Oxalá assim não seja


Há legítimas e fundadas razões para preocupação com a organização das jornadas da juventude e a vinda do Papa.


Nota prévia: Grande parte dos reformados e aposentados vão receber um aumento intercalar nos próximos dias. Há, no entanto, excluídos. Uns porque são pobres e velhotes, como os ferroviários da “Caixa1927”, que todos os anos são mais espoliados. Outros porque ganharam bem e não fugiram às suas obrigações. São iniquidades de sinal contrário. Mais umas entre tantas que a senhora que arvoraram em ministra da Segurança Social, vinda do turismo, é incapaz de resolver. Mesmo contando com o bónus do ano passado, a reposição está longe de cumprir a lei. Nem abrange o subsídio de férias. O foguetório vai ser enorme da parte do governo e do mago ilusionista António Costa, o campeão europeu do saque fiscal e da governação de paleio.

 

1. Aos poucos vai-se verificando que estamos a improvisar demais na organização das Jornadas Mundiais da Juventude, ficando fora do objetivo quantitativo. O tal milhão e meio de peregrinos não será atingido. O número de inscritos está aquém do esperado; há menos voluntários do que o estimado; não há o entusiasmo expectável; há obras feitas à pressa; há gente que vai desertar de Lisboa; há grupos profissionais chantagistas e antipatrióticos a ameaçar com greves; há nota de que se estão a inscrever migrantes que vão tentar aproveitar para ficar na Europa; há preocupação pela falta de segurança e de assistência médica; há bombeiros a assegurar que nunca foram informados e envolvidos; há dúvidas sobre o plano de mobilidade que é crucial; há uma óbvia dificuldade em trazer participantes latino-americanos por falta de uma rede ferroviária com Espanha e por não existir um aeroporto funcional. Há ainda o problema da saúde do Papa Francisco. É provável que a tradicional sorte nacional faça com que tudo corra relativamente bem. Mas a pujante imagem mundial que se pretendia dar não deve suceder. Um evento destes também tinha um objetivo de retorno económico que, claramente, não vai existir. Basta ver que muitos dos jovens peregrinos até estão na expectativa de terem acesso a alimentação gratuita. Finalmente, há que perguntar quantos turistas de segmento social mais alto e, portanto, gastadores deixarão de encher, durante dias essenciais para o negócio, os nossos melhores hotéis e restaurantes, perdendo-se uma apreciável receita. Atuámos, novamente, em cima do joelho sem planeamento minucioso. Há falhas um pouco por todo o lado. Faz lembrar o Euro 2004, que ainda hoje pagamos. As JMJ arriscam-se a ser uma oportunidade perdida. Raramente um articulista terá escrito sobre um tema, desejando tanto estar enganado e ser desmentido pelos factos. Mas que ninguém se deixe enganar pela ilusão mediática de um sucesso que o tempo e a contabilidade pedem vir a desmentir.

 

2. Admitindo que seja verdade que as avestruzes escondem a cabeça na areia para não se confrontarem com certas coisas, então os humanos são uma espécie afim, mas sem penas. Vem isto a propósito da covid. Há notícias dispersas de que ocorrem muitas infeções. Estranhamente não há estatísticas sobre os efeitos da doença em internamentos e eventuais mortes. E muito menos há nota da profilaxia que vai ser necessária lá para o outono, sobretudo para proteger os mais velhos, designadamente os que vivem em lares. Em tempo de canícula o tema não é aliciante para a imprensa, mas é no verão que se prepara o inverno. É certo também que não se pode estranhar a falta de orientação, dada a situação de caos que se verifica na Direção-Geral de Saúde. Ali, a demissionária Graça Freitas continua denodadamente a assegurar, desde 1 de janeiro, a gestão corrente, enquanto não é nomeado o seu substituto, permitindo-lhe reformar-se. Se a covid bater forte no regresso do frio, podemos dar-nos mal. Oxalá assim não seja.

