Europeu Sub 19. Dores de crescimento no “apagão” coletivo


Portugal chegou a impressionar no Campeonato da Europa de Sub 19 com um futebol organizado, ofensivo e capaz de marcar golos. Foi tudo isso que faltou na final frente à Itália.


A seleção nacional venceu os quatro jogos anteriores, tendo goleado esta mesma Itália (5-1) na fase de grupos e a Noruega (5-0) nas meias-finais. Voltou a encontrar a seleção transalpina na partida decisiva, só que desta vez foi tudo muito diferente e perdeu o jogo que ditou o novo campeão europeu. A única derrota da época surgiu na pior altura.

A exigência da final era grande. Antes do jogo, o selecionador Joaquim Milheiro mostrava confiança nos miúdos que iam disputar o jogo mais importante da sua ainda curta carreira. A vontade de ganhar era grande, só que do outro lado estava uma equipa que, durante muito tempo, pareceu ser mais adulta, e foi superior no plano tático e técnico.

A boa gestão das expectativas junto dos mais novos foi fundamental na primeira fase da competição, onde mostrou ser uma equipa com classe, habilidosa e bem organizada. Contudo, no grande palco da final vimos uma seleção bem diferente, para pior, algo nervosa, sem conseguir pressionar e a falhar passes. Portugal mostrou demasiado respeito pelos italianos e andou muito tempo atrás da bola, e quando não se tem bola não se consegue jogar e muito menos ganhar. Depois da demonstração de superioridade na fase de grupos, esperava-se nova exibição de gala, mas o inesperado “apagão” no jogo mais importante comprometeu o trabalho até então realizado.

 

A ver jogar

A Itália foi mais forte na primeira parte em termos técnicos e físicos, controlou o jogo desde o início, e teve capacidade para anular os portugueses, que estiveram sempre desligados do jogo. O golo que decidiu o vencedor surgiu, naturalmente, aos 18 minutos. A seleção nacional reagiu no segundo período, só que não foi suficiente para virar o resultado. Conseguiu ligar o seu jogo, mas não criou verdadeiras ocasiões de golo, as duas grandes oportunidades para empatar surgiram já nos descontos. À medida que o final do jogo se aproximava, a Itália foi-se encolhendo e começou a defender com uma linha de cinco elementos, típico do futebol italiano… até nas camadas jovens. A Itália conqusitou o segundo título europeu na categoria de Sub 19 e novamente à custa dos portugueses. Apesar da desilusão, foi uma experiência incrível para esta geração de miúdos que sai de Malta com o título de vice-campeões da Europa e com outras finais para conquistar. Não deu para ganhar, mas o talento português saiu valorizado neste Europeu.

Um resultado que o selecionador Joaquim Milheiro considerou injusto “penso que, o mínimo, era termos ido a prolongamento”, afirmou, admitindo que: “Temos a noção que não entrámos com a mesma competência no jogo. Não conseguimos pressionar e eles foram criando oportunidades. Após os 30 minutos da primeira parte começámos a ser os donos do jogo e a criar oportunidades. Estou extremamente orgulhoso e honrado por ter orientado jogadores com esta ambição, determinação e com o amor com que jogam por Portugal”.

Apesar de serem vice-campeões europeus, a derrota deixou marcas nos jovens jogadores, como admitiu o selecionador “vai custar muito nos próximos dias, mas faz parte do processo de aprendizagem. Queremos crescer com uma cultura de vitória, mas temos de saber ganhar e perder. Os jogadores cresceram muito e vão sair desta adversidade, desta dor, mais fortes e mais bem preparados para o futuro. De certeza que vão ter muito sucesso, porque ninguém os vai parar”, salientou o selecionador.

Gustavo Sá, o jogador mais experiente da seleção, admitiu dificuldades e considerou o resultado injusto “sabíamos que ia ser um jogo complicado. A Itália entrou melhor que nós no jogo. Tentou assumir o jogo. Marcou um golo e procurámos dar a volta. Desta vez não conseguimos marcar. Não foi o desfecho que merecíamos. Demos tudo”.

Foi a 12.ª participação de Portugal na fase final de um Campeonato da Europa de Sub 19 e a sexta presença na final. Pela terceira vez a seleção nacional defrontou a Itália no jogo que dita o campeão da Europa. Perdeu em 2003 (0-2) e venceu em 2018, num jogo emocionante que ficou resolvido apenas no prolongamento (4-3). Jota foi fundamental ao marcar dois golos e Trincão e Pedro Correia marcaram outro. Esse é único título conquistado por Portugal nesta competição. 

 

Escola de talento

Chegar à final foi a grande vitória de Joaquim Milheiro, que construiu uma seleção muito coesa e com grande espírito de equipa. Foi mais uma oportunidade para mostrar o excelente trabalho realizado nos escalões de formação em Portugal ao longo da década e que, em 2022, foi reconhecido pela UEFA com a atribuição do troféu Maurice Burlaz, que premeia as melhores seleções de formação dos últimos três anos na Europa.

A equipa que esteve em Malta tem jogadores de muito talento, isso deve-se ao excelente trabalho realizado pelas academias dos clubes portugueses que forneceram jogadores, a saber: FC Porto (6), Sporting (5), Benfica (3), Braga (2), Estoril (1) e Famalicão (1). 

Grande parte dos 20 jogadores escolhidos por Joaquim Milheiro têm experiência nos escalões superiores e há, inclusive, três com experiência de primeira liga: Gustavo Sá, com 21 jogos realizados pelo Famalicão, Gonçalo Esteves, quatro jogos pelo Estoril, e Rodrigo Ribeiro, dois jogos pelo Sporting. A Liga Revelação, destinada a jovens até aos 23 anos, é o principal fornecedor de jogadores à seleção de Sub 19, com nove jogadores, segue-se a Liga 2, com seis futebolistas, e a Liga 3, com quatro atletas. Há também jogadores que passaram pelas equipas B de Benfica, FC Porto, Sporting e Braga, onde ganharam uma rodagem importante. De registar ainda a presença de três jogadores que atuam no estrangeiro, caso de Carlos Borges (Manchester City), Herculano Nabian (Empoli) e Yanis da Rocha (Troyes). A experiência de todos eles foi fundamental para os resultados conseguidos pela equipa nacional. Uma coisa é certa, esta geração mostrou ter talento, qualidade e competência, e com mais experiência pode perfeitamente conquistar títulos no futuro.