Gold Cup. Golpada americana

Gold Cup. Golpada americana


Com uma história abaixo de medíocre no futebol internacional, os Estados Unidos agarram-se com unhas e dentes ao campeonato que é seu.


PORT-OF-SPAIN – Os tobaguenhos estão ainda um bocado zonzos depois de terem sido esmagados pelos Estados_Unidos no último jogo da fase de grupos (0-6) da 17.ª edição da Gold Cup da Confederação da América do Norte Central e Caraíbas disputado na passada segunda-feira, no mesmo dia que o Qatar de Carlos Queiroz (convidado especial a participar no torneio) cometeu a proeza inesperada de vencer o México por 1-0.

A Gold Cup é a maior competição para seleções desse pedaço de mundo que vai do Canadá a Barbados, com um ror de ilhas pelo meio à mistura com os países pequenos da América Central. Foi criada em 1991 com o ligeiro pormenor de todas as suas edições terem sido disputadas nos Estados Unidos (embora, tal como este ano acontece com o Canadá, tenha havido casos de coorganização). Um forte motivo para, à moda da Golpada Americana do filme de David O. Russell, os Estados Unidos, com uma história mais do que medíocre no futebol mundial (limitam-se a umas meias-finais no primeiro Mundial de sempre, no Uruguai, em 1930), irem enchendo as suas vitrinas de taças (sete ao todo), dividindo triunfos com o México (8) e deixando a que sobra para o Canadá.

O que não se discute é que a Gold Cup é a prova mais importante da CONCACAF e dá acesso à Taça das Confederações, servindo a Liga das Nações de fase preliminar para se atingir os jogos decisivos. Neste domingo jogam-se os quartos-de-final e, como de costume, México e Estados Unidos já garantiram a qualificação. (E, já agora, o Qatar também!).

 

História

A CONCACAF nasceu da união das duas confederações que existiram na América Central e do Norte até 1961 – a Confederação da América do Norte e a Confederação do Caribe. E não tardou a pôr mãos à obra organizando o Campeonato de Naciones que servia também de qualificação para a fase final do Campeonato do Mundo. Ora, este Campeonato de Naciones foi inventado um bocado em cima do joelho e revelou carências organizativas capazes de dar cabo da paciência do próprio Job. Mas foi preciso esperar trinta anos para que a restruturação fosse levada a cabo com o aparecimento da Gold Cup. Por razões logísticas, os Estados Unidos foram os anfitriões da primeira edição – três anos mais tarde receberam a fase final do Campeonato do Mundo. A primeira edição contou com oito finalistas, apurados através do extinto CONCACAF Championship (agora Liga das Nações) e os US of A bateram as Honduras na final após desempate por grandes penalidades.

Com certa naturalidade, a fase final da competição foi crescendo: passou a 9 finalistas, depois a 10, em seguida a 12 e, finalmente, aos atuais 26. A Federação dos Estados Unidos não esteve pelos ajustes e tratou de se impor de tal forma sobre a CONCACAF que o torneio, que deveria ser organizado igualmente por outras federações, só por cinco vezes deu espaço a que alguns dos jogos não fossem disputados nos EUA – 1993, EUA/México; 2003, EUA/México; 2015, EUA/Canadá; 2019, EUA/Jamaica/Costa Rica; 2023, EUA/Canadá. Não há dúvida que os americanos têm sido, à moda das nossas peladinhas de infância, uns verdadeiros foções. Ainda assim, é o México que soma o maior número de conquistas. E, depois de vários anos, os três maiores países da América do Norte conseguiram ir ainda mais longe e organizar o próximo Mundial – que é 90% disputado nos Estados Unidos. Foção que é foção não perdoa.

Outro pormenor que distingue a Gold Cup do Campeonato da Europa, por exemplo, é que, desde 1996, se tornou hábito convidar uma seleção de outra Confederação para disputar a fase final. O primeiro convidado foi o Brasil que perdeu a final com o México (0-2). Dois anos mais tarde, de novo o Brasil que se ficou pelo terceiro lugar. Em 2002 veio a Coreia do Sul e ficou em quarto. Em 2004 voltou o Brasil para perder nova final com o México. Há dois anos estreou-se o Qatar e ficou em quarto. Agora é esperar para ver o que faz a nova seleção de Carlos Queiroz. Para já está na berra.