Turismo: A crescer, com esperança de um verão de sucesso

Turismo: A crescer, com esperança de um verão de sucesso


As taxas de ocupação de norte a sul do país para este verão estão em altas e o turismo só tem motivos para sorrir. O mercado interno continua a ser o mais representativo mas o externo está a recuperar bem.


O verão já começou e é sinónimo de férias para muitos. De norte a sul dos país, o turismo tem motivos para sorrir e se 2022 já tinha sido bom, 2023 pode ser ainda melhor. 

Lisboa

No caso de Lisboa, as perspetivas são as melhores. Pelo menos é isso que diz ao Nascer do SOL Vítor Costa, diretor geral da Associação Turismo de Lisboa (ATL). «Os dados disponíveis do primeiro semestre mostram crescimentos nos principais indicadores relativamente a 2019», detalhando que «o número de hóspedes cresceu mais de 10%, as dormidas cerca de 12% e os proveitos do alojamento mais de 35%». E defende que são «números interessantes porque mostram um crescimento qualitativo, ao contrário que antecipavam alguns profetas da desgraça. Temos crescido bem acima da média nacional e, em comparação com outras cidades europeias, só Copenhaga tem um crescimento similar».

Para o resto da época, as previsões são de «continuidade deste bom desempenho», até porque existe «um fator excecional este verão», a realização da Jornada Mundial da Juventude, «que influenciará a operação, não só no período da sua realização como nos períodos que antecedem e sucedem ao evento». 

O responsável adianta que o mercado externo já superou os dados pré-pandemia e que as nacionalidades que contribuíram para mais dormidas no primeiro semestre «foram os EUA, Espanha, Brasil e França, seguidos de outros mercados relevantes como Reino Unido, Alemanha e Itália. Só a Alemanha apresenta uma descida relativamente a 2019».

Sobre o mercado interno, diz que face a 2019 houve «uma subida de dormidas nacionais de mais de 13%, o que também contribuiu para o bom desempenho». Mas «ao contrário de outras regiões, o mercado interno tem menos peso em Lisboa, embora seja relevante».

Numa altura em que o aumento do custo de vida e a subida das taxas de juro são uma realidade, não podem os turistas abdicar das férias? «Poderá haver alguma retração no mercado nacional em geral mas, não creio que isso tenha grande influência nos resultados globais», diz. 

Algarve

Verão é para muitos sinónimo de rumar ao Algarve e este ano não é diferente. A taxa de ocupação hoteleira «tem estado acima do ano passado desde o início do ano até junho e os últimos dados da AHETA apontam para em junho termos tido 78% de taxas de ocupação na região que representa um acréscimo de 3.2 pontos percentuais face ao ano anterior», começa por dizer João Fernandes, presidente da Região do Turismo do Algarve, detalhando ainda que desde outubro do ano passado que a região tem registado recordes de desembarques de passageiros, «o que quer dizer que do ponto de vista da retoma do mercado externo – que em 2022 não recuperou a totalidade do que tinha sido a sua expressão no melhor ano de sempre, 2019 – este ano já está a superar a procura de 2019». 

Um crescimento que se nota também do ponto de vista do mercado nacional. Mas explica que o número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros na região e para o período que aí vem é mais difícil crescer porque «julho, agosto e setembro têm habitualmente taxas de ocupação já muito elevadas e temos reservas em carteira superiores às que tínhamos em 2019 neste mesmo período». 

Para julho já são esperadas taxas de ocupação próximas dos 84%. Em agosto superiores a 90% e em setembro muito próximas dos 90% se não mesmo nesse valor. Valores que fazem com que seja mais difícil crescer mas «apesar de tudo, as reservas que existem em carteira preveem que haja crescimento mesmo em relação ao maior ano de procura de sempre». 

E recorda que até maio houve um aumento de 36% dos proveitos dos empreendimentos turísticos no Algarve, o que é exatamente aquilo que a região mais ambiciona: «crescer mais em valor do que em procura. Felizmente estamos a crescer nas duas mas também é crescer mais fora da época alta que normalmente já está próxima da capacidade limite». 

No ano passado a região tinha registado um recorde ao nível dos proveitos. Mas há uma diferença. «A procura ainda não estava ao mesmo nível de 2019. O ano passado foi um bom ano do ponto de vista da procura, mas não em termos de procura, apenas em termos de receita. Este ano está a ser em termos de procura e de receita». Os portugueses representam 33% das dormidas, e são, «de facto, o maior número de turistas que acorrem à região». Junta-se depois o Reino Unido que «normalmente anda entre os 22% e os 24% e a seguir os espanhóis com cerca de 7%», diz João Fernandes. Estas três nacionalidades representam mais de 60% em termos da procura.

Sobre se o aumento de preços pode afastar turistas, o responsável diz que «o aumento dos preços que acontece em Portugal tem acompanhado sobretudo os valores da inflação. Ou seja, não tem havido um crescimento do preço especulativo». E que, fazendo a comparação – porque é isso que fazem os turistas também – do Algarve com a sua concorrência do sul da Europa, nomeadamente no sul de França, Espanha, Itália, Grécia, Croácia, «percebemos porquê que, por exemplo, vários operadores internacionais, sobretudo do Norte da Europa, dizem que o Algarve é a melhor escolha do rácio value for money».

Alentejo

O Alentejo também tem motivos para sorrir, o que já vem a acontecer há algum tempo. «As indicações que temos é que as reservas estão acima do ano passado tanto para o mercado nacional como para o mercado externo, embora mais expressivamente para o mercado externo», começa por explicar Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo. «Face a 2022, o aumento de reservas de estrangeiros em percentagem é superior ao número de reservas. Não quer dizer em número absoluto, quer dizer em percentagens, em relação àquilo que eram as reservas de estrangeiros e aquilo que são as reservas de nacionais».