 

3. No PSD, é tempo de balanço, aproveitando o fim da sessão legislativa. Montenegro tem-se afirmado de forma sistemática, segura, mas não tão fulgurante como alguns esperavam. O facto, porém, é que a direita cresceu e pode constituir-se numa alternativa, cuja centralidade é o PSD. Há um caminho a fazer que não passa apenas pelo líder. A seu lado falta, como acentuam fontes próximas de Belém, um conjunto de personalidades sólidas, experientes e que possam amanhã integrar um governo em pastas nucleares. Mas falta, sobretudo, uma voz forte no parlamento. Em geral, toda a gente no partido, na política e no mundo mediático concorda que a liderança de Miranda Sarmento não é consistente e não catapulta a imagem do PSD. Sarmento também não tem conseguido criar uma dinâmica vencedora no grupo parlamentar, onde se verifica até que há deputados que se auto afastam, como foi manifestamente o caso de Batista Leite, uma figura de rara qualidade. Sarmento, ou alguém por ele, tem sinalizado interesse em ser candidato a eurodeputado, embora esteja obviamente excluída a hipótese de liderar a lista. A questão crucial é saber se o próprio Sarmento, que tem consciência das suas limitações oratórias e políticas (é um homem dos números), vai optar por sair e promover uma eleição para a liderança do grupo ou se quer manter-se até às europeias. É óbvio que Montenegro tem uma opinião, a qual não dará publicamente, assim como nada fará para promover a substituição de Miranda Sarmento em que está obrigado a dizer que confia. Como se não bastassem estes problemas óbvios, juntou-se mais uma polémica quando Miranda Sarmento vetou uma ida ao parlamento de um médico que chefia a sua mulher, no Santa Maria. A imposição caiu mal, mesmo com a desculpa de não ter sido previamente informado. E pior caíram afirmações de cobardia dirigidas aos colegas de bancada que alegadamente o criticam sem dar a cara. Pode ser verdade. Mas Miranda Sarmento está enganado na substância. Qualquer jornalista com meia dúzia de anos de parlamento lhe dirá, se for rigoroso, que ele não tem pedalada para aquilo. É uma introspeção que compete ao próprio. Mas a verdade está patente na circunstância absurda de Sarmento ter de ser socorrido por idas ao parlamento de Leitão Amaro para falar à imprensa, o que não faz sentido, visto não ser deputado. É no meio deste contexto que se tem falado de nomes alternativos, a fim de pôr termo ao mal-estar que reina no grupo parlamentar. Um deles é Coelho Lima, um homem de Rui Rio que poderia concitar apoios no grupo formado pelo ex-líder e cujos adeptos não escondem a ambição. Seria uma espécie de vingança fria sobre Montenegro. Nas manobras de bastidores, alguém decidiu pôr na rua o nome de Paulo Rios como potencial candidato. Rios é, hoje, o deputado mais mediático do PSD e as suas intervenções na CPI da TAP viraram mesmo um notável separador sonoro da Rádio Observador, explicando satiricamente a cena de pancadaria no ministério de Galamba. Tem sido um dos mais aguerridos no discurso de oposição, sobrepondo-se facilmente ao Chega e à Iniciativa Liberal quando fala. Pelo caráter e perfil já demonstrados, deduz-se que Rios nunca avançará se Sarmento se mantiver e, certamente, sem o aval de Montenegro. Numa coisa sociais democratas e analistas estão de acordo: é importante que o grupo parlamentar seja uma força dinâmica para uma afirmação decisiva da alternativa. Assim foi no tempo em que Montenegro o liderou e era a grande bengala de Passos Coelho. E, hoje, não está a ser. De todo!

 

4. Saber sair e saber voltar à vida política é essencial. Já se viu isso com muitas figuras. Guterres deixou a liderança do PS e é secretário-geral da ONU. Cavaco esteve quase dez anos quieto após ter perdido a corrida para Belém e depois ocupou o palácio dois mandatos. Santana Lopes é outro exemplo de sobrevivência, mas há muitos outros. Dado como morto, Pedro Nuno Santos (PNS) estará fresquinho como uma alface a partir de hoje no parlamento. Não pode cair na tentação de fazer declarações bombásticas constantes. A palavra terá de ser gerida cuidadosamente, até mesmo no programa de comentário que uma televisão lhe propôs. Mas há uma coisa que é certa: PNS foi o único governante que tentou, mesmo, resolver o problema do aeroporto que condiciona o futuro de Portugal, começando pela viabilidade da TAP. Isso ninguém lhe tira. PNS tem, pois, uma estrada para percorrer.

