Eu, passarinho


O Caribe é uma coleção interessantíssima de ilhas e, ao contrário do que possa dizer, na sua maioria têm uma personalidade muito própria. 


Tenho andado em voos sucessivos há dez dias entre continente e ilhas, umas maiores outras menores, sempre vítima dos atrasos da Caribbean Airlines, aviõezinhos pequeninos próprios para distâncias curtas, uns a jacto e outros a hélice, e não tenho muito do que me queixar. Atrasados, sim, mas funcionais. O Caribe é uma coleção interessantíssima de ilhas e, ao contrário do que possa dizer, na sua maioria têm uma personalidade muito própria. Vem lá do norte, das Bermudas, numa linha de quilómetros e quilómetros até Barbados, a que fica mais a sul, e começo a pensar seriamente em, um destes dias, vir a passarinhar de umas para as outras, Bahamas, Turcos e Caicos, Cuba, a Hispaniola (dividida entre Haiti e a República Dominicana), Kitts e Nevis, São Bartolomeu, Aruba, Antígua, Jamaica e Porto Rico, Santa Lúcia e Granada, esse assustador gérmen do comunismo internacional com o exagero de 348km2 e 124 mil habitantes que, por precaução (talvez mesmo medo), foi invadido pelo Exército dos Estados Unidos em 25 de outubro de 1983, na Operação Fúria Urgente, levada a cabo por um génio militar e estratégico chamado Ronald Reagan. Ainda ontem sobrevoei Granada e confirmo que tudo parece calmo cá de cima, mas não garanto que não existam embriões de destabilização engendrado por Putin, isto no caso de ele ainda ser comunista. Tive vontade de pedir ao piloto que me deixasse transmitir pelo rádio: “All quiet in Granada Front!” O Mundo respiraria melhor. Suspiros se soltariam de tanto alívio. Em vez disso recordei-me daquele poema do Mário Quintana que até veio a propósito como todos os poemas: “Todos esses que aí estão/Atravancando o meu caminho/Eles passarão/Eu passarinho…” Por isso voo com ilhas no rés-do-chão. Ilhas a perder de vista das janelas destes aviõezinhos de papel vegetal num fundo de azul-impossível.

Eu, passarinho


O Caribe é uma coleção interessantíssima de ilhas e, ao contrário do que possa dizer, na sua maioria têm uma personalidade muito própria. 


Tenho andado em voos sucessivos há dez dias entre continente e ilhas, umas maiores outras menores, sempre vítima dos atrasos da Caribbean Airlines, aviõezinhos pequeninos próprios para distâncias curtas, uns a jacto e outros a hélice, e não tenho muito do que me queixar. Atrasados, sim, mas funcionais. O Caribe é uma coleção interessantíssima de ilhas e, ao contrário do que possa dizer, na sua maioria têm uma personalidade muito própria. Vem lá do norte, das Bermudas, numa linha de quilómetros e quilómetros até Barbados, a que fica mais a sul, e começo a pensar seriamente em, um destes dias, vir a passarinhar de umas para as outras, Bahamas, Turcos e Caicos, Cuba, a Hispaniola (dividida entre Haiti e a República Dominicana), Kitts e Nevis, São Bartolomeu, Aruba, Antígua, Jamaica e Porto Rico, Santa Lúcia e Granada, esse assustador gérmen do comunismo internacional com o exagero de 348km2 e 124 mil habitantes que, por precaução (talvez mesmo medo), foi invadido pelo Exército dos Estados Unidos em 25 de outubro de 1983, na Operação Fúria Urgente, levada a cabo por um génio militar e estratégico chamado Ronald Reagan. Ainda ontem sobrevoei Granada e confirmo que tudo parece calmo cá de cima, mas não garanto que não existam embriões de destabilização engendrado por Putin, isto no caso de ele ainda ser comunista. Tive vontade de pedir ao piloto que me deixasse transmitir pelo rádio: “All quiet in Granada Front!” O Mundo respiraria melhor. Suspiros se soltariam de tanto alívio. Em vez disso recordei-me daquele poema do Mário Quintana que até veio a propósito como todos os poemas: “Todos esses que aí estão/Atravancando o meu caminho/Eles passarão/Eu passarinho…” Por isso voo com ilhas no rés-do-chão. Ilhas a perder de vista das janelas destes aviõezinhos de papel vegetal num fundo de azul-impossível.