Mais um membro do governo foi considerado arguido, obrigando-se a pedir a demissão, a décima terceira em 15 meses de vida desta maioria absoluta, socialista de género. Como tal vem acontecendo mês a mês, vai-se acentuando para muitos a ideia de que não há medicina que possa valer a um governo nascido com tantas mazelas. Um nado-morto não ressuscita, nem uma sucessão de governozitos constitui uma governação.
Também assim ia pensando, quando casualmente encontrei uma fotografia tirada junto da figueira sagrada de Anuradhapura, no Sri Lanka, nascida de uma estaca retirada da figueira debaixo da qual Buda se abrigou em Bodhgaya, no nordeste da Índia na noite de lua cheia do quarto mês do ano lunar e jurou que dali não sairia enquanto não atingisse a iluminação final. Recorda-se que essa estaca foi levada para Anuradhapura por discípulos de Buda no ano 249 a.C. e constitui a mais antiga árvore do mundo plantada pelo homem, dizem.
Uma figueira que respira uma absoluta serenidade, um daqueles lugares onde se sente um encanto singular e indelével e me lembrou que, seguindo Buda, não devíamos ser precipitados nos nossos juízos sem neles ter pensado maduramente, e me alertou para reflectir se tão notória série de governantes acidentados não configuraria algum genial desígnio preconcebido a bem da nação. Os génios e os líderes políticos não se regem pelo raciocínio comum.
E assim, debaixo de uma galambeira, claramente sem o encanto e simbolismo da figueira sagrada de Anuradhapura, fui impelido a procurar, à luz dos ensinamentos das 4 verdades budistas, o significado e a explicação de tão excêntricos episódios na vida de membros do nosso governo, lembrado de que toda a moeda tem duas faces e só em Sodoma é que não havia nem um justo que a poupasse à destruição.
À medida que a reflexão progredia e a iluminação me aclarava a mente, fui abandonando uma a uma as posições que erroneamente sustentava, ao ponto de um súbito relâmpago inundar de luz a minha mente e ver então, bem iluminada em dez grandes razões, a maldade de julgar precipitadamente pelo seu valor aparente as atitudes do governo e dos governantes socialistas.
A primeira é que só se pode julgar o que existe; ora se o governo de ontem não é o de hoje e o de hoje não será seguramente o de amanhã, não há governo para julgar.
A segunda é que os governos democráticos devem retratar o país real; ora se no país há diariamente cidadãos arguidos, mal seria que um governo verdadeiramente representativo e socialista não tivesse um stock de membros arguidos e arguíveis, imagem do país.
A terceira é que se há membros do governo porventura desadequados à função, tal não se deve a eles próprios, nem aos critérios de quem os escolhe, mas às lacunas catálogo que reúne os requisitos a cumprir e de que preencheram todos as condições.
A quarta é que se trata de uma forma de testar o vigor da aplicação da lei aos órgãos soberanos; com um governo de membros liofilizados nunca se saberia se as normas funcionavam.
A quinta é que, dispondo apenas de governantes bacteriologicamente puros, nunca o 1º Ministro poderia cumprir em plenamente o seu lema de dar à justiça o que é da justiça.
A sexta é que assim se atinge o exclusivo e incontestado lugar de honra da lista de records do Guinness no que respeita ao maior número de demissões no menor tempo de governação.
A sétima é permitir uma elevada rotação entre os membros do governo, em ordem a não criar rotinas indesejáveis
A oitava é formar in job boys profissionais sem terem que perder tempo em estruturas intermédias ou ganhar vícios fora do sector público e partidário.
A nona, a mais importante de todas, é aquela que o leitor quiser
Por fim, a décima, muito particular, foi aquela que me fez passar da fase do sofrimento de criticar o governo para ascender ao gozo supremo de lhe ver as virtudes mais ocultas. Atingi assim o nirvana. Não o budista, mas o socialista!
Economista e Gestor
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
pcardao@gmail.com