Oxalá assim não seja


Há legítimas e fundadas razões para preocupação com a organização das jornadas da juventude e a vinda do Papa.


Nota prévia: Grande parte dos reformados e aposentados vão receber um aumento intercalar nos próximos dias. Há, no entanto, excluídos. Uns porque são pobres e velhotes, como os ferroviários da “Caixa1927”, que todos os anos são mais espoliados. Outros porque ganharam bem e não fugiram às suas obrigações. São iniquidades de sinal contrário. Mais umas entre tantas que a senhora que arvoraram em ministra da Segurança Social, vinda do turismo, é incapaz de resolver. Mesmo contando com o bónus do ano passado, a reposição está longe de cumprir a lei. Nem abrange o subsídio de férias. O foguetório vai ser enorme da parte do governo e do mago ilusionista António Costa, o campeão europeu do saque fiscal e da governação de paleio.

 

1. Aos poucos vai-se verificando que estamos a improvisar demais na organização das Jornadas Mundiais da Juventude, ficando fora do objetivo quantitativo. O tal milhão e meio de peregrinos não será atingido. O número de inscritos está aquém do esperado; há menos voluntários do que o estimado; não há o entusiasmo expectável; há obras feitas à pressa; há gente que vai desertar de Lisboa; há grupos profissionais chantagistas e antipatrióticos a ameaçar com greves; há nota de que se estão a inscrever migrantes que vão tentar aproveitar para ficar na Europa; há preocupação pela falta de segurança e de assistência médica; há bombeiros a assegurar que nunca foram informados e envolvidos; há dúvidas sobre o plano de mobilidade que é crucial; há uma óbvia dificuldade em trazer participantes latino-americanos por falta de uma rede ferroviária com Espanha e por não existir um aeroporto funcional. Há ainda o problema da saúde do Papa Francisco. É provável que a tradicional sorte nacional faça com que tudo corra relativamente bem. Mas a pujante imagem mundial que se pretendia dar não deve suceder. Um evento destes também tinha um objetivo de retorno económico que, claramente, não vai existir. Basta ver que muitos dos jovens peregrinos até estão na expectativa de terem acesso a alimentação gratuita. Finalmente, há que perguntar quantos turistas de segmento social mais alto e, portanto, gastadores deixarão de encher, durante dias essenciais para o negócio, os nossos melhores hotéis e restaurantes, perdendo-se uma apreciável receita. Atuámos, novamente, em cima do joelho sem planeamento minucioso. Há falhas um pouco por todo o lado. Faz lembrar o Euro 2004, que ainda hoje pagamos. As JMJ arriscam-se a ser uma oportunidade perdida. Raramente um articulista terá escrito sobre um tema, desejando tanto estar enganado e ser desmentido pelos factos. Mas que ninguém se deixe enganar pela ilusão mediática de um sucesso que o tempo e a contabilidade pedem vir a desmentir.

 

2. Admitindo que seja verdade que as avestruzes escondem a cabeça na areia para não se confrontarem com certas coisas, então os humanos são uma espécie afim, mas sem penas. Vem isto a propósito da covid. Há notícias dispersas de que ocorrem muitas infeções. Estranhamente não há estatísticas sobre os efeitos da doença em internamentos e eventuais mortes. E muito menos há nota da profilaxia que vai ser necessária lá para o outono, sobretudo para proteger os mais velhos, designadamente os que vivem em lares. Em tempo de canícula o tema não é aliciante para a imprensa, mas é no verão que se prepara o inverno. É certo também que não se pode estranhar a falta de orientação, dada a situação de caos que se verifica na Direção-Geral de Saúde. Ali, a demissionária Graça Freitas continua denodadamente a assegurar, desde 1 de janeiro, a gestão corrente, enquanto não é nomeado o seu substituto, permitindo-lhe reformar-se. Se a covid bater forte no regresso do frio, podemos dar-nos mal. Oxalá assim não seja.