E detalha que outro fator a considerar que impacta mais no turismo interno do que no externo, que é o last minute, reservas de última hora. «Os estrangeiros planeiam a sua deslocação com mais antecedência do que os nacionais. A amostra que temos é muito boa. Continuamos na senda de ultrapassar os valores de 2022, tanto em número de portugueses como de estrangeiros», diz, destacando que «os estrangeiros ainda têm de recuperar alguma coisa relativamente às perdas do tempo covid». Ainda assim, a região já conseguiu ultrapassar os cidadãos americanos e os brasileiros – estes dois mercados são muito importantes para o Alentejo – ultrapassando os números de 2022. 

Para o resto do ano, Vítor Silva diz «que o turismo em Portugal, não só na nossa região, vai atingir novamente números recorde. Tudo o que está a acontecer está acima das previsões mais otimistas que tínhamos. Não conheço ninguém no setor que pensasse que neste momento poderíamos estar como estamos». 

Centro

O presidente do Turismo do Centro, diz que estamos a falar de um período de três meses, o que não permite saber com exatidão a taxa de ocupação, tendo em conta os empreendimentos turísticos que são muitos – mais de mil. Mas é de salientar «que entre os estabelecimentos contactados, 25% têm pelo menos um dos três meses com reservas garantidas acima dos 85%, o que é extremamente positivo nesta fase e com esta antecedência, em especial em relação a agosto e setembro».

Pedro Machado adianta que todos os indicadores «demonstram que o nível das dormidas e o nível dos proveitos dos alojamentos turísticos na região Centro de Portugal superarão os valores ocorridos antes da pandemia» e detalha que os níveis de proveitos, durante a totalidade de 2022, «já foram superiores aos de 2019, que era o ano de referência», sendo que nos primeiros quatro meses de 2023, «a região Centro de Portugal está já a crescer 22%» e por isso «é seguro antecipar que os resultados serão superiores, prosseguindo a tendência de crescimento relativamente aos anos anteriores. O ano de 2023 será, seguramente, o melhor ano de sempre para a atividade turística neste território».

No que respeita a nacionalidades, tradicionalmente, «o mercado nacional sempre foi e continua a ser o que tem maior expressão» nesta região. «A pandemia provocou uma diminuição na procura de turistas estrangeiros que tem vindo a ser esbatida nos últimos meses. A título de exemplo, de janeiro a abril, as dormidas de estrangeiros cresceram 43% em relação ao período homólogo de 2022. Ainda assim, o mercado nacional continua a ser o mais relevante», detalha Pedro Machado que nota, no entanto, que «em alguns estabelecimentos hoteleiros consultados, o principal mercado começa a ser estrangeiro, nomeadamente o espanhol, o norte-americano e o francês». Mas existe também «um crescimento muito relevante» do mercado brasileiro.

Mas o destaque vai para o mercado interno uma vez que o Centro «é o destino preferido de muitos portugueses», o que levou a que a região sofresse menos que outras regiões durante a pandemia. 

Se o aumento do custo de vida vai afetar o turismo, o presidente do Turismo do Centro diz que «é uma evidência que se o valor das famílias portuguesas disponível para o lazer diminuir, isso poderá influenciar a sua intenção de fazer férias ou, pelo menos, da mesma forma que o faziam anteriormente». 

Porto e norte

Já o presidente do Turismo Porto e Norte diz ao nosso jornal que as taxas de ocupação «continuam em franco crescimento em relação a 2022, tendo nos primeiros cinco meses do ano, registado um incremento de 5,4%, a segunda maior subida em termos nacionais». E os dados oficiais conhecidos das dormidas nos primeiros cinco meses deste ano, «representaram uma subida de 27% em relação a 2022 e 22,8% em relação a 2019».

Para o verão, não restam dúvidas: «As perspetivas são bastante animadoras e apesar de em 2022 termos tido o melhor verão de sempre, as expectativas são de superamos essa performance, isto de acordo com as reservas já efetuadas nas Unidades de Alojamento da região», defende Luís Pedro Martins.

No que a nacionalidades diz respeito, o responsável detalha que o mercado externo recuperou e ultrapassou os valores pré-pandemia e os valores de 2022, ano recorde. Os espanhóis «continuam em maioria, sendo seguido pelo mercado francês e americano, este último com subidas exponenciais» E acrescenta: «No geral, o mercado externo já recuperou, sendo que existem alguns mercados com ligeiras retrações, como é o caso do brasileiro, muito devido à diminuição dos voos disponíveis. Em contrapartida, os mercados americano e canadiano têm registado subidas muito consideráveis».

Para manter está a tendência da preferência dos portugueses «até porque os dados que temos até ao momento, demonstram que as dormidas do mercado nacional estão a crescer em excelente ritmo no Porto e Norte. Uma tendência de crescimento que, curiosamente, teve início na pandemia e que perdura». E dá números: «Neste momento em termos nacionais e de janeiro a maio, no indicador das dormidas de residentes, somos a região com maior número de dormidas, cerca de 1.800 mil dormidas de turistas nacionais, registando um crescimento de 10,9% em relação a 2022».

E o custo de vida e aumentos das taxas de juro «são notícias e aspetos que têm sempre algum peso e são prejudiciais para o setor do turismo» mas neste momento o Porto e Norte ainda não sente essa retração. «Mas é expectável que esta forte tendência de crescimento, que temos registado, possa diminuir caso esta situação não se inverta», confessa.