram, esta terça-feira, com ideias para mudar os estatutos do partido que irão ser abordados na próxima convenção. A estes junta-se ainda José Cardoso que avançou na corrida à liderança da Iniciativa Liberal, em que saiu vencedor Rui Rocha e Hugo Condessa, ex-candidato a líder do núcleo do Porto.

«A realização de uma convenção estatutária é uma oportunidade única de colaborar na construção do projeto político da Iniciativa Liberal», refere este grupo de membros, lembrando que «é uma oportunidade de contribuir e refletir sobre a forma como queremos distinguir a fazer política».

E não hesitam: «Construir um partido liberal requer uns estatutos liberais, coerentes com as ideias que defendemos para o país e que defendam intransigentemente a participação dos membros no centro da ação partidária».

Esta iniciativa pretende ver refletido nos estatutos do partido seis princípios. O primeiro assenta na ideia que de o membro tem de estar no centro da ação partidária. «Acreditamos que um partido liberal deve, à luz dos princípios liberais, colocar o indivíduo, neste caso o Membro do partido, no centro da sua ação política. Queremos na revisão estatutária aportar ideias que reforcem este centrar no Membro, possibilitando maximizar o potencial de cada um».

O segundo passa pela separação de poderes como pilar da democracia. «Afirmamos na nossa Declaração e Princípios de que a Iniciativa Liberal acredita no Estado de Direito, no princípio da separação de poderes», e como tal pretendem que na revisão estatutária sejam reforçadas «as garantias de cumprimento dos valores e práticas democráticas, com uma necessária e efetiva independência e escrutínio dos poderes».

Já o poder perto dos membros e dos eleitores surge como outro dos pilares, lembrando que a «Iniciativa Liberal acredita nas pessoas, na sua capacidade de usar a liberdade com responsabilidade» e a ideia é que na revisão estatutária seja reforçada a descentralização de poderes, «para que se coloque efetivamente o poder próximo dos membros, respeitando o princípio de subsidiariedade».

Outro dos princípios é a transparência e a eficiência como bandeiras liberais. «Defendemos como liberais um estado mais transparente e eficiente e temos por isso que dar o exemplo no próprio partido» e nessa revisão de estatutos defende que deve ser encontrada uma «forma de garantir uma maior transparência e eficiência gerando maior confiança dos membros e dos eleitores».

Estes membros do partido pedem também que o mérito seja uma referência para os métodos eletivos. E justificam: «Acreditamos que o mérito é fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Deve o partido garantir aos membros como o mérito pode encontrar os melhores para cada função» e, dessa forma, deve ser encontrada na revisão estatutária «formas que garantam a aplicação de regras de mérito na escolha e escrutínio dos nossos candidatos».

Por último, o princípio de que o conhecimento é um ativo partilhado. «Consideramos que o conhecimento deve servir de base à construção das propostas políticas garantindo as melhores escolhas em cada momento. Uma boa gestão do conhecimento possibilita a cada membro ser um agente político informado e ativo. Queremos na revisão estatutária encontrar a melhor forma da gestão do conhecimento».

Tal como o Nascer do SOL avançou em janeiro, os estatutos, quando foram feitos, tinham como objetivo serem simples, serem aprovados pelo Tribunal Constitucional (TC) sem problemas e defenderem o partido – que, na altura, tinha poucas pessoas – de qualquer tipo de invasão externa.

A par dos membros que podem apresentar sugestões para a mudança de estatutos – mas para isso precisam de reunir 150 assinaturas – também a Comissão Executiva e o Conselho Nacional podem apresentar alterações.