 

3. No PSD, é tempo de balanço, aproveitando o fim da sessão legislativa. Montenegro tem-se afirmado de forma sistemática, segura, mas não tão fulgurante como alguns esperavam. O facto, porém, é que a direita cresceu e pode constituir-se numa alternativa, cuja centralidade é o PSD. Há um caminho a fazer que não passa apenas pelo líder. A seu lado falta, como acentuam fontes próximas de Belém, um conjunto de personalidades sólidas, experientes e que possam amanhã integrar um governo em pastas nucleares. Mas falta, sobretudo, uma voz forte no parlamento. Em geral, toda a gente no partido, na política e no mundo mediático concorda que a liderança de Miranda Sarmento não é consistente e não catapulta a imagem do PSD. Sarmento também não tem conseguido criar uma dinâmica vencedora no grupo parlamentar, onde se verifica até que há deputados que se auto afastam, como foi manifestamente o caso de Batista Leite, uma figura de rara qualidade. Sarmento, ou alguém por ele, tem sinalizado interesse em ser candidato a eurodeputado, embora esteja obviamente excluída a hipótese de liderar a lista. A questão crucial é saber se o próprio Sarmento, que tem consciência das suas limitações oratórias e políticas (é um homem dos números), vai optar por sair e promover uma eleição para a liderança do grupo ou se quer manter-se até às europeias. É óbvio que Montenegro tem uma opinião, a qual não dará publicamente, assim como nada fará para promover a substituição de Miranda Sarmento em que está obrigado a dizer que confia. Como se não bastassem estes problemas óbvios, juntou-se mais uma polémica quando Miranda Sarmento vetou uma ida ao parlamento de um médico que chefia a sua mulher, no Santa Maria. A imposição caiu mal, mesmo com a desculpa de não ter sido previamente informado. E pior caíram afirmações de cobardia dirigidas aos colegas de bancada que alegadamente o criticam sem dar a cara. Pode ser verdade. Mas Miranda Sarmento está enganado na substância. Qualquer jornalista com meia dúzia de anos de parlamento lhe dirá, se for rigoroso, que ele não tem pedalada para aquilo. É uma introspeção que compete ao próprio. Mas a verdade está patente na circunstância absurda de Sarmento ter de ser socorrido por idas ao parlamento de Leitão Amaro para falar à imprensa, o que não faz sentido, visto não ser deputado. É no meio deste contexto que se tem falado de nomes alternativos, a fim de pôr termo ao mal-estar que reina no grupo parlamentar. Um deles é Coelho Lima, um homem de Rui Rio que poderia concitar apoios no grupo formado pelo ex-líder e cujos adeptos não escondem a ambição. Seria uma espécie de vingança fria sobre Montenegro. Nas manobras de bastidores, alguém decidiu pôr na rua o nome de Paulo Rios como potencial candidato. Rios é, hoje, o deputado mais mediático do PSD e as suas intervenções na CPI da TAP viraram mesmo um notável separador sonoro da Rádio Observador, explicando satiricamente a cena de pancadaria no ministério de Galamba. Tem sido um dos mais aguerridos no discurso de oposição, sobrepondo-se facilmente ao Chega e à Iniciativa Liberal quando fala. Pelo caráter e perfil já demonstrados, deduz-se que Rios nunca avançará se Sarmento se mantiver e, certamente, sem o aval de Montenegro. Numa coisa sociais democratas e analistas estão de acordo: é importante que o grupo parlamentar seja uma força dinâmica para uma afirmação decisiva da alternativa. Assim foi no tempo em que Montenegro o liderou e era a grande bengala de Passos Coelho. E, hoje, não está a ser. De todo!

 

4. Saber sair e saber voltar à vida política é essencial. Já se viu isso com muitas figuras. Guterres deixou a liderança do PS e é secretário-geral da ONU. Cavaco esteve quase dez anos quieto após ter perdido a corrida para Belém e depois ocupou o palácio dois mandatos. Santana Lopes é outro exemplo de sobrevivência, mas há muitos outros. Dado como morto, Pedro Nuno Santos (PNS) estará fresquinho como uma alface a partir de hoje no parlamento. Não pode cair na tentação de fazer declarações bombásticas constantes. A palavra terá de ser gerida cuidadosamente, até mesmo no programa de comentário que uma televisão lhe propôs. Mas há uma coisa que é certa: PNS foi o único governante que tentou, mesmo, resolver o problema do aeroporto que condiciona o futuro de Portugal, começando pela viabilidade da TAP. Isso ninguém lhe tira. PNS tem, pois, uma estrada para percorrer.